Setembro 30, 2005
Sinais
Reminder
Como já havia feito referência, a World Press Photo começa hoje!
E porque hoje é sexta-feira*, três sugestões de leitura:
Noite Americana (via À Deriva), Inimigo Público e - já agora - Boião de "Cultura".
* Desculpa roubar-te a ideia para o título. Posso pagar em género.. feminino?
E porque hoje é sexta-feira*, três sugestões de leitura:
Noite Americana (via À Deriva), Inimigo Público e - já agora - Boião de "Cultura".
* Desculpa roubar-te a ideia para o título. Posso pagar em género.. feminino?
Setembro 29, 2005
Reminder
Descobertas científicas
Descodifico-te..
Gene a gene..
até saber de cor
o número de cromossomas.
Manipulo-te geneticamente,
- em ambiente controlado -
sem consequências
a longo prazo.
Evidentemente.
Gene a gene..
até saber de cor
o número de cromossomas.
Manipulo-te geneticamente,
- em ambiente controlado -
sem consequências
a longo prazo.
Evidentemente.
Toma os comprimidos, António..
Setembro 28, 2005
gota a gota, no culto do vinho
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É a solução para a rega das vinhas, em anos de seca como este. Com a produtividade mais baixa dos últimos cinco anos, as vindimas estão a dar boa fruta, com muita côr, concentrada - certamente teremos grandes vinhos (dificilmente excepcionais, como em 2004) - mas em quantidade insuficiente para assegurar a sustentabilidade de muitas quintas, que passam por alguma aflição.
Esperemos que, apesar das dificuldades, não caiam na tentação de trazer mosto de Espanha para aumentar a produção!
Protejam as nossas uvas, se faz favor. A perda de qualidade seria uma pena!
Nesta curva - onde o Côa encontra o Douro - existe uma ponte ferroviária seguida de um apeadeiro, desactivado há alguns anos.
É para este local de excepção que está projectado o futuro Museu Arqueológico do Vale do Côa, disse-nos a guia quando fizemos o percurso da Penascosa, com temperaturas superiores a 40 graus!
Setembro 27, 2005
Efeméride
Setembro 26, 2005
Tá maluco..
Terá sido esta a afirmação do levezinho, ao ser substituido a dez minutos do fim do jogo, contra um Setúbal que se bateu bem, apesar de ter feito um remate durante noventa minutos.
E tem razão!
A insatisfação do jogador é simples reflexo do desagrado dos sócios com as substituições, excepto a do Tello, obrigatória:
- Quando o Liedson joga debilitado (engripado), falha um penalti, anda anémico o tempo todo, só é substituido a dez minutos do fim, reclama quando sai, é problema dele?!
- A tremideira causada por substituições que não funcionaram e que o treinador não conseguiu resolver, tinha de dar assobio!
Os sócios do Sporting são emotivos? Pois são!
Sabe porquê, treinador? Porque exigem vitórias categóricas no Alvalade XXI! Racionalize!
Não tolera indisciplina no Sporting, Paulo Andrade?
O Liedson serve de bode expiatório, porque não pode enfrentar a emotividade dos sócios?
É bom que não haja instabilidade. Mas há limites para a paciência!
O CASO MENTAL PORTUGUÊS
A exposição Espelho Meu, Mirror Mirror - Portugal visto por fotógrafos da Magnum, que esteve no CCB entre Julho e Agosto, reflectiu um olhar sobre o Portugal dos últimos 50 anos - desde os trabalhos de Henri Cartier-Bresson e Inge Morath, da década de 1950, passando pela Revolução de Abril até ao início deste século - , em que alguns fotógrafos que trabalham para a Magnum voltaram a Portugal para um retrato contemporâneo; enfim, para revelar os contrastes conhecidos: um país moderno através das obras do Regime, por um lado; o mesmo país atrasado dos anos 50/60, nos rostos e nos costumes, por outro.
De referir, a propósito de fotografia, o acontecimento que será a World Press Photo - de 30 de Setembro a 23 de Outubro, no CCB.
A transcrição deste artigo* de Pessoa ocorre-me, por recordar a sensação que experimentei então.
E porque me parece oportuna, a associação.
Se fosse preciso usar de uma só palavra para com ela definir os estado presente da mentalidade portuguesa, a palavra seria “provincianismo”.
Como todas as definições simples esta, que é muito simples, precisa, depois de feita, de uma explicação completa.
Darei essa explicação em dois tempos: direi, primeiro, a que se aplica, isto é, o que deveras se entende por mentalidade de qualquer país, e portanto de Portugal; direi, depois, em que modo se aplica a essa mentalidade.
Por mentalidade de qualquer país entende-se, sem dúvida, a mentalidade das três camadas, organicamente distintas, que constituem a sua vida mental – a camada baixa, a que é uso chamar povo; a camada média, a que não é uso chamar nada, excepto neste caso por engano, burguesia; e a camada alta, que vulgarmente se designa por escol, ou, traduzindo para estrangeiro, para melhor compreensão, por elite.
O que caracteriza a primeira camada mental é, aqui e em toda a parte, a incapacidade de reflectir. O Povo, saiba ou não saiba ler, é incapaz de criticar o que lê ou lhe dizem. As suas ideias não são actos críticos, mas actos de fé ou de descrença, o que não implica, aliás, que sejam sempre erradas.
Por natureza, forma um bloco, onde não há mentalmente indivíduos; e o pensamento é individual.
O que caracteriza a segunda camada que não é a burguesia, é a capacidade de reflectir, porém sem ideias próprias; de criticar, porém, com ideias de outrem. Na classe média mental, o indivíduo, que mentalmente já existe, sabe já escolher – por ideias e não por instinto – entre duas ideias ou doutrinas que lhe apresentem; não sabe, porém, contrapor ambas a uma terceira, que seja própria. Quando, aqui e ali, neste ou naquele, fica uma opinião média entre duas doutrinas, isso não representa um cuidado crítico, mas uma hesitação mental.
O que caracteriza a terceira camada, o escol, é, como é de ver por contraste com as outras duas, a capacidade de criticar com ideias próprias. Importa, porém, notar que essas ideias próprias podem não ser fundamentais. O indivíduo do escol pode, por exemplo, aceitar inteiramente uma doutrina alheia; aceita-a, porém, criticamente, e, quando a defende, defende-a com argumentos seus – os que o levam a aceitá-la – e não, como fará o mental da classe média, com os argumentos originais dos criadores ou expositores dessas doutrinas.
Esta divisão em camadas mentais, embora coincida em parte com a divisão em camadas sociais – económicas ou outras -, não se ajusta exactamente a essa. Muita gente das aristocracias de história e de dinheiro, pertence ao povo. Bastantes operários, sobretudo das cidades, pertencem à classe média mental. Um homem de génio ou de talento, ainda que nascido de camponeses, pertence de nascença ao escol.
Quando, portanto, digo que a palavra “provincianismo” define, sem outra que a condicione, o estado mental presente do povo português, digo que essa palavra “provincianismo”, que mais adiante definirei, define a mentalidade do povo português em todas as três camadas que a compõem. Como, porém, a primeira e a segunda camadas mentais não podem por natureza ser superiores ao escol, basta que eu prove o provincianismo do nosso escol presente, para que fique provado o provincianismo mental da generalidade da nação.
Os homens, desde que entre eles se levantou a ilusão ou realidade chamada civilização, passaram a viver em relação a ela, de uma de três maneiras, que definirei por símbolos, dizendo que vivem ou como os campónios, ou como os provincianos, ou como os citadinos.
Não se esqueça que trato de estados mentais e não geográficos, e que portanto o campónio ou o provinciano pode ter vivido sempre em cidade, e o citadino sempre no que lhe é natural desterro.
Ora a civilização consiste simplesmente na substituição do artificial ao natural no uso e correnteza da vida. Tudo quanto constitui a civilização, por mais natural que nos hoje pareça, são artifícios: o transporte sobre rodas, o discurso disposto em verso escrito, renegam a naturalidade original dos pés e da prosa falada.
A artificialidade, porém, é de dois tipos. Há aquela, acumulada através das eras, e que, tendo-a já encontrado quando nascemos, achamos natural; e há aquela que todos os dias se vai acrescentando à primeira. A esta segunda é uso chamar “progresso” e dizer que é “moderno” o que vem dela.
Ora o campónio, o provinciano e o citadino diferenciam-se entre si pelas suas diferentes reacções a esta segunda artificialidade.
O que chamei campónio sente violentamente a artificialidade do progresso; por isso se sente mal nele e com ele, e intimamente o detesta. Até das conveniências e das comodidades do progresso se serve constrangido, a ponto de, por vezes, e em desproveito próprio, se esquivar a servir-se delas. É o homem dos “bons tempos”, entendendo-se por isso os da sua mocidade, sejá é idoso, ou os da mocidade dos bisavós, se é simplesmente párvuo.
