setembro 23, 2005
Resistência aos calendários
Os Verões
Foram longos e ardentes os verões!
Estávamos nus à beira-mar
e o mar ainda mais nu. Com os olhos,
e em nossos corpos ágeis, fazíamos
a mais ditosa possessão do mundo.
Chegavam-nos as vozes acesas de luar
e era a vida cálida e violenta,
ingratos com o sono decorríamos.
O ritmo das ondas tão escuro
abrasava-nos eternos e éramos só tempo.
Apagavam-se os astros na alvorada
e, com a luz que regressava fria,
furioso e delicado principiava o amor.
Parece hoje um engano que fôssemos felizes
à maneira dos deuses, imerecida.
Que estranha e breve foi a juventude!
Francisco Brines, 1986
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