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fevereiro 28, 2005

Uau! What a Night! 


Million Dollar Baby - melhor filme


Clint Eastwood - melhor realizador


Hilary Swank - melhor actriz


Morgan Freeman - melhor actor secundário


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fevereiro 27, 2005

do poeta liberal social avançado.. 

Scène aux quatre personnages, de pablo Picasso

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Excepto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...),

Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa,
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
É estar ao lado da escala social,
É não ser adaptável às normas da vida,
Às normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque têm razão para chorar lágrimas,
E se revoltam contra a vida social porque têm razão para isso supor.

Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-me com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se há uma razão razão exterior para ela?

Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
É ter de pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.

Tudo mais é estúpido como um Dostoievski ou um Gorki.
Tudo mais é ter fome ou não ter que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.

Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lágrimas (autênticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco, àquele
Pobre que não era pobre, que tinha olhos tristes por profissão.

Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.

Eu é que sei. Coitado dele!

Que bom poder-me revoltar num comício dentro da minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.

Não me queiram converter a convicção: sou lúcido.

Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.

Álvaro de Campos

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fevereiro 26, 2005

"Terra de sonho de uma artista" - Jane Eyre vista por Paula Rêgo 

Este conjunto de litografias de Paula Rêgo inspira-se na obra Jane Eyre, An Autobiography, escrita por Charlotte Brontë, e a sua narrativa revela uma concepção de um feminismo interior violento.

O drama psicológico nas suas gravuras é alimentado, por um lado, pelo grito de revolta das suas paisagens mentais libertadoras e por outro pela realidade social, sombria e lúgubre.




Mr. Rochester
da série Jane Eyre, 2002
Litografia 89,5 x 67 cm





Loving Bewick
da série Jane Eyre, 2002
Litografia 87,5 x 63 cm





Night, 2002
Litografia 73 x 54 cm




Scoolroom
da série Jane Eyre, 2002
Litografia 62,5 x 88 cm


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fevereiro 25, 2005

circula por aí que vai haver segundo concerto.. 



Fnac Chiado

8:00 - inscrição na lista de canditatos ao papelinho mágico. O voluntário explica-me que há cerca de 600 bilhetes, cada pessoa pode adquirir 4 e o meu nº de inscrição é o 320! Ah! Eles esperam receber mais bilhetes. Decido ficar.

9:00 - Saí da fila para comprar o Público e A Bola - vá-se lá saber porquê..

9:30 - Primeira contagem desde que cheguei; quem não responde, é excluido.

10:00 - Começa a subida ao calvário.
Para entreter, fiz um concurso: a quem adivinhasse que música tocava no meu celular, oferecia um cafezinho.
Ensaio: Apocalyptica. Acertou um rapaz que deve gostar de Metallica.
Segue-se a música da banda sonora de Kill Bill... demorou mais tempo, mas um rapaz que tinha vindo de Cascais porque lhe disseram que a loja do Cascais-Shopping não iria ter bilhetes para a relva - só em Lisboa, acertou. Vamos lá tomar um café.
Afinal, em Lisboa também não há bilhetes para a relva!

10:30 - O Benfica não jogou um carapau, diz um benfiquista.. A lagartagem é que deve estar contente. Eu ficava contente era se chegasse a minha vez e ainda houvesse bilhetes!
Mas ontem foi difícil. A equipa já está em Alcochete, a ser recuperada por um psicólogo e duas massagistas tailandesas! Depois de ensurdecerem o Ricardo, atirarem 2 isqueiros do F C Porto, 4 baralhos de cartas e uma foto do Sabry.. deve ser dura, a vida de jogador de futebol!
Porra, que está um frio do catarino!

11:00 - O consumo de cerveja começa a diminuir e começam a aparecer umas sandes e uns sumos. Os mais descrentes começam a abandonar a fila, que não pára de aumentar.
Fluxos migratórios, digo eu!

11:15 - Já só há bilhetes de 81 euros. Nova debandada. Pode ser que venham mais bilhetes. És mesmo troll!