No pólo oposto, o citadino não sente a artificialidade do progresso. Para ele é como se fosse natural. Serve-se do que é dele, portanto, sem constrangimento nem apreço. Por isso o não ama nem desama: é-lhe indiferente. Viveu sempre (física ou mentalmente) em grandes cidades; viu nascer, mudar e passar (real ou idealmente) as modas e a novidade das invenções; são pois para ele aspectos correntes, e por isso incolores, de uma coisa continuamente já sabida, como as pessoas com quem convivemos, ainda que de dia para dia sejam realmente diversas, são todavia para nós idealmente sempre as mesmas.
Situado mentalmente entre os dois, o provinciano sente, sim, a artificialidade do progresso, mas por isso mesmo o ama. Para o seu espírito desperto, mas incompletamente desperto, o artificial novo, que é progresso, é atraente como novidade, mas ainda sentido como artificial. E, porque é sentido simultaneamente como artificial é sentido como atraente, e é por artificial que é amado.
O amor às grandes cidades, às novas modas, às “últimas novidades”, é o característico distintivo do provinciano.
Se daqui se concluir que a grande maioria da humanidade cicilizada é composta de provincianos, ter-se-á concluido bem, porque assim é.
Nas nações deveras civilizadas, o escol escapa, porém, em grande parte, e por sua mesma natureza, ao provincianismo.
A tragédia mental de Portugal presente é que, como veremos, o nosso escol é estruturalmente provinciano.
Não se estabeleça, pois seria erro, analogia, por justaposição, entre duas classificações, que se fizeram, de camadas e tipos mentais.
A primeira, de sociologia estática, define estados mentais em si mesmos; a segunda, de sociologia dinâmica, define estados de adaptação mental ao ambiente.
Há gente do povo mental que é citadina em suas relações com a civilização.
Há gente do escol, e do melhor escol – homens de génio e de talento - , que é campónio nessas relações.
Pelas características indicadas como as do provinciano, imediatamente se verifica que a mentalidade dele tem um semelhança perfeita com a da criança.
A reacção do provinciano, às suas artificialidades, que são as novidades sociais, é igual à da criança às suas artificialidades, que são os brinquedos.
Ambos as amam espontaneamente, e porque são artificiais.
Ora o que distingue a mentalidade da criança é, na inteligência, o espírito de imitação: na emoção, a vivacidade pobre; na vontade, a impulsividade incoordenada.
São estes, portanto, os característicos que iremos achar no provinciano; fruto, na criança, da falta de desenvolvimento civilizacional, e assim ambos feitos da mesma causa – a falta de desenvolvimento.
A criança é, como o provinciano, um espírito desperto, mas incompletamente desperto.
São estes característicos que distinguirão o provinciano do campónio e do citadino.
No campónio, semelhante ao animal, a imitação existe, mas à superfície, e não, como na criança e no provinciano, vinda do fundo da alma; a emoção é pobre, porém não é vivaz, pois é concentrada e não dispersa; a vontade, se de facto é impulsiva, tem contudo a coordenação fechada do instinto, que substitui na prática, salvo em matéria complexa, a coordenação aberta da razão.
No citadino, semelhante ao homem adulto, não há imitação, mas aproveitamento dos exemplos alheios, e a isso se chama, quando prático, experiência, quando teórico, cultura; a emoção, ainda quando não seja vivaz, é contudo rica, porque complexa, e é complexa por ser complexo quem a terá; a vontade, filha da inteligência e não do impulso, é coordenada, tanto que, ainda quando faleça, falece coordenadamente, em propósitos frustes mas idealmente sistematizados.
Comecemos por não deixar de ver que o escol se compõe de duas camadas – os homens de inteligência, que formam a sua maioria, e os homens de génio e de talento, que formam a sua minoria, o escol do escol, por assim dizer.
Aos primeiros exigimos espírito crítico; aos segundos exigimos originalidade, que é, em certo modo, um espírito crítico involuntário.
Façamos pois incidir a análise que nos propusemos fazer, primeiro sobre o pequeno escol, que são os homens de génio e de talento, depois sobre o grande escol.
Temos, é certo, alguns escritores e artistas que são homens de talento; se algum deles o é de génio, não sabemos, nem para o caso importa.
Nesses, evidentemente, não se pode revelar em absoluto o espírito de imitação, pois isso importaria a ausência de originalidade, e esta a ausência de talento.
Esses nossos escritores e artistas são, porém, originais uma só ez, que é a inevitável. Depois disso, não evoluem, não crescem; fixado esse primeiro momento, vivem parasitas de si mesmos, plagiando-se indefinidamente.
A tal ponto isto é assim, que não há, por exemplo, poeta nosso presente – dos célebres, pelo menos – que não fique completamente lido quando incompletamente lido, em que a parte não seja igual ao todo.
E se em um ou outro se nota, em certa altura, o que parece ser uma modificação da sua “maneira”, a análise revelará que a modificação foi regressiva; o poeta, ou perdeu a originalidade e assim ficou diferente pelo processo simples de ficar inferior, ou decidiu começar a imitar outros por impotência de progredir de dentro, ou resoveu, por cansaço, atrelar a carroça do seu estro ao burro de uma doutrina externa, como o catolicismo ou o internacionalismo.
Descrevo abstractamente, mas os casos que descrevo são concretos; não preciso de explicar porque não junto a cada exemplo o nome do indivíduo que mo fornece.
O mesmo provincianismo se nota na esfera da emoção. A pobreza, a monotonia da emoção dos nossos homens de talento literário e artístico, salta ao coração e confrange a inteligência. Emoção viva, sim, como aliás era de esperar, mas sempre a mesma, sempre simples, sempre simples emoção, sem auxílio crítico da inteligência ou da cultura. A ironia emotiva, a subtileza passional, a contradição no sentimento – não as encontrareis em nenhum dos nossos poetas emotivos, e são quase todos emotivos. Escrevem, em matéria do que sentem, como escreveria o Pai Adão, se tivesse dado à humanidade, além do mau exemplo já sabido, o, ainda pior, de escrever.
A demonstração fica completa quando conduzimos a análise à região da vontade. Os nossos escritores e artistas são incapazes de meditar uma obra antes de a fazer, desconhecem o que seja a coordenação, pela vontade intelectual, dos elementos fornecidos pela emoção, não sabem o que é a disposição das matérias, ignoram que um poema, não é mais que uma carne de emoção cobrindo um esqueleto de raciocínio. Nenhuma capacidade de atenção e concentração, nenhuma faculdade de inibição. Escrevem ou artistam ao sabor da chamada “inspiração”, que não é mais que um impulso complexo do subconsciente que cumpre sempre submeter, por uma aplicação centrípeta da vontade, à transmutação alquímica da consciência. Produzem como Deus é servido, e Deus fica mal servido. Não sei de poeta português de hoje que, construtivamente, seja de confiança para além do soneto.
Ora, feitos estes reparos analíticos quanto ao estado mental dos nossos homens de talento, é inútil alongar este breve estudo, tratando com igual pormenor a maioria do escol.
Se o escol é assim, como será o não-escol do escol?
Há, porem, um característico comum a ambos esses elementos da nossa camada mental superior, que aos dois irmana , e, irmanados, os dois define: é a ausência de ideias gerais e, portanto, do espírito crítico e filosófico que provém de as ter.
O nosso escol político não tem ideias excepto sobre política, e as que tem sobre política são servilmente plagiadas do estrangeiro – aceites, não porque sejam boas, mas porque são francesas ou italianas, ou russas, ou o que quer que seja.
O nosso escol literário é ainda pior: nem sobre literatura tem ideias. Seria trágico, à força de deixar de ser cómico, o resultado de uma investigação sobre, por exemplo, as ideias dos nossos poetas célebres.
Já não quero que se submetesse qualquer deles ao enxovalho de lhe perguntar o que é a filosofia de Kant ou a teoria da evolução. Bastaria submetê-lo ao enxovalho maior de lhe perguntar o que é o ritmo.
Fernando Pessoa
* Publicado em 1932 na revista Fama, dirigida por Augusto Ferreira Gomes.
De referir, a propósito de fotografia, o acontecimento que será a World Press Photo - de 30 de Setembro a 23 de Outubro, no CCB.
A transcrição deste artigo* de Pessoa ocorre-me, por recordar a sensação que experimentei então.
E porque me parece oportuna, a associação.
Se fosse preciso usar de uma só palavra para com ela definir os estado presente da mentalidade portuguesa, a palavra seria “provincianismo”.
Como todas as definições simples esta, que é muito simples, precisa, depois de feita, de uma explicação completa.
Darei essa explicação em dois tempos: direi, primeiro, a que se aplica, isto é, o que deveras se entende por mentalidade de qualquer país, e portanto de Portugal; direi, depois, em que modo se aplica a essa mentalidade.
