janeiro 27, 2005
a minha relação com a água
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O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,Alberto Caeiro
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Cresci a olhar para o Tejo.
Brincava com ele.. divertia-me a atravessar o rio nos cacilheiros, para lá.. para cá..
Ia atrás do senhor Augusto, que vendia gelados num triciclo.. e pacientemente esperava que o dia lhe corresse bem para que viesse a recompensa.. o que eu gostava da baunilha!
Mas também tenho saudades do Côa, da ribeira seca no verão, onde os animais procuravam pequenos charcos para matar a sede..
Tomávamos banho com água pela cintura, no local onde há pouco tempo submergiram as famosas garrafas de vinho, cuja produção foi vendida para o estrangeiro.. enfim!
A infernal subida, debaixo de um sol abrasador até ao alto da ladeira, à entrada de Foz-Côa - lembro-me, fazia-nos descer novamente numa correria suicida a ver quem chegava primeiro à água..
Tinha a idade certa para essas brincadeiras.. mas hoje repeti-las-ia com prazer!
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