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fevereiro 16, 2005

Qual é o discurso politicamente correcto? 

A Fundação Calouste Gulbenkian promoveu, em Outubro de 2003, uma conferência sobre as Relações entre a Europa e os EUA.

A intervenção, politicamente... de Durão Barroso, então Primeiro-Ministro, pode ser lida aqui!

Aqui fica um excerto da palestra politicamente... de Alain Minc, numa análise prospectiva das relações entre os dois lados do Atlântico.. e não só!


Sob um certo ponto de vista, os Estados Unidos são, actualmente, uma espécie de síntese do novo mundo. Se me é permitido, utilizarei as seguintes palavras: Ontem, os Estados Unidos eram um país ocidental, mas hoje são um «país universal», uma espécie de súmula do mundo inteiro e não unicamente a expressão do antigo mundo ocidental.
[...]
A que se assemelham os Estados Unidos quando os indianos se tornarem tão poderosos como os judeus, os chineses ficarem tão influentes como os WASP - white anglo-saxon people, e os hispânicos detiverem tanta influência política como os irlandeses católicos?
Claramente, as elites dos Estados Unidos mudarão.
Basta observar quem se encontra, actualmente, nas universidades americanas e saberemos, com exactidão, quem comandará o país daqui a cinco, dez ou vinte anos.
Será possível imaginar os Estados Unidos com os indianos, os chineses e os hispânicos nas posições de liderança? Será este o mesmo país e terá os mesmos laços com a Europa? Funcionará o multiculturalismo como actualmente funciona?
[...]
Esses não são os Estados Unidos com os quais a Europa se sente tão directamente ligada.
Quais serão, então, os seus valores?
Partilharemos a democracia e o mercado. Felizmente, esses valores são cada vez menos ocidentais e mais universais.
Todavia, à excepção desses, teremos a longo prazo uma visão comum sobre Deus? Sobre o lugar da religião nas nossas sociedades, sobre os direitos humanos ( incluindo o aborto e a pena de morte), sobre o habeas corpus, sobre a liberdade ou mesmo sobre o equilíbrio de poder?
A Europa é e será, se este termo pode ser utilizado, o reservatório dos velhos valores ocidentais; os Estados Unidos serão o laboratório dos novos valores universais.
É também evidente que as diferenças estão associadas às nossas opiniões públicas. Na Europa, infelizmente, o pacifismo significa antiamericanismo e anticapitalismo.
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Até agora existia uma velha base de hábitos, história e valores comuns nas relações transatlânticas. Manter-se-á a longo prazo?
Penso ser óbvio que o multiculturalismo vai funcionar e que as minorias americanas serão profundamente americanizadas, mas essa multiculturalização alterar-se-á com os novos costumes, e alterar-se-á tanto mais quanto as minorias mudarem.
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Enquanto «país universal», os Estados Unidos terão preocupações universais e parece óbvio que, a longo prazo, a China será o seu principal adversário, o seu principal complexo industrial, o seu primeiro credor, e, evidentemente, o seu principal concorrente estratégico.
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Claramente, haverá uma América com fortes elites chinesas, sino-americanas, que terão de negociar com a China.
Depois existitrá, é claro, a Índia. O futuro complexo mundial de serviços: porque é que a indústria vai para a China e os serviços para a Índia? Devido à língua inglesa. Quando se trabalha na indústria dos serviços é necessário falar inglês; ao invés, quando se trabalha numa fábrica, é preciso falar a língua local.
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A Rússia continuará no jogo, menos como potência nuclear e mais como potência petrolífera.
Obviamente, as áreas eruptivas ( Médio Oriente, Ásia Central), com ligações ao terrorismo, preocuparão os Estados Unidos. E, no que respeita à ameaça terrrorista, esta afecta todos os países e não só os países ricos. A mesma ameaça não cria um interesse comum unicamente entre os Estados Unidos e a Europa, mas entre os Estados Unidos e o resto do mundo.
[...]

Quais serão as nossas preocupações em comparação com as dos Estados Unidos?
Na realidade, enquanto europeus, teremos três preocupações: A primeira será a imigração, a tornar-se uma obsessão crescente para países como a Itália, Espanha e Portugal. Países de emigração até agora, terão de aprender a ser países de imigração, como o foi sempre a França. A segunda, está associada à primeira e relaciona-se com a demografia e a questão das pensões, que se tornará para nós uma questão central. A terceira liga-se à imprecisão das nossas fronteiras. Desconhecemos onde se encontram as mesmas a leste e a sul.
Parece, portanto, claro, que não nos consideramos como uma potência mundial!
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Já não teremos inimigos comuns. O terrorismo não é um inimigo comum: é um bode expiatório comum, insuficiente para fortalecer uma aliança de longa duração.
Creio, por isso, que vivemos, ou viveremos, realmente, em dois mundos diferentes.
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in Conflito e Cooperação nas Relações Internacionais
Relações Transatlânticas Europa-EUA


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