Por mentalidade de qualquer país entende-se, sem dúvida, a mentalidade das três camadas, organicamente distintas, que constituem a sua vida mental – a camada baixa, a que é uso chamar povo; a camada média, a que não é uso chamar nada, excepto neste caso por engano, burguesia; e a camada alta, que vulgarmente se designa por escol, ou, traduzindo para estrangeiro, para melhor compreensão, por elite.
O que caracteriza a primeira camada mental é, aqui e em toda a parte, a incapacidade de reflectir. O Povo, saiba ou não saiba ler, é incapaz de criticar o que lê ou lhe dizem. As suas ideias não são actos críticos, mas actos de fé ou de descrença, o que não implica, aliás, que sejam sempre erradas.
Por natureza, forma um bloco, onde não há mentalmente indivíduos; e o pensamento é individual.
O que caracteriza a segunda camada que não é a burguesia, é a capacidade de reflectir, porém sem ideias próprias; de criticar, porém, com ideias de outrem. Na classe média mental, o indivíduo, que mentalmente já existe, sabe já escolher – por ideias e não por instinto – entre duas ideias ou doutrinas que lhe apresentem; não sabe, porém, contrapor ambas a uma terceira, que seja própria. Quando, aqui e ali, neste ou naquele, fica uma opinião média entre duas doutrinas, isso não representa um cuidado crítico, mas uma hesitação mental.
O que caracteriza a terceira camada, o escol, é, como é de ver por contraste com as outras duas, a capacidade de criticar com ideias próprias. Importa, porém, notar que essas ideias próprias podem não ser fundamentais. O indivíduo do escol pode, por exemplo, aceitar inteiramente uma doutrina alheia; aceita-a, porém, criticamente, e, quando a defende, defende-a com argumentos seus – os que o levam a aceitá-la – e não, como fará o mental da classe média, com os argumentos originais dos criadores ou expositores dessas doutrinas.
Esta divisão em camadas mentais, embora coincida em parte com a divisão em camadas sociais – económicas ou outras -, não se ajusta exactamente a essa. Muita gente das aristocracias de história e de dinheiro, pertence ao povo. Bastantes operários, sobretudo das cidades, pertencem à classe média mental. Um homem de génio ou de talento, ainda que nascido de camponeses, pertence de nascença ao escol.
Quando, portanto, digo que a palavra “provincianismo” define, sem outra que a condicione, o estado mental presente do povo português, digo que essa palavra “provincianismo”, que mais adiante definirei, define a mentalidade do povo português em todas as três camadas que a compõem. Como, porém, a primeira e a segunda camadas mentais não podem por natureza ser superiores ao escol, basta que eu prove o provincianismo do nosso escol presente, para que fique provado o provincianismo mental da generalidade da nação.
Os homens, desde que entre eles se levantou a ilusão ou realidade chamada civilização, passaram a viver em relação a ela, de uma de três maneiras, que definirei por símbolos, dizendo que vivem ou como os campónios, ou como os provincianos, ou como os citadinos.
Não se esqueça que trato de estados mentais e não geográficos, e que portanto o campónio ou o provinciano pode ter vivido sempre em cidade, e o citadino sempre no que lhe é natural desterro.
Ora a civilização consiste simplesmente na substituição do artificial ao natural no uso e correnteza da vida. Tudo quanto constitui a civilização, por mais natural que nos hoje pareça, são artifícios: o transporte sobre rodas, o discurso disposto em verso escrito, renegam a naturalidade original dos pés e da prosa falada.
A artificialidade, porém, é de dois tipos. Há aquela, acumulada através das eras, e que, tendo-a já encontrado quando nascemos, achamos natural; e há aquela que todos os dias se vai acrescentando à primeira. A esta segunda é uso chamar “progresso” e dizer que é “moderno” o que vem dela.
Ora o campónio, o provinciano e o citadino diferenciam-se entre si pelas suas diferentes reacções a esta segunda artificialidade.
O que chamei campónio sente violentamente a artificialidade do progresso; por isso se sente mal nele e com ele, e intimamente o detesta. Até das conveniências e das comodidades do progresso se serve constrangido, a ponto de, por vezes, e em desproveito próprio, se esquivar a servir-se delas. É o homem dos “bons tempos”, entendendo-se por isso os da sua mocidade, sejá é idoso, ou os da mocidade dos bisavós, se é simplesmente párvuo.
No pólo oposto, o citadino não sente a artificialidade do progresso. Para ele é como se fosse natural. Serve-se do que é dele, portanto, sem constrangimento nem apreço. Por isso o não ama nem desama: é-lhe indiferente. Viveu sempre (física ou mentalmente) em grandes cidades; viu nascer, mudar e passar (real ou idealmente) as modas e a novidade das invenções; são pois para ele aspectos correntes, e por isso incolores, de uma coisa continuamente já sabida, como as pessoas com quem convivemos, ainda que de dia para dia sejam realmente diversas, são todavia para nós idealmente sempre as mesmas.
Situado mentalmente entre os dois, o provinciano sente, sim, a artificialidade do progresso, mas por isso mesmo o ama. Para o seu espírito desperto, mas incompletamente desperto, o artificial novo, que é progresso, é atraente como novidade, mas ainda sentido como artificial. E, porque é sentido simultaneamente como artificial é sentido como atraente, e é por artificial que é amado.
O amor às grandes cidades, às novas modas, às “últimas novidades”, é o característico distintivo do provinciano.
Se daqui se concluir que a grande maioria da humanidade cicilizada é composta de provincianos, ter-se-á concluido bem, porque assim é.
Nas nações deveras civilizadas, o escol escapa, porém, em grande parte, e por sua mesma natureza, ao provincianismo.
A tragédia mental de Portugal presente é que, como veremos, o nosso escol é estruturalmente provinciano.
Não se estabeleça, pois seria erro, analogia, por justaposição, entre duas classificações, que se fizeram, de camadas e tipos mentais.
A primeira, de sociologia estática, define estados mentais em si mesmos; a segunda, de sociologia dinâmica, define estados de adaptação mental ao ambiente.
Há gente do povo mental que é citadina em suas relações com a civilização.
Há gente do escol, e do melhor escol – homens de génio e de talento - , que é campónio nessas relações.
Pelas características indicadas como as do provinciano, imediatamente se verifica que a mentalidade dele tem um semelhança perfeita com a da criança.
A reacção do provinciano, às suas artificialidades, que são as novidades sociais, é igual à da criança às suas artificialidades, que são os brinquedos.
Ambos as amam espontaneamente, e porque são artificiais.
Ora o que distingue a mentalidade da criança é, na inteligência, o espírito de imitação: na emoção, a vivacidade pobre; na vontade, a impulsividade incoordenada.
São estes, portanto, os característicos que iremos achar no provinciano; fruto, na criança, da falta de desenvolvimento civilizacional, e assim ambos feitos da mesma causa – a falta de desenvolvimento.
A criança é, como o provinciano, um espírito desperto, mas incompletamente desperto.
São estes característicos que distinguirão o provinciano do campónio e do citadino.
No campónio, semelhante ao animal, a imitação existe, mas à superfície, e não, como na criança e no provinciano, vinda do fundo da alma; a emoção é pobre, porém não é vivaz, pois é concentrada e não dispersa; a vontade, se de facto é impulsiva, tem contudo a coordenação fechada do instinto, que substitui na prática, salvo em matéria complexa, a coordenação aberta da razão.
No citadino, semelhante ao homem adulto, não há imitação, mas aproveitamento dos exemplos alheios, e a isso se chama, quando prático, experiência, quando teórico, cultura; a emoção, ainda quando não seja vivaz, é contudo rica, porque complexa, e é complexa por ser complexo quem a terá; a vontade, filha da inteligência e não do impulso, é coordenada, tanto que, ainda quando faleça, falece coordenadamente, em propósitos frustes mas idealmente sistematizados.
Comecemos por não deixar de ver que o escol se compõe de duas camadas – os homens de inteligência, que formam a sua maioria, e os homens de génio e de talento, que formam a sua minoria, o escol do escol, por assim dizer.
Aos primeiros exigimos espírito crítico; aos segundos exigimos originalidade, que é, em certo modo, um espírito crítico involuntário.
Façamos pois incidir a análise que nos propusemos fazer, primeiro sobre o pequeno escol, que são os homens de génio e de talento, depois sobre o grande escol.
Temos, é certo, alguns escritores e artistas que são homens de talento; se algum deles o é de génio, não sabemos, nem para o caso importa.
Nesses, evidentemente, não se pode revelar em absoluto o espírito de imitação, pois isso importaria a ausência de originalidade, e esta a ausência de talento.
