Agosto 21, 2006
Em busca da vitória
Agosto 20, 2006
Fear not, my friend
Fear not, dear friend, but freely live your days
Though lesser lives should suffer. Such am I,
A lesser life, that what is his of sky
Gladly would give for you, and what of praise.
Step, without trouble, down the sunlit ways.
We that have touched your raiment, are made whole
From all the selfish cankers of man's soul,
And we would see you happy, dear, or die.
Therefore be brave, and therefore, dear, be free;
Try all things resolutely, till the best,
Out of all lesser betters, you shall find;
And we, who have learned greatness from you, we,
Your lovers, with a still, contented mind,
See you well anchored in some port of rest.
desconheço o autor
Um homem livre
Não temas, amigo. Talvez nunca tenhas tido a dimensão de como iluminaste os nossos dias; Não é um elogio, pois não se elogia um homem simples. Admira-se.
O sofrimento que nos privou da tua companhia, das tuas brincadeiras infantis, do cuidado paternal com que olhavas as nossas crianças à beira-mar... não te privou da tua liberdade.
Por isso estou certo que o teu espírito regressou à terra natal, para que aí continues, sempre, livre.
Hoje, quando estiver na praia, vou olhar para a linha que divide o mar do céu e sei que, do teu porto-de-abrigo, vais estar a acenar para nós.
O meu amigo Armando é o preto da foto tirada em Agosto de 2004, na nossa praia de sempre.
O último verão em que tivemos a sua companhia. Que descanse em paz.
Agosto 18, 2006
Alma Ausente
Não te conhece o touro ou a figueira,
nem cavalos nem formigas de tua casa.
Não te conhece o menino ou a tarde,
porque tu morreste para sempre.
Não te conhece o lombo da pedra,
nem o cetim negro onde tu destroças.
Não te conhece tua lembrança muda
porque tu morreste para sempre.
O Outono chegará com búzios,
uva de névoa e montes agrupados,
mas ninguém quererá olhar teus olhos
porque tu morreste para sempre.
Porque tu morreste para sempre,
como todos os mortos que há na Terra,
como todos os mortos que se esquecem,
num monte enorme de cães apagados.
Não te conhece ninguém. Não. porém, eu canto-te.
Canto para depois teu perfil e tua graça.
A madurez insigne do teu conhecimento.
Teu apetite de morte e o gosto de sua boca.
A tristeza que teve tua valente alegria.
Tardará muito tempo a nascer, se nascer,
um andaluz tão claro, tão rico de aventura.
Canto sua elegância com palavras que gemem
e lembro uma brisa triste entre as oliveiras.
nem cavalos nem formigas de tua casa.
Não te conhece o menino ou a tarde,
porque tu morreste para sempre.
Não te conhece o lombo da pedra,
nem o cetim negro onde tu destroças.
Não te conhece tua lembrança muda
porque tu morreste para sempre.
O Outono chegará com búzios,
uva de névoa e montes agrupados,
mas ninguém quererá olhar teus olhos
porque tu morreste para sempre.
Porque tu morreste para sempre,
como todos os mortos que há na Terra,
como todos os mortos que se esquecem,
num monte enorme de cães apagados.
Não te conhece ninguém. Não. porém, eu canto-te.
Canto para depois teu perfil e tua graça.
A madurez insigne do teu conhecimento.
Teu apetite de morte e o gosto de sua boca.
A tristeza que teve tua valente alegria.
Tardará muito tempo a nascer, se nascer,
um andaluz tão claro, tão rico de aventura.
Canto sua elegância com palavras que gemem
e lembro uma brisa triste entre as oliveiras.
poema de Federico García Lorca, in Llanto por Ignacio Sánchez Mejías
gravura de Francisco Goya
gravura de Francisco Goya
Fica assim completa a série de quatro poemas dedicados a Ignacio Sánchez Mejías, bandarilheiro sevilhano: A Colhida e a Morte, O Sangue Derramado, Corpo Presente e Alma Ausente.
Inteligente e culto, Ignacio era entusiasta do cante hondo e da dança espanhola; Casado com a irmã do toureiro Joselito, manteve até à morte - em Agosto de 1934 - uma ligação amorosa com a célebre bailarina Encarnación López, La Argentinita, a quem García Lorca dedicou o Llanto.
Agosto 17, 2006
o princípio da certeza
Em 1974 tinha treze anos. Do Prof. Marcello Caetano recordo pouca coisa. As Conversas em Família, que todos ouvíamos com atenção; Da sua dimensão como académico, obviamente, nada.
