<$BlogRSDURL$>

janeiro 29, 2007

ressuscitar, nas ondas do mar 



Ao Mar

Água, sal e vontade – a vida!
Azul – a cor do céu e da inocência.
Um lenço a colorir a despedida
Da galera da ausência…

Mar tenebroso!
Mar fechado e rugoso
Sobre um casto jardim adormecido!
Mar de medusas que ninguém semeia,
Criadas com mistério e com areia,
Perfeitas de beleza e de sentido!

Vem a sede da terra e não se acalma!
Vem a força do mundo e não te doma!
Impenitente e funda, a tua alma
Guarda-se no cristal duma redoma.

Guarda-se purificada em leve espuma,
Renda da sua túnica de linho.
Guarda-se aberta em sol, sagrada em bruma,
Sem amor, sem ternura e sem caminho.

O navio do sonho foi ao fundo,
E o capitão, despido, jaz ao leme,
Branco nos ossos descarnados;
Uma alga no peito, a flor do mundo,
Uma fibra de amor que vive e treme
De ouvir segredos vãos, petrificados.

Uma ilusão enfuna e enxuga a vela,
Uma desilusão a rasga e molha;
Morta a magia que pintava a tela,
O mesmo olhar de há pouco já não olha.

Na órbita vazia um cego ouriço
Pica o silêncio leve que perpassa…
Pica o novo feitiço
Que nasce do final de uma desgraça.

Mas nem corais, nem polvos, nem quimeras
Sobem à tona das marés…
O navio encalhado e as suas eras
Lá permanecem a milhentos pés.

Soterrados em verde, negro e vago,
Nenhum sol os aquece.
Habitantes do lago
Do esquecimento, só a sombra os tece…

Ela que és tu, anónimo oceano,
Coração ciumento e namorado!
Ela que és tu, arfar viril e plano,
Largo como um abraço descuidado!

Tu, mar fechado, aberto e descoberto
Com bússolas e gritos de gajeiro!
Tu, mar salgado, lírico, coberto
De lágrimas, iodo e nevoeiro!


Miguel Torga




Etiquetas: , ,


Read more!

janeiro 26, 2007

Íntimas ligações implicam envolvimento afectivo 


O sax alto Lee Konitz, que tive oportunidade de ouvir em Março de 2006 na Culturgest, como bem notou o Nuno do A Forma do Jazz, convidou um dos mais virtuosos pianistas da actualidade, Brad Mehldau (a cujo concerto de anteontem no CCB não tive possibilidade assistir - ao que parece - o público terá correspondido melhor que em Fevereiro de 2006, pois Mehldau é um músico extraordinário e merece as melhores plateias) e também o contrabaixo Charlie Haden (que salvo erro em 1990 no Coliseu dialogou com Mestre Carlos Paredes), juntaram-se em 1997 e 1999 para dois concertos, de que resultaram Alone Together e Another Shade of Blue.





















Ouvir estes três discos é um puro exercício de comunhão espiritual. Sem exagero, pois não há música mais livre que o jazz.

Etiquetas:


Read more!

janeiro 24, 2007

Nomeações para os Óscares 

Este ano, aqui o laureado António decidiu não publicar fotos das candidatas a melhor actriz principal; Só se fosse a Raimunda, mas com um nome destes... o melhor é despachar isto e entregar a coroa a Sua majestade, que merece ser rainha por uma noite!

Relativamente à escolha para actor principal, a tarefa está facilitada, pois nesta sala não se penduram posters de gajos; E como não vi nenhum dos filmes pelos quais os senhores estão nomeados, não tenho candidato. Talvez seja o ano de sorte deste rapaz que, já em The Departed - Entre Inimigos mostrou estar muito crescido como actor.

Mark Wahlberg, nomeado precisamente por The Departed - Entre Inimigos para melhor actor secundário (que aconteceu ao génio?), não deve ofuscar o excelente Alan Arkin em Little Miss Sunshine - Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos - uma agradabilíssima surpresa nas nomeações para melhor filme, esta genial comédia!

Com uma concorrência destas, seria pedir demais ver a menina Olive receber o prémio para melhor actriz secundária! Por isso, para não haver reclamações, o boneco deve ir para a Amélia!
Um boneco que também fica (muito) bem entregue é o de melhor filme a The Departed. E não é por ser um filme grande...
O Apocalypto não foi nomeado para melhor filme em língua estrangeira? Estranho.