Esses nossos escritores e artistas são, porém, originais uma só ez, que é a inevitável. Depois disso, não evoluem, não crescem; fixado esse primeiro momento, vivem parasitas de si mesmos, plagiando-se indefinidamente.
A tal ponto isto é assim, que não há, por exemplo, poeta nosso presente – dos célebres, pelo menos – que não fique completamente lido quando incompletamente lido, em que a parte não seja igual ao todo.
E se em um ou outro se nota, em certa altura, o que parece ser uma modificação da sua “maneira”, a análise revelará que a modificação foi regressiva; o poeta, ou perdeu a originalidade e assim ficou diferente pelo processo simples de ficar inferior, ou decidiu começar a imitar outros por impotência de progredir de dentro, ou resoveu, por cansaço, atrelar a carroça do seu estro ao burro de uma doutrina externa, como o catolicismo ou o internacionalismo.
Descrevo abstractamente, mas os casos que descrevo são concretos; não preciso de explicar porque não junto a cada exemplo o nome do indivíduo que mo fornece.
O mesmo provincianismo se nota na esfera da emoção. A pobreza, a monotonia da emoção dos nossos homens de talento literário e artístico, salta ao coração e confrange a inteligência. Emoção viva, sim, como aliás era de esperar, mas sempre a mesma, sempre simples, sempre simples emoção, sem auxílio crítico da inteligência ou da cultura. A ironia emotiva, a subtileza passional, a contradição no sentimento – não as encontrareis em nenhum dos nossos poetas emotivos, e são quase todos emotivos. Escrevem, em matéria do que sentem, como escreveria o Pai Adão, se tivesse dado à humanidade, além do mau exemplo já sabido, o, ainda pior, de escrever.
A demonstração fica completa quando conduzimos a análise à região da vontade. Os nossos escritores e artistas são incapazes de meditar uma obra antes de a fazer, desconhecem o que seja a coordenação, pela vontade intelectual, dos elementos fornecidos pela emoção, não sabem o que é a disposição das matérias, ignoram que um poema, não é mais que uma carne de emoção cobrindo um esqueleto de raciocínio. Nenhuma capacidade de atenção e concentração, nenhuma faculdade de inibição. Escrevem ou artistam ao sabor da chamada “inspiração”, que não é mais que um impulso complexo do subconsciente que cumpre sempre submeter, por uma aplicação centrípeta da vontade, à transmutação alquímica da consciência. Produzem como Deus é servido, e Deus fica mal servido. Não sei de poeta português de hoje que, construtivamente, seja de confiança para além do soneto.
Ora, feitos estes reparos analíticos quanto ao estado mental dos nossos homens de talento, é inútil alongar este breve estudo, tratando com igual pormenor a maioria do escol.
Se o escol é assim, como será o não-escol do escol?
Há, porem, um característico comum a ambos esses elementos da nossa camada mental superior, que aos dois irmana , e, irmanados, os dois define: é a ausência de ideias gerais e, portanto, do espírito crítico e filosófico que provém de as ter.
O nosso escol político não tem ideias excepto sobre política, e as que tem sobre política são servilmente plagiadas do estrangeiro – aceites, não porque sejam boas, mas porque são francesas ou italianas, ou russas, ou o que quer que seja.
O nosso escol literário é ainda pior: nem sobre literatura tem ideias. Seria trágico, à força de deixar de ser cómico, o resultado de uma investigação sobre, por exemplo, as ideias dos nossos poetas célebres.
Já não quero que se submetesse qualquer deles ao enxovalho de lhe perguntar o que é a filosofia de Kant ou a teoria da evolução. Bastaria submetê-lo ao enxovalho maior de lhe perguntar o que é o ritmo.
Fernando Pessoa
* Publicado em 1932 na revista Fama, dirigida por Augusto Ferreira Gomes.
Setembro 25, 2005
Orgulho e Preconceito
Os espanhóis preparam-se para encher a Castelhana, face à provável vitória de Fernando Alonso no Mundial de Fórmula 1. E orgulham-se.
Os portugueses, que desde os tempos de Colombo sabem que a Terra não é plana, estão prestes a plebiscitar um sistema em que não acreditam, composto maioritariamente por pessoas que não convidariam para sua casa.
E envergonham-se de o assumir.
Indigno-me, não só porque o patriotismo português é minado pelos processos de manipulação da opinião pública utilizados pelas elites sem escrúpulos, mas principalmente com a nossa falta de coragem moral e espírito crítico.
"Checks and balances", no caso português, significa que os cínicos - em períodos eleitorais - dizem aos eleitores: Vocês só têm os governantes que merecem!
Possam um dia os portugueses ser ingratos!
Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Numa o que é mal numa o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a hora!
Vale, Fratres.
in Mensagem, de Fernando Pessoa
Os portugueses, que desde os tempos de Colombo sabem que a Terra não é plana, estão prestes a plebiscitar um sistema em que não acreditam, composto maioritariamente por pessoas que não convidariam para sua casa.
E envergonham-se de o assumir.
Indigno-me, não só porque o patriotismo português é minado pelos processos de manipulação da opinião pública utilizados pelas elites sem escrúpulos, mas principalmente com a nossa falta de coragem moral e espírito crítico.
"Checks and balances", no caso português, significa que os cínicos - em períodos eleitorais - dizem aos eleitores: Vocês só têm os governantes que merecem!
Possam um dia os portugueses ser ingratos!
Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Numa o que é mal numa o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a hora!
Vale, Fratres.
in Mensagem, de Fernando Pessoa
Setembro 24, 2005
Grandes Causas.. mais ou menos..
Senhor Procurador Geral da República:
Suponha que vivemos num Estado de Direito, onde as decisões dos Tribunais devem ser respeitadas.
Suponha ainda que todos os cidadãos são formalmente iguais perante a Justiça.
Agora, suponha que os portugueses esperam que o senhor dê voz à sua indignação, quando vêm os valores sociais esbulhados de tal forma que sentem vergonha do seu país!
Continua a entender que é simplesmente "uma questão que tem a ver com os cidadãos" e não consigo?
Actualização do post Grandes Causas:
Artur Marques - o advogado da senhora - disse ao Expresso que a decisão é irrecorrível, porquanto a lei só permite o recurso da aplicação da prisão preventiva e não da sua revogação.
Se ele sabe do que fala.. e agora, José?
Mas nem tudo são pesadelos.
A 20 de Novembro, os deuses menores que dão pelo nome de Sigur Rós, tocam no Coliseu, naquele que se espera seja um momento de sonho (li sobre o concerto da semana passada no Beacon Theatre de New York, que fizeram uma pausa de 30 segundos entre duas músicas.. e o público permaneceu em silêncio absoluto!).
Vêm apresentar o novo trabalho - Takk - que se pode ouvir quase na totalidade aqui, em Free Stream.
Para disfrutar, antes que volte ao éter!
Atrás de um vaso de nuvens, um sol acorda da sua letargia, refresca-se com pequenas gotas de chuva, brinca com as chamas do fogo e faz um arco-íris.
Suponha que vivemos num Estado de Direito, onde as decisões dos Tribunais devem ser respeitadas.
Suponha ainda que todos os cidadãos são formalmente iguais perante a Justiça.
Agora, suponha que os portugueses esperam que o senhor dê voz à sua indignação, quando vêm os valores sociais esbulhados de tal forma que sentem vergonha do seu país!
Continua a entender que é simplesmente "uma questão que tem a ver com os cidadãos" e não consigo?
Actualização do post Grandes Causas:
Artur Marques - o advogado da senhora - disse ao Expresso que a decisão é irrecorrível, porquanto a lei só permite o recurso da aplicação da prisão preventiva e não da sua revogação.
Se ele sabe do que fala.. e agora, José?
Mas nem tudo são pesadelos.
A 20 de Novembro, os deuses menores que dão pelo nome de Sigur Rós, tocam no Coliseu, naquele que se espera seja um momento de sonho (li sobre o concerto da semana passada no Beacon Theatre de New York, que fizeram uma pausa de 30 segundos entre duas músicas.. e o público permaneceu em silêncio absoluto!).
Vêm apresentar o novo trabalho - Takk - que se pode ouvir quase na totalidade aqui, em Free Stream.
Para disfrutar, antes que volte ao éter!
Atrás de um vaso de nuvens, um sol acorda da sua letargia, refresca-se com pequenas gotas de chuva, brinca com as chamas do fogo e faz um arco-íris.
Setembro 23, 2005
Resistência aos calendários
Os Verões
Foram longos e ardentes os verões!
Estávamos nus à beira-mar
e o mar ainda mais nu. Com os olhos,
e em nossos corpos ágeis, fazíamos
a mais ditosa possessão do mundo.
Chegavam-nos as vozes acesas de luar
e era a vida cálida e violenta,
ingratos com o sono decorríamos.
O ritmo das ondas tão escuro
abrasava-nos eternos e éramos só tempo.