Dos momentos em que passou ao lado da tolerância, nem uma evidência! Sabia lá eu o que era o Regime!
Mas houve uma coisa que percebi desde então: Durante a sua humilhante saída do Largo do Carmo, com o povo aos gritos e a escarrar o blindado que o transportava, realizei que não tinha jeito para revolucionário e que não era filho daquela Revolução.
Agosto 16, 2006
prenda minha
What do you represent?
Pois. Perdoará, cara MP, mas o terceiro aniversário do Eclético merece mais do que um mero piquenique nas Maldivas.
Convido-a para algo diferente: veja o vídeo, a partir daqui. Parabéns!
Agosto 15, 2006
Postais de Portugal - Douro
Tarde pintada
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há tanta fantasia
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.
Miguel Torga
Agosto 14, 2006
desaparecimento trágico de um grande cubano
Ainda não consegui que alguém me explicasse porque foram retirados do mercado nacional os cigarros Cohiba.
O meu stock está a chegar ao fim!
Uma vez que não tenciono deixar de fumar, ando a experimentar as cigarrilhas Jose L Piedra, com um razoável binómio preço-qualidade.
Estou disposto a cantar os parabéns a Fidel Castro, se alguma alma caridosa sugerir uma solução para resolver este drama humano.
Em desepero de causa, equacionaria até a possibilidade de desejar as melhoras ao Comandante.
Ao ponto que pode chegar a dignidade de uma pessoa...!
Agosto 10, 2006
Obikweeeeeluuuuuu
Afirmações de Obikwelu depois de ganhar a medalha de ouro nos 200 metros dos Europeus de Gotemburgo:
"Claro que o futebol continua a ser uma paixão grande. Sempre que Portugal joga sofro como um louco. Adoro o Luis Figo..."
A isto eu chamo patriotismo. Aliás, o Chico "Obiquelo" da Silva já tinha dado provas disso, caro JCD
Agosto 9, 2006
L` aventure au mont de Vénus
La femme est le contraire du Dandy.
Donc elle doit faire horreur.
La femme a faim, et elle veut manger ; soif, et elle veut boire.
Elle est en rut, et elle veut être f...
Le beau mérite !
La femme est naturelle, c'est-à-dire abominable.
Aussi est-elle toujours vulgaire, c'est-à-dire le contraire du Dandy.
Relativement à la Légion d'Honneur. - Celui qui demande la croix a l'air de dire : Si l'on ne me décore pas pour avoir fait mon devoir, je ne recommencerai plus.
Si un homme a du mérite, à quoi bon le décorer ? S'il n'en a pas, on peut le décorer, parce que cela lui donnera un lustre.
Consentir à être décoré, c'est reconnaître à l'État ou au prince le droit de vous juger, de vous illustrer, et caetera.
D'ailleurs, si ce n'est l'orgueil, l'humilité chrétienne défend la croix.
Calcul en faveur de Dieu. - Rien n'existe sans but.
Donc mon existence a un but.
Quel but ? Je l'ignore.
Ce n'est donc pas moi qui l'ai marqué. C'est donc quelqu'un plus savant que moi.
Il faut donc prier ce quelqu'un de m'éclairer. C'est le parti le plus sage.
Le Dandy doit aspirer à être sublime, sans interruption. Il doit vivre et dormir devant un miroir.
Gustave Courbet - L'Origine du monde, 1866
Baudelaire: Mon coeur mis à nu: journal intime, 1887.
Leituras de Thierry Savatier sobre o tema:
L'Origine du Monde, histoire d'un tableau de Gustave Courbet, Éd. Bartillat
Une femme trop gaie - Biographie d'un amour de Baudelaire, CNRS Editions
Agosto 8, 2006
Nunca é demais recordar
Agosto 7, 2006
Arte Pública - CowParade, Largo do Rato
Já abriram as inscrições para o Leilão da CowParade-Lisboa, que se realiza a 30 de Setembro. A base de licitação é 1500 euros.
Segundo li, a obra sobre a qual há mais pedidos de informação é a vaca do Benfica; do modo como a equipa tem jogado, bem pode a direcção licitar de modo a colocar a vaca leiteira à porta do estádio.
