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janeiro 01, 2007

Literatura explicativa 

Poema de Ruy Belo, ilustrado pelo último pôr-do-sol de 2006; não é em espinho mas na praia do abano, ao lado do guincho, o que vai dar no mesmo.
O pôr-do-sol é onde quisermos, ou soubermos escolher...


O pôr-do-sol em espinho não é o pôr-do-sol

nem mesmo o pôr-do-sol é bem o pôr-do-sol

É não morrermos mais é irmos de mãos dadas

com alguém ou com nós mesmos anos antes

é lermos leibniz conviver com os medici

onze quilómetros ao sul de florença

sobre restos de inquietação visível em bilhetes de eléctrico

Há quanto tempo se põe o sol em espinho?
Terão visto este sol os liberais no mar

ou antero de junto da ermida?

O sol que aqui se põe onde nasce? A quem

passamos este sol? Quem se levanta onde nos deitamos?

O pôr-do-sol em espinho é termos sido felizes

é sentir como nosso o braço esquerdo

Ou melhor: é não haver mais nada mais ninguém

mulheres recortadas nas vidraças

oliveiras à chuva homens a trabalhar

coisas todas as coisas deixadas a si mesmas

Não mais restos de vozes solidão dos vidros

não mais os homens coisas que pensam coisas sozinhas

não mais o pôr-do-sol apenas pôr-do-sol

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