Apagavam-se os astros na alvorada
e, com a luz que regressava fria,
furioso e delicado principiava o amor.
Parece hoje um engano que fôssemos felizes
à maneira dos deuses, imerecida.
Que estranha e breve foi a juventude!
Francisco Brines, 1986
Setembro 22, 2005
Grandes Causas
Senhor Procurador Geral da República:
Suponha que vivemos num Estado de Direito, onde as decisões dos Tribunais devem ser respeitadas.
Suponha ainda que todos os cidadãos são formalmente iguais perante a Justiça.
Agora, suponha que os portugueses esperam que o senhor dê voz à sua indignação, quando vêm os valores sociais esbulhados de tal forma que sentem vergonha do seu país!
Continua a entender que é simplesmente "uma questão que tem a ver com os cidadãos" e não consigo?
A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou hoje que o Ministério Público (MP) vai recorrer da anulação da prisão preventiva de Fátima Felgueiras, por "não concordar com a decisão" tomada ontem pelo tribunal de Felgueiras. Segundo a lei, o MP tem um prazo de 15 dias para recorrer da decisão.
"Acho que foi uma decisão de um juiz que eu tive que respeitar, tal como o MP respeita. Simplesmente como o Ministério Público não concorda com a decisão tomada vai interpor recurso", afirmou o procurador-geral da República, José Souto Moura, em declarações à RTP.
Confrontado com a possibilidade de os cidadãos ficarem perplexos com esta interpretação da lei, o procurador respondeu: "Isso é uma questão que tem a ver com os cidadãos e não comigo".
"Alguém estaria à espera que eu dissesse que o estado da justiça é bom? Suponho que ninguém está à espera disso", disse ainda Souto Moura.
Fonte: Jornal Público
A exemplo da iniciativa do Abrupto no caso OTA, sobre as declarações do Ministro da Economia, seria do maior interesse que a blogosfera desse mais um sinal inequívoco, difundindo esta pergunta, nestes ou noutros termos que - alguém que partilhe esta indignação - entenda mais adequados.
Suponha que vivemos num Estado de Direito, onde as decisões dos Tribunais devem ser respeitadas.
Suponha ainda que todos os cidadãos são formalmente iguais perante a Justiça.
Agora, suponha que os portugueses esperam que o senhor dê voz à sua indignação, quando vêm os valores sociais esbulhados de tal forma que sentem vergonha do seu país!
Continua a entender que é simplesmente "uma questão que tem a ver com os cidadãos" e não consigo?
A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou hoje que o Ministério Público (MP) vai recorrer da anulação da prisão preventiva de Fátima Felgueiras, por "não concordar com a decisão" tomada ontem pelo tribunal de Felgueiras. Segundo a lei, o MP tem um prazo de 15 dias para recorrer da decisão.
"Acho que foi uma decisão de um juiz que eu tive que respeitar, tal como o MP respeita. Simplesmente como o Ministério Público não concorda com a decisão tomada vai interpor recurso", afirmou o procurador-geral da República, José Souto Moura, em declarações à RTP.
Confrontado com a possibilidade de os cidadãos ficarem perplexos com esta interpretação da lei, o procurador respondeu: "Isso é uma questão que tem a ver com os cidadãos e não comigo".
"Alguém estaria à espera que eu dissesse que o estado da justiça é bom? Suponho que ninguém está à espera disso", disse ainda Souto Moura.
Fonte: Jornal Público
A exemplo da iniciativa do Abrupto no caso OTA, sobre as declarações do Ministro da Economia, seria do maior interesse que a blogosfera desse mais um sinal inequívoco, difundindo esta pergunta, nestes ou noutros termos que - alguém que partilhe esta indignação - entenda mais adequados.
Setembro 21, 2005
Da memória dos homens
Provavelmente, um dos mais terríveis desastres naturais na Europa foi o terramoto que destruiu Lisboa - uma das mais bonitas cidades do Velho Continente - no dia 1 de Novembro de 1755.
Houve três grandes terramotos: o primeiro foi o maior, às 9:40 da manhã. Seguiram-se outros dois, às 10:00 e ao meio-dia.
O choque principal durou seis a sete minutos, uma duração extraordinariamente longa.
Em cerca de seis minutos morreram 30.000 pessoas, a maioria dos edifícios públicos ruiram, bem como cerca de 12.000 habitações.
Era um dia de culto, donde grande parte das perdas humanas ocorreram nas igrejas.
Os incêndios que entretanto deflagraram um pouco por toda a zona da cidade que havia sido afectada, foram alimentados durante cerca de uma semana.
Ainda hoje podemos ver reflexos da devastação de há 250 anos, em locais como o Convento do Carmo e a Sé.
O gosto de revisitarmos a nossa história é hoje facilmente ultrapassado pelo mediatismo de acontecimentos de larga escala, mas de curta memória. É a vida.
Setembro 20, 2005
Eufemismo do dia
"Até o Tiago Monteiro tem mais pontos que o Benfica"
Para aqueles menos familiarizados com as coisas do desporto, o Benfica é um clube de futebol.
qual será o trigésimo quarto resultado?
Em conferência de imprensa que antecedeu a partida de futebol realizada com o Clube Desportivo Nacional ontem à noite no Estádio Eng. Rui Alves, na Madeira, 0 treinador do Sporting Clube de Portugal, senhor José Peseiro, advertiu que o importante é continuar na senda das vitórias, mesmo que seja por... 2-1, o único resultado que os leões conhecem na presente edição da Liga.
Se pudermos repetir amanhã (ontem), não há problema. Aliás, não me importava se conseguíssemos repetir o 2-1 mais 30 jornadas, afirmou o treinador, visivelmente bem disposto.
Mas os outros senhores importam-se!
Tendo conseguido o singular resultado de vencer por duas bolas a uma os três jogos anteriores, e tendo o campeonato - como até o dr Pacheco Pereira* deve saber - 34 jornadas, das duas três: ou o treinador terá pensado que o jogo que veio a perder por 2-1 não contava para o campeonato, ou então só ele sabe porque não fica em casa.
*Bom dia.
Se pudermos repetir amanhã (ontem), não há problema. Aliás, não me importava se conseguíssemos repetir o 2-1 mais 30 jornadas, afirmou o treinador, visivelmente bem disposto.
Mas os outros senhores importam-se!
Tendo conseguido o singular resultado de vencer por duas bolas a uma os três jogos anteriores, e tendo o campeonato - como até o dr Pacheco Pereira* deve saber - 34 jornadas, das duas três: ou o treinador terá pensado que o jogo que veio a perder por 2-1 não contava para o campeonato, ou então só ele sabe porque não fica em casa.
*Bom dia.
Are you going with me?
Travels reflete a digressão da banda nos Estados Unidos em 1982.
São quase duas horas do melhor que Pat Metheny fez até hoje. E fez muito, e bom!
Esta gravação da ECM-1983, pertence com todo o mérito à short list de obras que se ouvem durante uma vida.
A formação contava então com Pat Metheny, Lyle Mays, Steve Rodby, Dan Gottlieb e Nana Vasconcelos.
Disco 1
1. Are You Going With Me?
2. The Fields, The Sky
3. Goodbye
4. Phase Dance
5. Straight On Red
6. Farmer's Trust
Disco 2
1. Extradition
2. Goin' Ahead - (with As Falls Wichita, So Falls Wichita Falls)
3. Travels
4. Song For Bilbao
5. San Lorenzo
Setembro 19, 2005
Referendo: à porta do paraíso ou do inferno?
Concorda que deixe de constituir crime o aborto realizado nas primeiras dez semanas de gravidez, com o consentimento da mulher, em estabelecimento legal de saúde?
Da pressa do PS em convocar um novo referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, relevam, entre outros argumentos, os artificialismos jurídicos para atingir o objectivo:
- Não conseguindo anteriormente aprovar o referendo, alterou a lei; Agora, nos termos do poder legislativo, o argumento das sessões legislativas pretende legitimar um referendo ao qual o Presidente havia dito não!
- Não conseguindo anteriormente aprovar o referendo, alterou a lei; Agora, nos termos do poder legislativo, o argumento das sessões legislativas pretende legitimar um referendo ao qual o Presidente havia dito não!
Mesmo descontando a batalha neo-fundamentalista do CDS, para quem o embrião é uma vida humana (cabe aqui acrescentar que existe alguma confusão entre a defesa da vida e a defesa da vida humana), está longe de estar encerrada a discussão sobre este assunto que afecta - e muito, em muitos casos - a vida de tantas mulheres. E famílias.
Em rigor, definir essa linha divisória entre o embrião e o início da vida, não deve resumir-se a um auto de fé.
Há uma escala de valor no processo que deve ser consensualmente aceite pela comunidade; Antes disso, a discussão sobre o período no qual a interrupção é possível, seja 10 ou 12 semanas, está unicamente assente em noções que são simultaneamente materialistas e panteístas.