Vacas mais caras:
Waga-Moo-Moo (Dublin, 2003) - 125.000 euros
HANDsome (Chicago, 1999) - 86.000 euros
Miss Football (Paris, 2006) - 71.000 euros
Segundo li, a obra sobre a qual há mais pedidos de informação é a vaca do Benfica; do modo como a equipa tem jogado, bem pode a direcção licitar de modo a colocar a vaca leiteira à porta do estádio.
Vacas mais caras:
Waga-Moo-Moo (Dublin, 2003) - 125.000 euros
HANDsome (Chicago, 1999) - 86.000 euros
Miss Football (Paris, 2006) - 71.000 euros
clique nas imagens para ampliar
Publicado originalmente no Sétima Colina
Agosto 5, 2006
Corpo Presente
A pedra é uma fronte onde gemem os sonhos
sem água turva ter, nem ciprestes gelados.
A pedra é um dorso para levar ao tempo
com árvores de lágrimas de fitas e planetas.
Já vi chuvas cinzentas a correr para as ondas
erguendo seus tenros braços lacerados,
para não serem caçadas pela pedra estendida
que desata seus membros sem absorver o sangue.
Porque a pedra colhe nuvens e sementes,
esqueletos de calhandras e lobos de penumbra;
porém, não dá rumores, nem fogo, nem cristais,
mas só praças e praças e outra praça sem muros.
Já está sobre a pedra Ignacio o bem-nascido.
Já se acabou. Que se passa! Contemplai sua figura!
A morte cobriu-o de pálidos enxofres
e pôs-lhe uma cabeça de escuro minotauro.
Já se acabou. A chuva penetra em sua boca.
Como louco, o ar deixa seu peito submerso,
e o Amor, empapado com lágrimas de neve,
aquece-se no cume das ganadarias.
Que dizem? Um silêncio com fedores repousa.
Estamos com um corpo presente que se esfuma,
com uma forma clara que teve rouxinóis
e vemos que se enche de buracos sem fundo.
Quem enruga o sudário? O que ele diz é falso!
Não canta aqui ninguém, nem chora em seu recanto,
nem crava as esporas, nem assusta a serpente:
aqui não quero mais do que os olhos redondo
para ver esse corpo sem possível descanso.
Eu quero ver aqui os homens de voz dura
os que domam cavalos e dominam os rios:
os homens cujo esqueleto lhes soa e cantam
com uma boca cheia de sol e pederneiras.
Quero vê-los aqui. Diante da pedra.
Diante deste corpo com as rédeas quebradas.
Eu quero que me mostrem onde está a saída
para este capitão atado pela morte.
Eu quero que me mostrem um pranto como um rio
que tenha doces névoas e margens bem profundas,
para levar o corpo de Ignacio e que se perca
sem escutar o resfolgo duplo dos touros.
Que ele se perca na praça redonda da lua
que em menina finge um dorida rês imóvel;
que se perca na noite sem um canto dos peixes
e na moita branca do fumo congelado.
Não quero que tapem sua cara com lenços
para que se acostume com a morte que leva.
Vai, Ignacio: Não sintas o ardente bramido.
Dorme, voa, repousa: Mesmo até o mar morre!
sem água turva ter, nem ciprestes gelados.
A pedra é um dorso para levar ao tempo
com árvores de lágrimas de fitas e planetas.
Já vi chuvas cinzentas a correr para as ondas
erguendo seus tenros braços lacerados,
para não serem caçadas pela pedra estendida
que desata seus membros sem absorver o sangue.
Porque a pedra colhe nuvens e sementes,
esqueletos de calhandras e lobos de penumbra;
porém, não dá rumores, nem fogo, nem cristais,
mas só praças e praças e outra praça sem muros.
Já está sobre a pedra Ignacio o bem-nascido.
Já se acabou. Que se passa! Contemplai sua figura!
A morte cobriu-o de pálidos enxofres
e pôs-lhe uma cabeça de escuro minotauro.
Já se acabou. A chuva penetra em sua boca.
Como louco, o ar deixa seu peito submerso,
e o Amor, empapado com lágrimas de neve,
aquece-se no cume das ganadarias.
Que dizem? Um silêncio com fedores repousa.
Estamos com um corpo presente que se esfuma,
com uma forma clara que teve rouxinóis
e vemos que se enche de buracos sem fundo.
Quem enruga o sudário? O que ele diz é falso!
Não canta aqui ninguém, nem chora em seu recanto,
nem crava as esporas, nem assusta a serpente:
aqui não quero mais do que os olhos redondo
para ver esse corpo sem possível descanso.
