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maio 13, 2005

Prece 


A Cruz, de Graça Morais

Senhora do Pranto Vão,
Meu pranto é teu santuário.
De anos fartos já cansei,
De acre vinho embriagado,
De ter só penas e medos
E ansiar, que mais não sei.

Rezar-te de nada vale,
Cheio de dor o coração.
Teu olhar seria espr'ança,
Mesmo um olhar de desdém.
Concede que eu volte a ser,
como teu filho, criança.

O meu sentir-me é só choro.
De meu peito tenho pena.
Teu manto pr'a me agarrar!
Um berço para meus medos!
Que vivas perto de nós,
Tua mão p'ra nos tocar!

Eu não sei como rezar.
Meu peito é pano rasgado.
Cinza ficou meu cabelo.
Ensina-me a te chamar
P'lo teu nome, noite e dia,
Como se tudo, o dizê-lo.

A fé de meus pais se ergue
Em minha voz, triste a hora.
Te rezo rosários de dor
Com meus olhos. Oh, minh'alma
Dota de doces mentiras,
Por teu filho sofredor!

Esqueci o sabor da fé
E procuro a oração.
Meu coração é jardim
Devastado. Oh, como mãe
Pousa a mão em minha fronte.
Que eu morra com ela em mim!

Fernando Pessoa


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