Janeiro 30, 2006

Um Reino Maravilhoso 

A memória nostálgica e distante da terra mítica de onde se abrange o resto de Portugal, neste Conto de Miguel Torga-1941, com as ilustrações antropomorfizadas de Graça Morais, de quem poderemos ver até início de Abril a Exposição "Os Olhos Azuis do Mar".
Espero que todos os estrangeiros que amam estes dois portugueses maiores, tenham curiosidade e paciência para o disfrutar!



Vou falar-lhes dum reino maravilhoso.

Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo.
O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o coração,depois, não hesite.
Ora, o que pretendo mostrar, meu e de todos os que queiram merecê-lo, não só existe como é dos mais belos que se possam imaginar.
Começa logo porque fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos. E quem namora ninhos cá de baixo, se realmente é rapaz e não tem medo das alturas, depois de trepara e atingir a crista do sonho, contempla a própria bem-aventurança.




Vê-se primeiro um mar de pedras.
Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador.
Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto, a anunciar o começo de uma grande hora.
De repente, rasga a espessura do silêncio uma voz de franqueza desembainhada:
- Para cá do Marão, mandam os que cá estão!...

Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro.
Que penedo falou?
Que terror respeitoso se apodera de nós?
Mas de nada vale interrogar o grande oceano megalítico, porque o nume invisível ordena:
- Entre!





A gente entra, e já está no Reino Maravilhoso.
Reino, nestes livros sinistros que são os dicionários, é um substantivo masculino com rei à frente. Imaginem!... Como se fossem suficientes um léxico e um monarca para definir e governar uma realidade irreal!
Pelo que diz respeito a mandar, é o que sabemos:
- Para cá do Marão... Mandam todos.
O poder que atravessa a muralha e penetra ali, se tem corpo, se tem nome, ou perde a marca individual e se transforma em símbolo, ou morre. Tem de ser sempre, quer seja Pio X ou Pio XII, o «nosso Santo Papa Leão XIII», que é quem a Maria Purificada elege em cada conclave na sua Vila de Freixo de Espada à Cinta...
Incapazes de uma obediência imposta de fora, os habitantes da terra apenas consideram naturais e legítimos os imperativos da própria consciência.





O eco duma ordem estranha à sua harmonia interior desliza pela crosta das almas sem as perturbar. As mais altas dignidades de além-fronteiras nada mais representam do que puras expressões nominais de valores abstractos.
Meta-se um cristão por qualquer dos caminhos que levam ao coração geográfico desse mundo encantado. De certeza que lhe aparece um semelhante de aguilhada na mão, socos pregados e roupa de saragoça, a perguntar:
- Ó meu senhor, sempre é verdade que o nosso rei agora é o Doutor Afonso Costa?
Faça o que fizer o Tamerlão invasor, a mesma vontade que ele julga dobrar o desroíza e vence. É ela que, a bem ou a mal, acaba por dispor das riquezas que lhe pertencem: das águas de regadio, dos baldios, da mulher e dos filhos, de si. De tudo o que na vida material e espiritual tem grandeza e sentido. No pormenor, no que não é seiva de ninguém, dão sentenças o Regedor e o Senhor Abade, que, afinal, pregam editais nas portas e sermões nas igrejas...





A autoridade emana da força interior que cada qual traz do berço. Dum berço que oficialmente vai de Vila Real a Montalegre, de Vinhais a Bragança, de Bragança a Miranda, de Miranda a Freixo, de Freixo à Barca de Alva, da Barca à Régua e da Régua novamente a Vila Real, mas a que pertencem Foz Côa, Meda, Moimenta e Lamego - toda a vertente esquerda do Doiro até aos contrafortes do Montemuro, carne administrativamente enxertada num corpo alheio, que através do Côa, do Távora, do Torto, do Varosa e do Balsemão desagua na grande veia cava materna as lágrimas do exílio.
Um mundo! Um nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir ao céu, como se afunda nuns abismos de angústia, não se sabe por que telúrica contrição.