11:45 - Algumas pessoas trocam telefonemas, para cruzar informação com outros pontos de venda. Não estou a gostar do que ouço..
Mas esta malta não tem mais que fazer do que estar numa fila e largar 80 euros para ver os U2?!

12:45 - O último bilhete foi vendido ao senhor com mau aspecto que tinha o nº 194.
O pessoal começa a andar em círculos, como os maluquinhos do nº 53 da Avenida do Brasil..
Retiro-me discretamente, pago quase 9 euros de estacionamento e vou almoçar. Cansado!

Depois de ver em Alvalade Zooropa em 93 e PopMart em 97, para que é que eu ainda quero ver U2? Devo estar taralhoco!

Se houver segundo espectáculo, peço o saco-cama emprestado à minha filha..


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Pelo menos uma vez na vida deve ver-se um filme assim! 

Leo Carax é um realizador iluminado e, por vezes, chega até nós um pouco da sua luz, através de grandes momentos de cinema.
É o caso do maravilhoso Les amants du Pont-Neuf!

Paris.
Pessoas sem abrigo vivem em pequenas comunidades, perto da ponte mais velha da cidade, Le Pont-Neuf.



Alex perde os sentidos numa rua movimentada e é atropelado.
De volta ao abrigo, tem como que uma visão: Michèle, uma linda mulher que dorme..
Tem um olho tapado, fruto de um processo degenerativo da visão.
Reconhece-a. É uma pintora originária de uma família burguesa, que decidiu viver na rua e dessa forma depurar a sua arte.



Alex ganha dinheiro a fazer teatro e fogo de rua.

Tornam-se amigo e amantes.



Alex tem um violento acto de ciúmes e é preso como desordeiro.
Michèle, entretanto recuperada da visão, vai visitá-lo e promete que se encontrarão na ponte, quando ele for libertado..



A violência da côr do fogo-de-artifício e do arco do violoncelo, provocam uma estranha sensação de abandono à paixão de Alex - numa explosão de luz, perante os nossos sentidos.
A ressaca da emoção é violenta!

Les amants du Pont-Neuf, de Leo Carax - 1991
Juliette Binoche - Michèle Stalens
Denis Lavant - Alex

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fevereiro 22, 2005

Nada de equívocos.. este filme não é sobre boxe! 

Frankie Dunn é um envelhecido manager de boxe, cuja existência atormentada pela filha ausente o leva todos os dias à igreja.
O seu amigo de longa data Eddie, que perdeu um olho no centésimo nono combate, vive no ginásio e trata da limpeza.
Maggie, uma rapariga de trinta e dois anos, procura um treinador, e crê que Frank é capaz de a ajudar a concretizar o sonho de chegar ao topo.



A narração tranquila e envolvente de Freeman, a elegância e mestria de Eastwood, como realizador, actor e autor da magnífica banda sonora, e "always protect yourself" Swank, fazem de Million Dollar Baby um dos mais belos filmes dos últimos tempos.



Esta comovente história sobre sonhos.. desfeitos.. por realizar..

Merece um grande aplauso no próximo domingo!

Realizador - Clint Eastwood
Clint Eastwood - Frank
Hilary Swank - Maggie
Morgan Freeman - Eddie

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Ele só queria salvar a Pátria! 

No dia das eleições, num gesto de grande patriotismo, o Dr Mário Soares apelou ao voto dos portugueses, e assumiu que estava convencido que o povo daria uma vitória expressiva ao PS.

Com isto arrisca uma multa, entre 50 cêntimos e cinco euros (!), que, com o maior sorriso do mundo- diz que pagará com gosto!

Ao pretender transmitir a ideia que está senil, o Dr Mário Soares sabe que a impunidade de que goza neste país, lhe permite estas leviandades.

Se o ridículo matasse..


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fevereiro 20, 2005

A sociedade por quotas declarou falência! 



Vem aí a ROSA CHOQUE, S.A.!