And the Oscar for Best Director goes to... ....!

Etiquetas:


Read more!

janeiro 22, 2007

Nominalmente 



Este cais onde nominalmente a corda foi deslocada

fazia-me pensar que eu dissera a uma das vozes
que era uma junção. Mas vi partir à mesma distância
quilha, proa e centro. Começou o afastamento.
Aperfeiçoo as imagens que distinguem os lugares.
Água dispersiva, equidistância do sol, ambivalência
das margens. Cruel grito tradicional da gaivota,
no ponto onde adeja e pesca. Cada sentimento
acumula demasiadas referências para uma respiração.


Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007)

Etiquetas: ,


Read more!

janeiro 20, 2007

Postais de Sintra - Graffiti 































Etiquetas: ,


Read more!

janeiro 19, 2007

Ligações perigosas 

Bathsheba no banho - Rembrant, 1654


O Rei David comete adultério com a mulher de Uriah - a quem tenta em vão assassinar para esconder a sua culpa - mas é acusado pelo profeta Nathan. Como punição Divina, a criança morre ao fim de pouco tempo.


Porque deixou Ele que esta mulher tivesse uma criança nove meses dentro de si?
Misteriosos são os caminhos do Senhor...


Read more!

janeiro 16, 2007

O melhor tributo a um músico 

É ouvir a sua obra.


Michael Brecker (1949 - 2007)



Michael Brecker Tenor Sax / Pat Metheny Guitars / Herbie Hancock Piano
Charlie Haden Bass / Jack Dejohnette Drums / With Special Guest: James Taylor vocals

Etiquetas:


Read more!

janeiro 15, 2007

Três anos de 

Luminescências


Read more!

janeiro 14, 2007

Postais de Portugal 

Estação da CP em Famalicão, 1912


Em 30 de Dezembro de 1873 foi constituída a “Companhia do Caminho de Ferro do Porto à Póvoa” que recebe o trespasse da concessão feita por decreto de 19 de Junho de 1873 a J. C. Temple Elliot e ao barão de Kesseler, de um caminho de ferro de via reduzida (Senhora da Hora / Póvoa do Varzim / Famalicão).


Estação da CP em Famalicão, 2006


Vila Nova de Famalicão tem oito séculos de história; Recebeu Foral de Dom Sancho I em1205 e foi elevada a cidade em 1985.

Do património histórico-cultural, destaque para as igrejas de Santa Eulália do Mosteiro de Arnoso, Igreja do Mosteiro de Landim e Igreja de Santiago de Antas.

Espalhados pelo concelho existem vestígios do período do Cobre (a mamoa de Vermoim), da Idade do Ferro (os castros nos cimo dos montes) e da ocupação romana (vários marcos miliários e a Villa Romana).






Das muitas casas solarengas dispersas pelo concelho, a que acolheu Camilo Castelo Branco em S. Miguel de Ceide (1864 e 1890), ficou tristemente ligada ao concelho pelo suicídio do escritor no primeiro dia de Junho de 1890, já cego e desesperado. A casa oitocentista que habitava foi recuperada e transformada em Museu em 1954.

Famalicão prepara-se para enriquecer o seu património cultural com a construção de um Centro de Estudos do Surrealismo, que receberá o espólio de Mário Cesariny, doado à Fundação Cupertino de Miranda.



Em Junho realizam-se as Festas Antoninas, célebres pelas rusgas populares e as fogueiras de Santo António.

Etiquetas: ,


Read more!

janeiro 12, 2007

Marriage à-la-mode 



Why should a foolish marriage vow,
Which long ago was made,
Oblige us to each other now
When passion is decay'd?
We lov'd, and we lov'd, as long as we could,
Till our love was lov'd out in us both:
But our marriage is dead, when the pleasure is fled:
'Twas pleasure first made it an oath.

If I have pleasures for a friend,
And farther love in store,
What wrong has he whose joys did end,
And who could give no more?
'Tis a madness that he should be jealous of me,
Or that I should bar him of another:
For all we can gain is to give our selves pain,
When neither can hinder the other.