Terra-Quente e Terra-Fria. Léguas e léguas de chão raivoso, contorcido, queimado por um sol de fogo ou por um frio de neve. Serras sobrepostas a serras. Montanhas paralelas a montanhas. Nos intervalos, apertados entre os lapedos, rios de água cristalina, cantantes, a matar a sede de tanta aridez. E de quando em quando, oásis da inquietação que fez tais rugas geológicas, um vale imenso, dum húmus puro, onde a vista descansa da agressão das penedias.





Veigas que alegram Chaves, Vila Pouca, Vilariça, Mirandela, Bragança e Vinhais.
Mas novamente o granito protesta. Novamente nos acorda para a força medular de tudo. E são outra vez serras, até perder de vista.
Não se vê por que maneira este solo é capaz de dar pão e vinho. Mas dá. Pão de milho, de centeio, de cevada e de trigo. Pão integral. Por ser pão e por ser amassado com o suor do rosto. Sabe a trabalho. Mas é por isso que os naturais o beijam quando ele cai no chão...
O vinho é de moscatel, alvarelhão, penaguiota, malvasia fina, e mana das fragas à ordem de vozes imperiosas como a de Moisés quando feria a pedra do Horeb - a vara mágica patriarca substituída agora por um alvião de saibramento. Por toda a parte apetece saboreá-lo, porque mesmo onde a neve, o sincelo e o suão crestam a esperança, mesmo aí ele parece veludo no paladar. Mas há lugares santos onde a santidade é maior. Assim acontece no Roncão, Samos de todos os Samos.
Nas margens de um rio de oiro, cruxificado ente o calor que de cima o bebe e a sede do leito que debaixo o seca, erguem-se os muros do milagre. Em íngremes socalcos, varandins que nenhum palácio aveza, crescem as cepas como os manjericos às janelas. No Setembro, os homens descem as eiras da Terra-Fria e descem, em rogas, a escadaria do lagar de xisto. Cantam, dançam e trabalham. Depois sobem. E daí a pouco há sol engarrafado a embebedar os quatro cantos do mundo.





Mas a terra é a própria generosidade ao natural. Como num paraíso, basta estender a mão. Produz batata, azeite, cortiça e linho. Batata farinhuda, que se desfaz na boca; azeite loiro, que sai em luz da almotolia; cortiça que deixa os sobreiros nus para agasalhar os enxames; e linho fresco, fino, que, tecido em lençois, faz o bragal das noivas.
De figos, nozes, amêndoas, maçãs, peras, cerejas e laranjas nem vale a pena falar. São mimos dum pomar variegado, que nenhuma imaginação descreve quando a Primavera estala nos ramos.
Ver uma encosta de Barca de Alva coberta de flores de amendoeira, ou o Solar de Mateus a emergir dum mar de corolas sortidas, é contemplar o inefável. Mas o fruto dos frutos, o único que ao mesmo tempo alimenta e simboliza, cai dumas árvores altas, imensas, centenárias, que, puras como vestais, parecem encarnar a virgindade da própria paisagem. Só em Novembro as agita uma inquietação funda, dolorosa, que as faz lançar ao chão lágrimas que são ouriços. Abrindo-as, essas lágrimas eriçadas de espinhos deixam ver numa cama fofa a maravilha singular de que falo, tão desafectada que até no próprio nome é doce e modesta - a castanha.
Assada, no S. Martinho, serve de lastro à prova do vinho novo. Cozida, no Janeiro glacial, aquece as mãos e a boca de pobres e ricos. Crua, engorda os porcos, com a vossa licença...





É destes que se tem de partir para chegar à trindade tradicional do reino: os presuntos, as alheiras e os salpicões.
Por alturas do Natal, começa a matança. Ao romper da manhã, a paz de cada povoado é subitamente alarmada. Um grito esfaqueado irrompe do silêncio. Dias depois desmancha-se a bisarma, e um pálio de fumeiro cobre a lareira.
Quem não comeu ainda desses manjares ensacados, prove... E há-de encontrar neles o sabor das invernadas passadas ao borralho enquanto a neve cai, o perfume das graças dadas por alma daqueles que Deus tem, a magia da história de João de Calais contada aos filhos, e uma ciência infusa de temperar, que vem desde que a primeira nau chegou à Índia.
Mas o panorama zoológico não se fica pelo animal de vista baixa que se desfaz em torresmos e chouriços. Passando pelo lobo do Eusébio Macário, que só por si vale um tigre do Kipling, pelo boi de Miranda, que só lhe falta falar, e pelo bicho-da-seda que de Bragança aveludou em tempos Ceca e Meca, temos ainda a perdiz, a fera da Mantelinha, que nenhum forasteiro deve deixar de ver.