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Resultados finais 



As projecções da RTP-Universidade Católica só acertaram no resultado da CDU!
Que flop!



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Sondagem RTP 



BE.. 10 A 14 deputados?!
Se a sondagem da RTP se confirmar, começo a ficar preocupado com o futuro..

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Sondagem SIC 



Estamos todos mais aliviados...
Eu já fui fazer um chichizinho!

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Postais de Lisboa 

Voltamos ao Chiado, local de paragem obrigatória para tomar uma bica, seja na mítica Brasileira, ou na Bénard com muito mais cachet e melhor serviço, diga-se de passagem!
Uma das recordações desta zona do coração e alma da cidade, são os bons aromas; daí valer a pena falar de um pequeno estabelecimento, que é a Casa de Cafés A Carioca.


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Situada entre o Chiado e o Bairro Alto - já na Rua da Misericórdia, frente à igreja dos Italianos, desde há quase 70 anos que tem sabido escolher as melhores origens do chá e do café, refinando a arte de torrar o grão e de misturar os lotes.
Quem passa à porta, dificilmente resiste à tentação de entrar, atraído pelo forte aroma do café, que apela aos sentidos.. não é, filhinha?

Na altura em que foi fundada, em 1936, estava vocacionada a servir chás, cafés e mercearias finas, para alimentar os bons vícios de uma elite aristocrática e burguesa, entretida a acompanhar à distância a guerra civil espanhola.
Era a época da Lisboa romântica e elegante, esta em que A Carioca rivalizava com A Brasileira, onde afluiam políticos, artistas, intelectuais..
Os teatros de S. Carlos, da Trindade e o Grémio Literário alimentavam então as tertúlias, sempre com as livrarias por perto; entre um café ou chá se alimentava o espírito com que se ia comentando a situação política ou as aventuras dos fidalgos.


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Hoje de manhã, a caminho da Fnac do Chiado, não resisti a entrar e pedi ao sr Gonçalves que me deixasse tirar uma foto à atracção principal da loja - o velho moinho de café, da marca Hobart, em vermelho garrido, com chaminé de alumínio, junto ao qual os lotes de café são guardados em sacos de sarapilheira.
O processo de moagem faz-se através de dois grandes discos de pedra no seu interior”, explicou-me.
O balcão de madeira, perpendicular à porta de entrada, tem atrás de si um armário com dez caixas em madeira para chá, ornamentadas com figuras chinesas em alto relevo.
Por cima, está uma balança típica, os boiões de rebuçados.. e as minha gomas preferidas!



Na montra, bules e chaleiras alternam com cafeteiras de loiça inglesa, máquinas de balão, etc.
A Carioca comercializa os melhores Robustas de Angola, em especial o Amboím, todos os Robustas da Costa do Marfim e do Uganda; As famosas arábicas de Timor, os melhores lotes da América do Sul – Brasil, Colômbia e Costa Rica.
Todos os produtos são embalados em papel com a marca da casa, registada em 1945.

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fevereiro 18, 2005

Morra o Dantas, morra! Pim! 



Se os indecisos se abstiverem só mais um bocadinho, conseguem esta coisa extraordinária: ultrapassar a Coligação PPD-PSD/CDS-PP, e assim a Abstenção passa a ser a segunda força viva do nosso país!
Eh pá, vá lá! Indecidam-se!



Após o país entrar em choque, Sua Seneridade oferecerá aos livres abstencionistas um cocktail Absolut Shock-Tech, com sumo de laranjas - dissolvidas pelo próprio, nos jardins do Palácio de Belém!
A bem do regime..



Seguir-se-á um After-Hours, onde a Irmandade dos Vermelhitas - ao som de Vangelis, assistirá ao gesto simbólico de ver frei Paulo e frei Santana depositar o acordo pré-nupcial na Torre do Tombo!



E depois, quando acordarmos, avistaremos o Novo Mundo!
Ao longe!
Pim-pam-pum!



pp: os quadros foram retirados daqui!