Neste poema, o dramaturgo John Dryden (1631-1700) utiliza a retórica para questionar os valores morais da sociedade, que obrigam duas pessoas a permanecerem juntas quando já não existe amor.
Para ver as restantes cinco obras série satírica Marriage à-la-mode de William Hogarth (1697-1764), clicar aqui.

Etiquetas: ,


Read more!

janeiro 10, 2007

Et l'aventure commence... 

No Outono de 1925, Hergé começa a trabalhar no jornal Le Vingtième Siècle, interrompendo a colaboração para cumprir o serviço militar nos dois anos seguintes.

No dia 1 de Novembro de 1928 sai o primeiro número do
suplemento juvenil do jornal - Le Petit Vingtième coordenado por Hergé. Com argumento de um dos redactores do jornal, Hergé desenha Les Aventures de Flup, Nénesse, Poussette et Cochonet .

No dia 10 de Janeiro de 1929, inicia-se no Le Petit Vingtième (nº 11) Tintin au pays des Soviets, a primeira de inúmeras aventuras do jovem repórter.



Hergé devint assez vite très polyvalent au sein du XXème siècle, s'occupant de la mise en page, des illustrations et du lettrage. Le directeur, voulant élargir l'audience du journal, décida de créer un supplément destiné aux jeunes. Il se tourna, tout bonnement vers Hergé qui allait se fiancer avec Germaine Kieckens, sa secrétaire. Le 1er novembre 1928, le premier numéro du Petit Vingtième paraissait. La responsabilité du nouveau journal était confiée à Hergé.

Il commença par illustrer les séries paraissant dans le Petit Vingtième, mais vite lassé, il décida de lancer sa propre série. Il reprit ses planches de Totor, en changeant quelques lettres au nom du héros et en lui donnant un nouveau métier : journaliste. Il lui ajoute une houppette et un fox terrier : Milou.
Ayant lu les B.D américaines Bringin up father, Katzenjammer kids et Krazy Cat, Hergé décide de lancer une véritable bande dessinée où dessins et paroles des personnages sont liés.
Tintin apparaît donc pour la première fois le 10 janvier 1929 dans Le Petit Vingtième. Le jeune reporter va partir en voyage au pays des bolcheviques... Hergé livrait deux planches par semaine, sans imaginer les suites que la série aura assez vite.

Etiquetas:


Read more!

janeiro 09, 2007

Os meus filmes, em 2006 - parte II 

Para completar a lista de filmes de 2006, cuja primeira série foi publicada neste post, é mais fácil dizer do que não gostei: O Sentinela, uma charopada! Lady in the Water - A Senhora da Água -de um realizador com uma obra quase imaculada - é uma fábula que não conseguiu fazer-me sentir novamente criança! Do atrevido Marie Antoinette gostei da banda sonora e da rainha adolescente, pas suffisant!

Romance e Cigarros e Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos são as melhores comédias do ano.
Gostei francamente de Tobey Jones em Infame, menos espalhafatoso que Seymour Hoffman em Capote! WTC foi uma desilusão ao lado de Vôo 93, cuja expectativa era bem menor. Uma História de Violência, O Novo Mundo, Três Enterros de um Homem, Munique, Poseidon ( muito melhor que Titanic), Miami Vice, The Departed - Entre Inimigos e Babel completam a dúzia de filmes que mais gostei de ver em 2006.

Se outra utilidade esta posta não tiver, certamente os links farão as delícias de quem gosta de cinema!
Em 2007, gostava de dedicar mais atenção ao cinema europeu já que, de um modo geral, não sou grande entusiasta do asiático.



Poseidon, de Wolfgang Petersen
Pirates of the Caribbean: Dead Man's Chest - Piratas das Caraíbas: O Cofre do Homem Morto, de Gore Verbinski
Lucky Number Slevin - Há Dias de Azar, de Paul McGuigan
Miami Vice, de Michael Mann




Romance & Cigarettes - Romance & Cigarros, o primeiro filme de John Turturro como realizador.
Flight 93 - Voo 93, de Paul Greengrass
The Sentinel - O Sentinela, de Clark Johnson
World Trade Center, de Oliver Stone



Lady in the Water - A Senhora da Água, de M. Night Shyamalan
The Black Dahlia - A Dália Negra, de Brian De Palma
Little Miss Sunshine - Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos, de Jonathan Dayton e Valerie Faris
Marie Antoinette, de Sofia Coppola




The Departed - Entre Inimigos, de Martin Scorsese
007 - Casino Royale, de Martin Campbell
Infamous - Infame, de Douglas McGrath
The Queen - A Rainha, de Stephen Frears




The Holiday - O Amor Não Tira Férias, de Nancy Meyers
Déjà Vu, de Tony Scott
Babel, de Alejandro González Iñárritu

Etiquetas:


Read more!

janeiro 08, 2007

Happy Birthday, Mr Jones! 