Em que termos se fará o referendo, então?
Há uma escala de valor no processo que deve ser consensualmente aceite pela comunidade; Antes disso, a discussão sobre o período no qual a interrupção é possível, seja 10 ou 12 semanas, está unicamente assente em noções que são simultaneamente materialistas e panteístas.
Em que termos se fará o referendo, então?
Setembro 17, 2005
reflexo determinado, ou vice-versa
Clique na imagem para ampliar
Quase
Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul – eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho – ó dor! – quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo... e tudo errou...
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Mário de Sá Carneiro
Setembro 16, 2005
Blasfémias
Após o debate de anteontem, tive o grato prazer de conhecer alguns dos rostos que fazem o Blasfémias, bem como os de alguns convivas que se juntaram à liça.
Excelentes anfitriões, apesar do café, que só se podia tomar no bonito espaço do último piso do Rivoli.
Quanto aos temas fracturantes, espero que continuem a ser debatidos nos blogues, com mais profundidade e de forma menos politicamente correcta.
Após o debate de ontem na Sic-Notícias, onde o próximo maire de Lisboa fez de MMC gato-sapato, não podia ter descido ao nível do seu oponente.
Perdeu uma soberana oportunidade de clarificar desde já porque o candidato socialista é um erro de casting em Lisboa.
Quando se detém este nível de responsabilidade, deve-se possuir poder de encaixe para estes golpes baixos; Se um dia fôr afrontado na rua por um cidadão, não vai certamente reagir assim, Professor!
Por isso – e só por isso – deve um pedido de desculpas.. Aos lisboetas!
Excelentes anfitriões, apesar do café, que só se podia tomar no bonito espaço do último piso do Rivoli.
Quanto aos temas fracturantes, espero que continuem a ser debatidos nos blogues, com mais profundidade e de forma menos politicamente correcta.
Após o debate de ontem na Sic-Notícias, onde o próximo maire de Lisboa fez de MMC gato-sapato, não podia ter descido ao nível do seu oponente.
Perdeu uma soberana oportunidade de clarificar desde já porque o candidato socialista é um erro de casting em Lisboa.
Quando se detém este nível de responsabilidade, deve-se possuir poder de encaixe para estes golpes baixos; Se um dia fôr afrontado na rua por um cidadão, não vai certamente reagir assim, Professor!
Por isso – e só por isso – deve um pedido de desculpas.. Aos lisboetas!
Setembro 14, 2005
Within the Realm of a Dying Sun
Força é pois ir buscar outro caminho!
Lançar o arco de outra nova ponte
Por onde a alma passe – e um alto monte
Aonde se abra à luz o nosso ninho.
Se nos negam aqui o pão e o vinho,
Avante! é largo, imenso, esse horizonte...
Não, não se fecha o Mundo! e além, defronte,
E em toda a parte há luz, vida e carinho!
Avante! os mortos ficarão sepultos...
Mas os vivos que sigam, sacudindo
Como o pó da estrada os velhos cultos!
Doce e brando era o seio de Jesus...
Que importa! havemos de passar, seguindo,
Se além do seio dele houver mais luz!
Antero de Quental
Setembro 13, 2005
Veritas
Maus tratos, como agressão física e abuso sexual; Negligência e carências económicas das famílias, são as principais causas encontradas na investigação efectuada pela Comissão Nacional de Saúde da Criança e do Adolescente (CNSCA).
A terrível revelação de que milhares de crianças hospitalizadas estavam - e estão - em risco social; que quatro a seis em cada dez dessas crianças tem menos de dois anos.
É este, o Portugal do século XXI?
Fonte: Diário de Notícias
Maternidade, de Pablo Picasso
Se puderes guardar o sangue frio diante
de quem fora de si te acusar, e, no instante
em que duvidem de teu ânimo e firmeza,
tu puderes ter fé na própria fortaleza,
sem desprezar contudo a desconfiança alheia...
Se tu puderes não odiar a quem te odeia,
nem pagar com a calunia a quem te calunia,
sem que tires daí motivos de ufania,
sonhar, sem permitir que o sonho te domine,
pensar, sem que em pensar tua ambição se confine,
e esperar sempre e sempre, infatigavelmente...
Se com o mesmo sereno olhar indiferente
puderes encarar a Derrota e a Vitória,
como embustes que são da fortuna ilusória,
e estóico suportar que intrigas e mentiras
deturpem a palavra honesta que profiras...
Se puderes, ao ver em pedaços destruída
pela sorte maldosa, a obra de tua vida,
tomar de novo, a ferramenta desgastada
e sem queixumes vãos, recomeçar do nada...
e tendo loucamente arriscado e perdido
tudo quanto era teu, num só lance atrevido,
se puderes voltar à faina ingrata e dura,
sem aludir jamais à sinistra aventura...
Se tu puderes coração, músculos, nervos
reduzir da vontade à condição de servos,
que, embora exausto, lhe obedeçam ao comando...
Se, andando a par dos reis e com os grandes lidando,
puderes conservar a naturalidade,
e no meio da turba a personalidade,
impávido afrontar adulações, engodos,
opressões, merecer a confiança de todos,
sem que possa contar, todavia, contigo
incondicionalmente o teu melhor amigo...
Se de cada minuto os sessenta segundos
tu puderes tornar com teu suor fecundos...
a Terra será tua, e os bens que se não somem,
e, o que é melhor, meu filho, então serás um Homem!
Carta ao filho, de Rudyard Kipling
Tradução de Alcantara Machado
A terrível revelação de que milhares de crianças hospitalizadas estavam - e estão - em risco social; que quatro a seis em cada dez dessas crianças tem menos de dois anos.
É este, o Portugal do século XXI?
Fonte: Diário de Notícias
Maternidade, de Pablo Picasso
Se puderes guardar o sangue frio diante
de quem fora de si te acusar, e, no instante
em que duvidem de teu ânimo e firmeza,
tu puderes ter fé na própria fortaleza,
sem desprezar contudo a desconfiança alheia...
Se tu puderes não odiar a quem te odeia,
nem pagar com a calunia a quem te calunia,
sem que tires daí motivos de ufania,
sonhar, sem permitir que o sonho te domine,
pensar, sem que em pensar tua ambição se confine,
e esperar sempre e sempre, infatigavelmente...
Se com o mesmo sereno olhar indiferente
puderes encarar a Derrota e a Vitória,
como embustes que são da fortuna ilusória,
e estóico suportar que intrigas e mentiras
deturpem a palavra honesta que profiras...
Se puderes, ao ver em pedaços destruída
pela sorte maldosa, a obra de tua vida,
tomar de novo, a ferramenta desgastada
e sem queixumes vãos, recomeçar do nada...
e tendo loucamente arriscado e perdido
tudo quanto era teu, num só lance atrevido,
se puderes voltar à faina ingrata e dura,
sem aludir jamais à sinistra aventura...
Se tu puderes coração, músculos, nervos
reduzir da vontade à condição de servos,
que, embora exausto, lhe obedeçam ao comando...
Se, andando a par dos reis e com os grandes lidando,
puderes conservar a naturalidade,
e no meio da turba a personalidade,
impávido afrontar adulações, engodos,
opressões, merecer a confiança de todos,
sem que possa contar, todavia, contigo
incondicionalmente o teu melhor amigo...
Se de cada minuto os sessenta segundos
tu puderes tornar com teu suor fecundos...
a Terra será tua, e os bens que se não somem,
e, o que é melhor, meu filho, então serás um Homem!
Carta ao filho, de Rudyard Kipling
Tradução de Alcantara Machado
Setembro 11, 2005
momentos de felicidade
Vencer o primeiro clássico do Centenário.
Ter o estádio inteiro em festa, onde - num derby equilibrado - a felicidade esteve do lado da equipa mais alegre, mais concretizadora das oportunidades criadas; ainda assim, podia ter sido mais feliz!
Depois, ter um Tello capaz de grandes apontamentos como o cruzamento para um grande golo do levezinho.
Ver que o jovem está tão crescido como jogador!
Enfim.. ser sócio do Sporting Clube de Portugal
Ter o estádio inteiro em festa, onde - num derby equilibrado - a felicidade esteve do lado da equipa mais alegre, mais concretizadora das oportunidades criadas; ainda assim, podia ter sido mais feliz!
Depois, ter um Tello capaz de grandes apontamentos como o cruzamento para um grande golo do levezinho.
Ver que o jovem está tão crescido como jogador!
Enfim.. ser sócio do Sporting Clube de Portugal
Setembro 10, 2005
Antecâmara - IV
Está em elaboração o Estatuto do gestor público.