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Lisboa e o Tejo.. e tudo! 


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Nada me prende a nada.
Quero cincoenta coisas ao mesmo tempo.
Anceio com uma angustia de fome de carne
O que não sei que seja –
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstratas e necessarias.
Correram cortinas por dentro de todas as hypotheses que eu poderia ver da rua.
Não ha na travessa achada o numero de porta que me deram.

Accordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exercitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta – até essa vida...

Comprehendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tedio que é até do tedio arroja-me á praia.

Não sei que destino ou futuro compete á minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do Sul impossivel aguardam-me naufrago;
Ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra cousa, nem cousa nenhuma...
E, no fundo do meu espirito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos ultimos da alma, onde memóro sem causa
(E o passado é uma nevoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longinquas
Onde supuz o meu ser,
Fogem desmantelados, ultimos restos
Da ilusão final,
Os meus exercitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cohortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
Cidade da minha infancia pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...
Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos, todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligadas por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fóra de mim?

Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo – Lisboa e Tejo e tudo –,
Transeunte inutil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruido dos ratos e das tabuas que rangem
No castello maldito de ter que viver...

Outra vez te revejo.
Sombra que passa atravez de sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...

Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho magico em que me revia identico,
E em cada fragmento fatidico vejo só um bocado de mim –
Um bocado de ti e de mim!...

Álvaro de Campos
Lisbon Revisited (1926)

Não se seguiu o texto publicado em Contemporânea, em Junho de 1926, por excessivamente defeituoso, mas o testemunho dactilografado que lhe parece ter servido de base.

Teresa Rita Lopes, Álvaro de Campos - Livro de Versos (Edição Crítica). Lisboa, Editorial Estampa - 3ª edição, 1997.



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fevereiro 17, 2005

Que dilema! 


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fevereiro 16, 2005

Qual é o discurso politicamente correcto? 

A Fundação Calouste Gulbenkian promoveu, em Outubro de 2003, uma conferência sobre as Relações entre a Europa e os EUA.

A intervenção, politicamente... de Durão Barroso, então Primeiro-Ministro, pode ser lida aqui!

Aqui fica um excerto da palestra politicamente... de Alain Minc, numa análise prospectiva das relações entre os dois lados do Atlântico.. e não só!