David Bowie, que hoje atinge a bonita idade de 60 anos, foi - na fase final enquanto Ziggy Stardust - dos primeiros responsáveis pela decoração das paredes do meu quarto de adolescente, ao lado dos Kiss, Alice Cooper, Led Zeppelin, Black Sabbath e The Who.
Também havia posters relacionados com outro tipo de sensibilidades; Enquanto os de Rock saíam da Bravo alemã, os outros dependiam da playmate do mês.

Etiquetas:


Read more!

janeiro 07, 2007

Oops! 

Taça de Portugal - Atlético Clube de Portugal elimina o Futebol Clube do Porto no Dragão!


Ah pois! Mas jogaram sem o Postiga, o Lucho e o Pepe... assim, também eu!
Ah! O Quaresma falhou um penalti no último minuto!
É preciso azar, bolas!


Read more!

janeiro 04, 2007

crime e castigo 

DEATH OF A NATURALIST, de Seamus Heaney.



All year the flax-dam festered in the heart
Of the townland; green and heavy headed
Flax had rotted there, weighted down by huge sods.
Daily it sweltered in the punishing sun.
Bubbles gargled delicately, bluebottles
Wove a strong gauze of sound around the smell.
There were dragon-flies, spotted butterflies,
But best of all was the warm thick slobber
Of frogspawn that grew like clotted water
In the shade of the banks. Here, every spring
I would fill jampotfuls of the jellied
Specks to range on window-sills at home,
On shelves at school, and wait and watch until
The fattening dots burst into nimble-
Swimming tadpoles. Miss Walls would tell us how
The daddy frog was called a bullfrog
And how he croaked and how the mammy frog
Laid hundreds of little eggs and this was
Frogspawn. You could tell the weather by frogs too
For they were yellow in the sun and brown
In rain.








Then one hot day when fields were rank
With cowdung in the grass the angry frogs
Invaded the flax-dam; I ducked through hedges
To a coarse croaking that I had not heard
Before. The air was thick with a bass chorus.
Right down the dam gross-bellied frogs were cocked
On sods; their loose necks pulsed like sails. Some hopped:
The slap and plop were obscene threats. Some sat
Poised like mud grenades, their blunt heads farting.
I sickened, turned, and ran. The great slime kings
Were gathered there for vengeance and I knew
That if I dipped my hand the spawn would clutch it.

Etiquetas: ,


Read more!

janeiro 01, 2007

Literatura explicativa 

Poema de Ruy Belo, ilustrado pelo último pôr-do-sol de 2006; não é em espinho mas na praia do abano, ao lado do guincho, o que vai dar no mesmo.
O pôr-do-sol é onde quisermos, ou soubermos escolher...


O pôr-do-sol em espinho não é o pôr-do-sol

nem mesmo o pôr-do-sol é bem o pôr-do-sol

É não morrermos mais é irmos de mãos dadas

com alguém ou com nós mesmos anos antes

é lermos leibniz conviver com os medici

onze quilómetros ao sul de florença

sobre restos de inquietação visível em bilhetes de eléctrico

Há quanto tempo se põe o sol em espinho?
Terão visto este sol os liberais no mar

ou antero de junto da ermida?

O sol que aqui se põe onde nasce? A quem

passamos este sol? Quem se levanta onde nos deitamos?

O pôr-do-sol em espinho é termos sido felizes

é sentir como nosso o braço esquerdo

Ou melhor: é não haver mais nada mais ninguém

mulheres recortadas nas vidraças

oliveiras à chuva homens a trabalhar

coisas todas as coisas deixadas a si mesmas

Não mais restos de vozes solidão dos vidros

não mais os homens coisas que pensam coisas sozinhas

não mais o pôr-do-sol apenas pôr-do-sol

Etiquetas: ,


Read more!

This page is powered by Blogger. Isn't yours?