Eu quero ver aqui os homens de voz dura
os que domam cavalos e dominam os rios:
os homens cujo esqueleto lhes soa e cantam
com uma boca cheia de sol e pederneiras.
Quero vê-los aqui. Diante da pedra.
Diante deste corpo com as rédeas quebradas.
Eu quero que me mostrem onde está a saída
para este capitão atado pela morte.
Eu quero que me mostrem um pranto como um rio
que tenha doces névoas e margens bem profundas,
para levar o corpo de Ignacio e que se perca
sem escutar o resfolgo duplo dos touros.
Que ele se perca na praça redonda da lua
que em menina finge um dorida rês imóvel;
que se perca na noite sem um canto dos peixes
e na moita branca do fumo congelado.
Não quero que tapem sua cara com lenços
para que se acostume com a morte que leva.
Vai, Ignacio: Não sintas o ardente bramido.
Dorme, voa, repousa: Mesmo até o mar morre!
poema de Federico García Lorca, in Llanto por Ignacio Sánchez Mejías
gravura de Francisco Goya
gravura de Francisco Goya
Agosto 4, 2006
a diva e o pianista (post editado)
Em memória de Elisabeth Schwarzkopf, ouvir o lirismo e a vivacidade dramática da diva sobre o piano do grande Edwin Fischer.
Na habitual coluna no Público (link não disponível), Augusto M. Seabra afirma:
"Nela imperava a pose, a ponto de a sofisticação a fazer mesmo perder-se. O seu Schubert, por exemplo, é controverso, e os famosos 12 "lieder" gravados em 1952 com Edwin Fischer são-o particularmente - e sou um dos que acham essa gravação insuportável, por causa dela. Mas era a classe, a classe que em todos os sentidos a definia." Pois. Critique-se a sugestão dos 24 "lieder" de 1954, ou os "12" de 52, A Voz é a mesma. Por isso mantenho a homenagem. Obviamente.
Agosto 3, 2006
Sob o signo de John Coltrane *
Em ano de homenagem a Mestre Coltrane, o destaque óbvio do Jazz em Agosto-2006 vai para o sexteto do virtuoso saxofonista Anthony Braxton, que actuará na última noite, dia 12.
Em minha opinião, o Festival tem vindo a perder algum fulgor, depois de nas décadas de 80 e 90 ter trazido pesos pesados como Jan Garbarek Quartet, 1987 / Ornette Coleman e "Prime Time Band", 1988 / Branford Marsalis Quartet, 1990 / Don Byron Quartet, 1991 / Steve Coleman & Five Elements, 1992 / Dave Holland, 1992,1997 e 1999 com John Scofield e Joe Lovano / Max Roach Quartet, 1995 / Terence Blanchard Group, 1996 / Bobby Hutcherson Quartet e Branford Marsalis, ambos em 1998.
A quem gosta de jazz, recomendo a apreciação que o meu homónimo António Branco faz no excelente Improvisos Ao Sul.
* post editado em 20060817, para sublinhar o artigo A permanente actualidade da obra de Anthony Braxton de MJV, no DN
Agosto 2, 2006
Alla Turca (Allegretto)
Wolfgang Amadeus Mozart - The Piano Sonatas
Maria João Pires, piano
Deutsche Grammophon
Maria João Pires terá as suas idiossincrasias e tal como eu, por vezes, não gosta do país que vê.
Por isso os seus estados de alma têm impacto em aguns espíritos inquietos, que episodicamente saem em defesa da cultura do subsídio, para o que utilizam apenas uma mão estendida.
Não porque entenda que haja alguém acima da crítica, mas porque o virtuosismo e a delicadeza de MJP a colocam no restrito número dos pianistas realmente excepcionais, permito-me sugerir que ouçam a Sonata para Piano No.11 -"Alla Turca" tocado a duas mãos. Sem qualquer reverência.
Maria João Pires, piano
Deutsche Grammophon
Maria João Pires terá as suas idiossincrasias e tal como eu, por vezes, não gosta do país que vê.
Por isso os seus estados de alma têm impacto em aguns espíritos inquietos, que episodicamente saem em defesa da cultura do subsídio, para o que utilizam apenas uma mão estendida.
Não porque entenda que haja alguém acima da crítica, mas porque o virtuosismo e a delicadeza de MJP a colocam no restrito número dos pianistas realmente excepcionais, permito-me sugerir que ouçam a Sonata para Piano No.11 -"Alla Turca" tocado a duas mãos. Sem qualquer reverência.