Sob um certo ponto de vista, os Estados Unidos são, actualmente, uma espécie de síntese do novo mundo. Se me é permitido, utilizarei as seguintes palavras: Ontem, os Estados Unidos eram um país ocidental, mas hoje são um «país universal», uma espécie de súmula do mundo inteiro e não unicamente a expressão do antigo mundo ocidental.
[...]
A que se assemelham os Estados Unidos quando os indianos se tornarem tão poderosos como os judeus, os chineses ficarem tão influentes como os WASP - white anglo-saxon people, e os hispânicos detiverem tanta influência política como os irlandeses católicos?
Claramente, as elites dos Estados Unidos mudarão.
Basta observar quem se encontra, actualmente, nas universidades americanas e saberemos, com exactidão, quem comandará o país daqui a cinco, dez ou vinte anos.
Será possível imaginar os Estados Unidos com os indianos, os chineses e os hispânicos nas posições de liderança? Será este o mesmo país e terá os mesmos laços com a Europa? Funcionará o multiculturalismo como actualmente funciona?
[...]
Esses não são os Estados Unidos com os quais a Europa se sente tão directamente ligada.
Quais serão, então, os seus valores?
Partilharemos a democracia e o mercado. Felizmente, esses valores são cada vez menos ocidentais e mais universais.
Todavia, à excepção desses, teremos a longo prazo uma visão comum sobre Deus? Sobre o lugar da religião nas nossas sociedades, sobre os direitos humanos ( incluindo o aborto e a pena de morte), sobre o habeas corpus, sobre a liberdade ou mesmo sobre o equilíbrio de poder?
A Europa é e será, se este termo pode ser utilizado, o reservatório dos velhos valores ocidentais; os Estados Unidos serão o laboratório dos novos valores universais.
É também evidente que as diferenças estão associadas às nossas opiniões públicas. Na Europa, infelizmente, o pacifismo significa antiamericanismo e anticapitalismo.
[...]
Até agora existia uma velha base de hábitos, história e valores comuns nas relações transatlânticas. Manter-se-á a longo prazo?
Penso ser óbvio que o multiculturalismo vai funcionar e que as minorias americanas serão profundamente americanizadas, mas essa multiculturalização alterar-se-á com os novos costumes, e alterar-se-á tanto mais quanto as minorias mudarem.
[...]
Enquanto «país universal», os Estados Unidos terão preocupações universais e parece óbvio que, a longo prazo, a China será o seu principal adversário, o seu principal complexo industrial, o seu primeiro credor, e, evidentemente, o seu principal concorrente estratégico.
[...]
Claramente, haverá uma América com fortes elites chinesas, sino-americanas, que terão de negociar com a China.
Depois existitrá, é claro, a Índia. O futuro complexo mundial de serviços: porque é que a indústria vai para a China e os serviços para a Índia? Devido à língua inglesa. Quando se trabalha na indústria dos serviços é necessário falar inglês; ao invés, quando se trabalha numa fábrica, é preciso falar a língua local.
[...]
A Rússia continuará no jogo, menos como potência nuclear e mais como potência petrolífera.
Obviamente, as áreas eruptivas ( Médio Oriente, Ásia Central), com ligações ao terrorismo, preocuparão os Estados Unidos. E, no que respeita à ameaça terrrorista, esta afecta todos os países e não só os países ricos. A mesma ameaça não cria um interesse comum unicamente entre os Estados Unidos e a Europa, mas entre os Estados Unidos e o resto do mundo.
[...]

Quais serão as nossas preocupações em comparação com as dos Estados Unidos?
Na realidade, enquanto europeus, teremos três preocupações: A primeira será a imigração, a tornar-se uma obsessão crescente para países como a Itália, Espanha e Portugal. Países de emigração até agora, terão de aprender a ser países de imigração, como o foi sempre a França. A segunda, está associada à primeira e relaciona-se com a demografia e a questão das pensões, que se tornará para nós uma questão central. A terceira liga-se à imprecisão das nossas fronteiras. Desconhecemos onde se encontram as mesmas a leste e a sul.
Parece, portanto, claro, que não nos consideramos como uma potência mundial!
[...]
Já não teremos inimigos comuns. O terrorismo não é um inimigo comum: é um bode expiatório comum, insuficiente para fortalecer uma aliança de longa duração.
Creio, por isso, que vivemos, ou viveremos, realmente, em dois mundos diferentes.
[...]

in Conflito e Cooperação nas Relações Internacionais
Relações Transatlânticas Europa-EUA


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fevereiro 15, 2005

World Press Photo 2004 


World Press Photo of the Year
Na foto, tirada pelo fotógrafo
indiano Arko Datta - Reuters, em Tamil Nadu no dia 28 Dezembro, uma mulher indiana chora um parente morto no tsunami asiático.



Spot news stories - segundo lugar
Yuri Kozyrev da Time Magazine estava no local onde ocorreu o ataque terrorista à escola de Beslan, na Ossétia do Norte - Rússia




Spot news singles - segundo lugar
Um jovem looter nas ruas de Port-au-Prince - Haiti, foi captado pelo fotógrafo israelita Shaul Schwarz - Agência Corbis, em Fevereiro de 2004.



General news stories - segundo lugar
Paolo Pellegrin da Agência Magnum cobriu o funeral do líder palestino Yasser Arafat




General news singles - segundo lugar
David Robert Swanson do The Philadelphia Inquirer retrata um soldado americano durante uma emboscada no Iraque, em 6 Abril de 2004.




