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dezembro 16, 2004

Soneto dum coito mediano 

Os princípios morais ligados ao simbolismo da sexualidade são apenas uma questão de reflexo condicionado, fruto das regras e valores que ditam as diferenças culturais entre indivíduos do mesmo grupo.

A sua partilha deve tender para os tornar naturais, deixando assim na minha perspectiva de ser relevante a questão moral.

Resta pois a questão estética e o seu simbolismo.

Identificar os traços que permitem definir uma obra como arte fazem parte de um processo cognitivo, com o qual aprendo a caracterizar a natureza simbólica de uma obra, se tem ou não valor estético.

Este caminho é solitário, e mais difícil, pois consiste no desafio de saber justificar o meu juízo de valor sobre se um texto ou uma imagem são ou não obscenos, são ou não arte.

Vamos lá, então:



Até poder ter-te onde já canta
Espero que sejas a última jogada
E um pouco mais húmida que a outra, amada
(Ai, ainda é a esperança que na cova nos planta!)

Vejo que vai dar. Espero: devagar
Pensar nisso é doravante sina
Boa: menos amor, menos vaselina
E ela dá-me agora o coiro a suar

Com um cavalo, ai, foste conferir-me
Há cinco minutos, estou-me a cagar!
E enquanto cismo, para digerir e vir-me
Não sou o Emílio, que estás a chamar

Estou-me nas tintas, da mais alta gama
Com suor do rosto me faço a cama


Poema de Bertolt Brecht, gravura de Pablo Picasso

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