Do Conselho de Ministros de ontem, sairam medidas como:
Descrição obrigatória das remunerções dos gestores nos relatórios de gestão;
Limites para os complementos de reforma e restrições ao uso dos benefícios antes dos 65 anos;
Prémios de desempenho dependentes do cumprimento dos objectivos.
A moralização, no entanto, não afasta os gestores públicos dos Mercados, ou seja, para ter os mais competentes, é necessário apresentar-lhes pacotes salariais atraentes.
Os milagres custam dinheiro!
ÁREA III - SERVIÇOS PÚBLICOS, ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, DESPESA PÚBLICA
1. Qual o nível objectivo de Despesa Pública face ao PIB para daqui a 4 anos? Quais as medidas para alcançar esse objectivo?
Relevância da Questão
Sem uma despesa pública controlada e competitiva face a outros países não será possível ter um sistema fiscal competitivo que estimule o investimento e o trabalho.
Uma Despesa Pública elevada pode revelar uma asfixia da sociedade civil e da iniciativa privada. Actualmente a Despesa Pública representa cerca de 48% do PIB, o que coloca Portugal na média Europeia mas com uma tendência crescente face a uma tendência decrescente dessa média.
Os dois principais factores de pressão na Despesa Pública são o custo com pessoal dos funcionários públicos e as contribuições para a Segurança Social.
2. Quanto e como se vai reduzir o peso das despesas com funcionários públicos no PIB? Que política de pessoal para a administração Pública? Que incentivos à produtividade? Que incentivos à mobilidade e requalificação?
Relevância da questão
Para um rácio de despesa total 1.3 p.p. abaixo da média europeia, as despesas com pessoal representam uma proporção 40% superior à média europeia. Esta desproporção é um sinal de ineficiência da administração e uma explicação do elevado nível da despesa.
Gestores públicos vão ganhar menos
3. Que objectivo para o défice público estrutural e para a dívida pública? Com que acções se propõe alcançar esse objectivo: impostos, despesa, ou outra?
Relevância da Questão
A acumulação de dívida pública (cujo rácio está actualmente acima dos 60%, valor de referência do PEC) é um encargo transmitido às gerações futuras (constituindo direitos de saque sobre os seus impostos).
O envelhecimento da população vai aumentar as necessidades futuras de despesa (pensões e saúde, nomeadamente) pelo que a dívida transmitida à geração futura vai tornar mais difícil mobilizar recursos para aquelas necessidades, obrigando a aumentar impostos para níveis incomportáveis ou a cortar nos benefícios sociais.
4. Que objectivo para a carga fiscal sobre a economia? Que impostos se pretende modificar e com que impacto? IRS, IRC, IVA, outros?
Relevância da questão
Os recursos desviados da economia privada diminuem a capacidade de investimento deste sector, afectando a eficiência da economia.
Nos últimos 10 anos, enquanto a carga fiscal (sobre o PIB) média europeia se manteve estável, em Portugal aumentou 2.5 pp.
5. Como assegurar a transparência e credibilidade das contas públicas? Como assegurar a transparência de todas as responsabilidades do Estado financeiras do Estado (incluindo as que estão fora do perímetro de consolidação das Administrações Públicas?)
Relevância da questão
O conhecimento da dimensão dos problemas é um dado fundamental para a sua possível solução.
As empresas públicas geralmente deficitárias (transportes nomeadamente) são um instrumento de acção social do Estado e como tal as suas responsabilidades financeiras são dívida do Estado que não costuma aparecer nas estatísticas oficiais por supostamente reportarem ao “universo empresarial”.
O aumento não acompanhado destas responsabilidades é uma forma de aumento encapotado de dívida pública, com as mesmas consequências da dívida “oficial”.
Do Conselho de Ministros de ontem, sairam medidas como:
Descrição obrigatória das remunerções dos gestores nos relatórios de gestão;
Limites para os complementos de reforma e restrições ao uso dos benefícios antes dos 65 anos;
Prémios de desempenho dependentes do cumprimento dos objectivos.
A moralização, no entanto, não afasta os gestores públicos dos Mercados, ou seja, para ter os mais competentes, é necessário apresentar-lhes pacotes salariais atraentes.
Os milagres custam dinheiro!
ÁREA III - SERVIÇOS PÚBLICOS, ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, DESPESA PÚBLICA
1. Qual o nível objectivo de Despesa Pública face ao PIB para daqui a 4 anos? Quais as medidas para alcançar esse objectivo?
Relevância da Questão
Sem uma despesa pública controlada e competitiva face a outros países não será possível ter um sistema fiscal competitivo que estimule o investimento e o trabalho.
Uma Despesa Pública elevada pode revelar uma asfixia da sociedade civil e da iniciativa privada. Actualmente a Despesa Pública representa cerca de 48% do PIB, o que coloca Portugal na média Europeia mas com uma tendência crescente face a uma tendência decrescente dessa média.
Os dois principais factores de pressão na Despesa Pública são o custo com pessoal dos funcionários públicos e as contribuições para a Segurança Social.
2. Quanto e como se vai reduzir o peso das despesas com funcionários públicos no PIB? Que política de pessoal para a administração Pública? Que incentivos à produtividade? Que incentivos à mobilidade e requalificação?
Relevância da questão
Para um rácio de despesa total 1.3 p.p. abaixo da média europeia, as despesas com pessoal representam uma proporção 40% superior à média europeia. Esta desproporção é um sinal de ineficiência da administração e uma explicação do elevado nível da despesa.
Gestores públicos vão ganhar menos
3. Que objectivo para o défice público estrutural e para a dívida pública? Com que acções se propõe alcançar esse objectivo: impostos, despesa, ou outra?
Relevância da Questão
A acumulação de dívida pública (cujo rácio está actualmente acima dos 60%, valor de referência do PEC) é um encargo transmitido às gerações futuras (constituindo direitos de saque sobre os seus impostos).
O envelhecimento da população vai aumentar as necessidades futuras de despesa (pensões e saúde, nomeadamente) pelo que a dívida transmitida à geração futura vai tornar mais difícil mobilizar recursos para aquelas necessidades, obrigando a aumentar impostos para níveis incomportáveis ou a cortar nos benefícios sociais.
4. Que objectivo para a carga fiscal sobre a economia? Que impostos se pretende modificar e com que impacto? IRS, IRC, IVA, outros?
Relevância da questão
Os recursos desviados da economia privada diminuem a capacidade de investimento deste sector, afectando a eficiência da economia.
Nos últimos 10 anos, enquanto a carga fiscal (sobre o PIB) média europeia se manteve estável, em Portugal aumentou 2.5 pp.
5. Como assegurar a transparência e credibilidade das contas públicas? Como assegurar a transparência de todas as responsabilidades do Estado financeiras do Estado (incluindo as que estão fora do perímetro de consolidação das Administrações Públicas?)
Relevância da questão
O conhecimento da dimensão dos problemas é um dado fundamental para a sua possível solução.
As empresas públicas geralmente deficitárias (transportes nomeadamente) são um instrumento de acção social do Estado e como tal as suas responsabilidades financeiras são dívida do Estado que não costuma aparecer nas estatísticas oficiais por supostamente reportarem ao “universo empresarial”.
O aumento não acompanhado destas responsabilidades é uma forma de aumento encapotado de dívida pública, com as mesmas consequências da dívida “oficial”.
Setembro 8, 2005
Ligações perigosas
The Rape of Ganymede, de Damiano Mazza - 1570-90
Ganymede, um belo pastor, foi arrebatado das colinas por Zeus - sob a forma de águia - e levado para o Monte Olimpo.
Setembro 6, 2005
Da interpretação dos sonhos
Pelo menos dois ilustres lampiões, este senhor e este senhor devem estar a sofrer oscilações no tálamo cortical.
Em vigília, desejariam que o guarda-redes do Sporting Clube de Portugal e da Selecção de todos nós, estivesse ao serviço do glorioso..
Durante o sono profundo, convencem-se que o treinador do Sporting é esperto e que vai convocar o Ricardo para o derby - medo, muito medo - pensam eles de que!
Eu sei que a realidade é dura, por isso belisquem-se - não estão a sonhar - terão de enfrentar a contingência de o Ricardo ser titular, não porque o treinador seja esperto, claro, mas pela simples razão de que é o melhor guarda-redes a jogar em Portugal!
O que deverão considerar como uma lisonja.
Saudações Leoninas
Em vigília, desejariam que o guarda-redes do Sporting Clube de Portugal e da Selecção de todos nós, estivesse ao serviço do glorioso..
Durante o sono profundo, convencem-se que o treinador do Sporting é esperto e que vai convocar o Ricardo para o derby - medo, muito medo - pensam eles de que!
Eu sei que a realidade é dura, por isso belisquem-se - não estão a sonhar - terão de enfrentar a contingência de o Ricardo ser titular, não porque o treinador seja esperto, claro, mas pela simples razão de que é o melhor guarda-redes a jogar em Portugal!