Daily life singles - segundo lugar
Foto de uma menina a jogar basquetebol em Ohio. A menina pertence à velha congregação alemã Irmãos Baptista.
Por Krisanne Johnson - US News & World Report




Nature singles - primeiro lugar
Jahi Chikwendiu do The Washington Post captou esta imagem durante uma tempestade de areia no Chade.




Arts and entertainment stories - primeiro lugar
Foto tirada num desfile de moda primaveril, pelo sueco Lars Tunbjörk - Agence Vu.


A visitar, a edição de 2004 da World Press Photo - Centro Cultural de Belém, Lisboa.
De 8 de Setembro a 2 de Outubro.

Fontes: BBC e DN

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fevereiro 14, 2005

Isto está bonito, está..! 


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fevereiro 13, 2005

Verei por ti 



Unamuno e Gustavo Adolfo Bécquer representam dois dos expoentes da poesia espanhola do final do século XIX. Inicia-se com eles o Modernismo, que em Portugal principiou com a revista Orpheu (em 1915).
Contudo, Miguel de Unamuno não encaixava no Movimento; exaltava a pátria, a sua Espanha que lhe doía.

Verei por ti ilustra a grandeza espiritual deste poeta.


«Desconheço-me», dizes, mas olha, tem por certo
que a conhecer-se começa o homem quando clama
«Desconheço-me» e chora;
a seus olhos então o coração aberto
da sua vida encontra a verdadeira trama;
é então sua aurora.

Não, ninguém se conhece, até que o toca
a luz de uma alma irmã que do eterno chega
e seu fundo ilumina;
teu íntimo sentir floresce em minha boca,
tens a vista em meus olhos, vê por mim, minha cega,
vê por mim e caminha.

«Estou cega», dizes-me; apoia-te em meu braço
e alumia com teus olhos nossa áspera via
perdida no futuro;
verei por ti, confia; tua vista é este laço
que a ti me atou; meu olhar a garantia
de um caminhar seguro.

Que importa que os teus não vejam o caminho,
se dão luz aos meus e me iluminam todo
com seu tranquilo lume?
Apoia-te em meus ombros, confia-te ao Destino,
verei por ti, ó cega, afastar-te-ei do lodo,
levar-te-ei ao cume.

E ali, na luz envolta, abrir-se-ão teus olhos,
verás como esta senda atrás de nós, distante,
se perde na distância
e nela desta vida os míseros restolhos,
e aos reflexos do céu abrir-se-nos, radiante,
o que hoje é esperança.

Miguel de Unamuno (1864-1936)
in Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea
Selecção e tradução de José Bento

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fevereiro 12, 2005

O Inimigo do Serviço Público 

A definição de Televisão de Serviço Público só tem nexo se integrada num contexto mais amplo da discussão em torno do melhor modelo, nas sociedades contemporâneas.
A noção clássica de Serviço Público é baseada numa concepção normativa de bem e numa visão suspeita das práticas comportamentais do cidadão comum, enquanto membro de uma organização política e social.
A questão reside em saber se tal visão é legítima numa sociedade Democrática Liberal, onde o indivíduo é sublimado e nenhuma noção de bem ou de correcto deve ser imposta à comunidade!



O satírico O Inimigo Público atingiu o ponto de maturidade que lhe permite sair do suplemento semanal das sextas-feira do jornal Público e estreou esta noite na SIC, demonstrando mais uma vez a capacidade criativa da irreverente equipa das Produções Fictícias.

Da primeira edição, destaco a peça sobre o novo avião A380 e a declaração de Bin Laden.

