fevereiro 25, 2006
No Jardim do Bem e do Mal - entre a razão e a emoção
A UNIÃO DO CÉU E DO INFERNO (1)
Argumento
Rintrah(2) ruge e treme os seus fogos no ar carregado;
Nuvens famintas balançam sobre o abismo.
Submisso outrora e no caminho do perigo,
O justo percorria
O vale da morte.
Plantam-se rosas onde crescem espinhos
E na estéril charneca
Cantam as abelhas
Foi então plantado o caminho do perigo
E um rio e uma fronte brotaram
De cada penhasco e cada túmulo,
E nos ossos branqueados
Brotou barro vermelho.
Até que o vilão(3) deixou os caminhos do fácil
Para seguir os caminhos do perigo
E expulsar o justo para regiões estéreis.
A vil serpente anda agora
Em mole humildade
E o justo percorre em fúria os desertos
Onde erram os leões.
Rintrah ruge e treme os seus fogos no ar carregado;
Nuvens famintas balançam sobre o abismo.
Nuvens famintas balançam sobre o abismo.
Submisso outrora e no caminho do perigo,
O justo percorria
O vale da morte.
Plantam-se rosas onde crescem espinhos
E na estéril charneca
Cantam as abelhas
Foi então plantado o caminho do perigo
E um rio e uma fronte brotaram
De cada penhasco e cada túmulo,
E nos ossos branqueados
Brotou barro vermelho.
Até que o vilão(3) deixou os caminhos do fácil
Para seguir os caminhos do perigo
E expulsar o justo para regiões estéreis.
A vil serpente anda agora
Em mole humildade
E o justo percorre em fúria os desertos
Onde erram os leões.
Rintrah ruge e treme os seus fogos no ar carregado;
Nuvens famintas balançam sobre o abismo.
William Blake (1757-1827)
(1) Sobre o texto: existem 9 cópias de A União do Céu e do Inferno, compostas por 24 pranchas (gravura e texto) seguidas de mais 3, correspondentes a Um Cântico de Liberdade.
Sobre o título: este adapta, unindo (casando) satiricamente os opostos, o título da talvez mais conhecida obra de Swedenborg, De Coelo et Inferno et ejus mirabilibus: ex auditis et visis, 1758, de onde o texto de Blake retira o impulso inicial e para o qual remete continuamente.
(2) Tal como Urthona, em Um Cântico de Liberdade, Rintrah é uma figura mítica e simbólica da poesia profética de Blake; A potência maléfica (vilão) expulsa o justo.
(3) O vilão simboliza o padre e a sua moral hipócrita e repressiva; O Argumento simboliza a escravidão e a revolta
Tradução e notas de João Ferreira Duarte
Editora - Relógio D`Água
Etiquetas: Poesia, William Blake
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