O que deverão considerar como uma lisonja.
Saudações Leoninas
Setembro 4, 2005
Vale encantado II
Após meia-hora de carro por uma estrada sinuosa, ladeada de amendoeiras, chegar a este lugar sem saída e ter este rio e estas montanhas só para mim, constituem o maior prazer solitário destes tórridos dias de verão.
Do verão inteiro, melhor dizendo.
A água fresca e calma do Douro, o silêncio absoluto, adiam a vontade de fazer o caminho de regresso..
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Súplica
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
Miguel Torga
Do verão inteiro, melhor dizendo.
A água fresca e calma do Douro, o silêncio absoluto, adiam a vontade de fazer o caminho de regresso..
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Súplica
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
Miguel Torga
Setembro 2, 2005
Vale encantado
Aqui, nas encostas de Vila Nova de Foz-Côa até ao Pocinho, nas margens do Douro, não há vestígios de incêndios.
Não tenho tido oportunidade de ver muitas paisagens assim este verão - nem no Minho!
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Mas há sinais muito claros de seca.. como há muito tempo as pessoas não se lembram. Sem sinais de chuva há mais de um ano, não há colheita que resista!
Salva-se a apanha da amêndoa, pois as vinhas, sempre carregadas de trincadeira, estão reduzidas ao que os pássaros deixaram. A uva, muito pequena e dôce como mel, assegura graduação no vinho, mas é consensual que a produção será reduzida.
Estes caminhos de pedra de xisto ladeado de vinhedo são um suplemento de alma.
As elevadas temperaturas, a rondar os quarenta graus, aconselham passadas pequenas, o que ajuda a saborear melhor o passeio pela encosta íngreme..
Já estou com saudades..
Não tenho tido oportunidade de ver muitas paisagens assim este verão - nem no Minho!
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Mas há sinais muito claros de seca.. como há muito tempo as pessoas não se lembram. Sem sinais de chuva há mais de um ano, não há colheita que resista!
Salva-se a apanha da amêndoa, pois as vinhas, sempre carregadas de trincadeira, estão reduzidas ao que os pássaros deixaram. A uva, muito pequena e dôce como mel, assegura graduação no vinho, mas é consensual que a produção será reduzida.
Estes caminhos de pedra de xisto ladeado de vinhedo são um suplemento de alma.
As elevadas temperaturas, a rondar os quarenta graus, aconselham passadas pequenas, o que ajuda a saborear melhor o passeio pela encosta íngreme..
Já estou com saudades..
Setembro 1, 2005
Objecto Astronómico do dia
O Buraco Negro
Le Petit Prince - Antoine de Saint-Exupery
Chapitre XVII
Quand on veut faire de l'esprit, il arrive que l'on mente un peu. Je n'ai pas été très honnête en vous parlant des allumeurs de réverbères. Je risque de donner une fausse idée de notre planète à ceux qui ne la connaissent pas. Les hommes occupent très peu de place sur la terre. Si les deux milliards d'habitants qui peuplent la terre se tenaient debout et un peu serrés, comme pour un meeting ils logeraient aisément sur une place publique de vingt milles de long sur vingt milles de large. On pourrait entasser l'humanité sur le moindre petit îlot du Pacifique.
Les grandes personnes, bien sûr, ne vous croiront pas. Elles s'imaginent tenir beaucoup de place. Elles se voient importantes comme les baobabs. Vous leur conseillerez donc de faire le calcul. Elles adorent les chiffres: ça leur plaira. Mais ne perdez pas votre temps à ce pensum. C'est inutile. Vous avez confiance en moi.
Le petit prince, une fois sur terre, fut bien surpris de ne voir personne. Il avait déjà peur de s'être trompé de planète, quand un anneau couleur de lune remua dans le sable.
- Bonne nuit, fit le petit prince à tout hasard.
- Bonne nuit fit le serpent.
- Sur quelle planète suis-je tombé? Demanda le petit prince.
- Sur la Terre, en Afrique, répondit le serpent.
- Ah!... Il n'y a donc personne sur la Terre?
- Ici c'est le désert. Il n'y a personne dans les déserts. La Terre est grande, dit le serpent.
Le petit prince s'assit sur une pierre et leva les yeux vers le ciel:
- Je me demande, dit-il, si les étoiles sont éclairées afin que chacun puisse un jour retrouver la sienne. Regarde ma planète. Elle est juste au-dessus de nous... Mais comme elle est loin!
- Elle est belle, dit le serpent. Que viens-tu faire ici?
- J'ai des difficultés avec une fleur, dit le petit prince.
- Ah! fit le serpent.
Et ils se turent.
- Où sont les hommes? Reprit enfin le petit prince. On est un peu seul dans le désert...
- On est seul aussi chez les hommes, dit le serpent.
Le petit prince le regarda longtemps:
- Tu es un drôle de bête, lui dit-il enfin, mince comme un doigt...
- Mais je suis plus puissant que le doigt d'un roi, dit le serpent.
Le petit prince eut un sourire:
- Tu n'est pas bien puissant... tu n'as même pas de pattes... tu ne peux même pas voyager...
- Je puis t'emporter plus loin qu'un navire, dit le serpent.
Il s'enroula autour de la cheville du petit prince, comme un bracelet d'or :
- Celui que je touche, je rends à la terre dont il est sorti, dit-il encore. Mais tu es pur et tu viens d'une étoile...
Le petit prince ne répondit rien.
- Tu me fais pitié, toi si faible, sur cette Terre de granit. Je puis t'aider un jour si tu regrettes trop ta planète. Je puis...
- Oh! J'ai très bien compris, fit le petit prince, mais pourquoi parles-tu toujours par énigmes?
- Je les résous toutes, dit le serpent.
Et ils se turent.
Quand on veut faire de l'esprit, il arrive que l'on mente un peu. Je n'ai pas été très honnête en vous parlant des allumeurs de réverbères. Je risque de donner une fausse idée de notre planète à ceux qui ne la connaissent pas. Les hommes occupent très peu de place sur la terre. Si les deux milliards d'habitants qui peuplent la terre se tenaient debout et un peu serrés, comme pour un meeting ils logeraient aisément sur une place publique de vingt milles de long sur vingt milles de large. On pourrait entasser l'humanité sur le moindre petit îlot du Pacifique.
Les grandes personnes, bien sûr, ne vous croiront pas. Elles s'imaginent tenir beaucoup de place. Elles se voient importantes comme les baobabs. Vous leur conseillerez donc de faire le calcul. Elles adorent les chiffres: ça leur plaira. Mais ne perdez pas votre temps à ce pensum. C'est inutile. Vous avez confiance en moi.
Le petit prince, une fois sur terre, fut bien surpris de ne voir personne. Il avait déjà peur de s'être trompé de planète, quand un anneau couleur de lune remua dans le sable.
- Bonne nuit, fit le petit prince à tout hasard.
- Bonne nuit fit le serpent.
- Sur quelle planète suis-je tombé? Demanda le petit prince.
- Sur la Terre, en Afrique, répondit le serpent.
- Ah!... Il n'y a donc personne sur la Terre?
- Ici c'est le désert. Il n'y a personne dans les déserts. La Terre est grande, dit le serpent.
Le petit prince s'assit sur une pierre et leva les yeux vers le ciel:
- Je me demande, dit-il, si les étoiles sont éclairées afin que chacun puisse un jour retrouver la sienne. Regarde ma planète. Elle est juste au-dessus de nous... Mais comme elle est loin!
- Elle est belle, dit le serpent. Que viens-tu faire ici?
- J'ai des difficultés avec une fleur, dit le petit prince.
- Ah! fit le serpent.
Et ils se turent.
- Où sont les hommes? Reprit enfin le petit prince. On est un peu seul dans le désert...
- On est seul aussi chez les hommes, dit le serpent.
Le petit prince le regarda longtemps:
- Tu es un drôle de bête, lui dit-il enfin, mince comme un doigt...
- Mais je suis plus puissant que le doigt d'un roi, dit le serpent.
Le petit prince eut un sourire:
- Tu n'est pas bien puissant... tu n'as même pas de pattes... tu ne peux même pas voyager...
- Je puis t'emporter plus loin qu'un navire, dit le serpent.
Il s'enroula autour de la cheville du petit prince, comme un bracelet d'or :
- Celui que je touche, je rends à la terre dont il est sorti, dit-il encore. Mais tu es pur et tu viens d'une étoile...
Le petit prince ne répondit rien.
- Tu me fais pitié, toi si faible, sur cette Terre de granit. Je puis t'aider un jour si tu regrettes trop ta planète. Je puis...
- Oh! J'ai très bien compris, fit le petit prince, mais pourquoi parles-tu toujours par énigmes?
- Je les résous toutes, dit le serpent.
Et ils se turent.