Notícia da pivô Ana Rita Clara:
- Quem também se mostrou satisfeito com mais esta mostra de vitalidade da indústria aeronáutica, foi o Director Geral da Al-Qaeda, o terrorista anteriormente conhecido por Osama Bin Laden, que, em declarações surgidas no site da Al Jazeera e no site do Bloco de Esquerda, os dois órgãos oficiais da Al-Qaeda, manifestou todo o seu contentamento:

Declaração de Bin Laden:

- Allah aprova esse condor dos ares que pode transportar mais de 800 infiéis.
Com 70 metros de comprimento, 64 metros de envergadura, 20 metros de altura, 560 toneladas de peso, o novo A 380 é um sonho para a organização, melhor do que 70 virgens da Look Elite, um sonho doce como uma tâmara e como a Marisa Cruz.
Com um mínimo de 850 mortos já assegurados, não temos mais necessidade de atacar arranha-céus, podendo focar a nossa atenção em alvos simbólicos e artísticos do Ocidente, como a Torre Eiffel, a Torre de Londres, o Guggenheim de Bilbao, o Parque Mayer, o espólio de vestidos do Augustus, a biblioteca do Pacheco Pereira na Marmeleira, a colecção de perucas do grupo Seiva Trupe e a pila do Cargaleiro que está no Parque Eduardo VII.
Já temos 10 mártires que se prontificaram para morrer por
Allah , dirigindo o novo A 380 ou lendo o último romance de Lídia Jorge.
No paraíso vão encontrar 70 jovens que tecnicamente são virgens, pois têm ainda o hímen intacto, somente tendo praticado sexo oral, anal e masturbado os seus inúmeros parceiros. Hoje em dia é o que se arranja!


A não perder!

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fevereiro 10, 2005

Porque há coisas que gostava de saber.. 



Bucólica

A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.


Miguel Torga

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fevereiro 09, 2005

O espaço não público 



[...]Trinta anos depois do estabelecimento da democracia, como funciona o espaço público em Portugal?
A constatação imediata é a de que não existe. Está por fazer a história do que, nesse plano, se abriu e quase se formou durante os anos «revolucionários» do pós-25 de Abril, para depois se fechar, desaparecer e ser substituído pelo espaço dos media que, em Portugal, não constitúi um espaço público.
Como definir esse espaço aberto de expressão e de trocas, essencial para que a liberdade e a criação circulem num campo social? Determinemos primeiro como se manifesta a sua ausência na sociedade portuguesa.
Não há debate político: nem sequer na televisão que cria um espaço artificial, com regras predeterminadas que limitam a espontaneidade das intervenções, o acaso, e a participação desse «fora» que faz toda a riqueza da expressão pública. Nos jornais e na rádio, os debates confinam-se a troca de opiniões e argumentos entre homens políticos, sempre de um partido, visto que no mundo da política não há lugar para independentes, ou entre comentadores, pretensos «opinion makers» que dialogam constantemente entre si, em círculo fechado. Muitos dos políticos são também comentadores, fazem o discurso e o metadiscurso, o que suscita um circuito abafador e redundante: sempre as mesmas vozes e a mesma escrita nos mesmos tons, com os mesmos argumentos, com o mesmo plano de sentido, como se as ideias políticas se reduzissem a um empirismo sociológico de estratégias partidárias.
Se a política é «chata» em Portugal, se os portugueses estão «fartos dos políticos», isso não se deve apenas à sua incompetência, mas também ao próprio universo do debate político em que nada de novo, de inovador, de diferente, de forte, de original e estimulante surge para abalar os espíritos. O discurso político tem por função legitimar políticas ou projectos políticos e o metadiscurso confirmar essas legitimações. Confirmar, confirmar: eis para que se acumulam toneladas de argumentos e de pseudo-ideias mais ou menos subtis.
Quanto a uma abertura para fora – quando o peso da Europa Comunitária nas decisões do governo português é maior do que nunca – pode perguntar-se qual é a presença da questão europeia nos «debates» políticos nacionais?
Não há espaço público porque este está nas mãos de umas quantas pessoas cujo discurso não faz mais do que alimentar a inércia e o fechamento sobre si próprios da estrutura das relações de força que elas representam. Os lugares, tempos, dispositivos mediáticos e pessoas formam um pequeno sistema estático que trabalha afanosamente para a sua manutenção.

José Gil
Portugal, Hoje - O Medo de Existir
Relógio d'Água, 3ª edição, 2005

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