Em Outubro, quando o sol ainda a espreguiçar-se de sono lava a cara na fonte de Casal de Loivos, certo perdigueiro, que sobe o monte colado ao chão, já com um aceno perfumado a fazer-lhe cócegas no nariz, pára de repente siderado. Manda-se-lhe dar a pancada. O navarro entra, e só então Sua Senhoria aparece.
Cabeça alta de quem olha o mundo de cima, peito largo aberto ao vento, pés seguros de almocreve.
- Pfrrruuu...u...u. Lá vai ela!
Quando o tiro lhe acerta e cai, parece uma deusa morta...
No cinto, ainda se lhe tem respeito...

A truta, que representa com dignidade e bravura o mundo da barbatana, é nos açudes que mostra o que é. Sobe por eles acima como os rapazes pelos mastros ensebados, e só com sofismas a pescam uns filósofos sem filosofia, que vale a pena observar, de cana em riste e saltão no anzol.
Quem for a Boticas, coma um peixinho e beba-lhe «vinho de mortos» em cima. Pelo que houver, fico. Acudo-lhe com o único remédio decente que se conhece para moela fraca - um quarto de Pedras ou Vidago, águas minerais que nascem perto.
A terra é de tal natureza que, não contente com as dádivas a céu aberto, encerra nas entranhas riquezas que não têm conto. Entra-se no ventre duma serra, e é ferro, é oiro, é chumbo, é estanho, é volfrâmio, é zinco, é urânio, é tudo quanto Vulcano forjou. Caldas, então, é um benza-te Deus. São famosas as de Carrelão, as de Moledo, as de Alfaião, as de Chaves, as de Carvalhelhos e as de Sabroso - porque todas elas fazem milagres perfeitos.
E vêm então peregrinos de muito longe - gente que arrebentou ou se envenenou a comer um boi e a beber um tonel - curar nelas o estômago, o fígado, a gota, os eczemas e a melancolia. Tomam-nas durante quinze dias. Ao cabo, regressam, de corpo e alma nova.





Os naturais é que raramente precisam delas, por serem homens de muita saúde e sobriedade.
Homens de uma só peça, inteiriços, altos e espadaúdos, que olham de frente e têm no rosto as mesmas rugas do chão. Castiços nos usos e costumes, cobrem-se com varinos, croças, capuchas e mais roupas de serrobeco ou de colmo, e nas grandes ocasiões ostentam uma capa de honras, que nenhum rei! Usam todos bigode e alguns suíças.
E põem uma dignidade tal, um sentido tão profundo da pessoa humana, que é de a gente se maravilhar.





Às vezes agridem-se uns aos outros com tamanha violência que parecem feras. Mas olhados de perto esses nefandos crimes, vê-se que os motiva apenas uma exacerbação de puras e cristalinas virtudes, que só não são teologias porque Deus não quer.
Fiéis à palavra dada, amigos do seu amigo, valentes e leais, é movidos por altos sentimentos que matam ou morrem.
Ufanos da alma que herdaram, querem-na sempre lavada, nem que seja com sangue. A lendária franqueza que vem nos livros, é deles, realmente. Mas radica na mesma força interior que, levada à cegueira da exaltação, pode chegar ao assassínio. Bata-se a uma porta, rica ou pobre, e sempre a mesma voz confiada nos responde:
- Entre quem é!





Sem ninguém perguntar mais nada, sem ninguém vir à janela espreitar, escancara-se a intimidade duma família inteira. O que é preciso agora é merecer a magnificência da dádiva. Nos códigos e no catecismo o pecado de orgulho é dos piores. Talvez que os códigos e o catecismo tenham razão. Resta saber se haverá coisa mais bela nesta vida do que o puro dom de se olhar um estranho como se ele fosse um irmão bem-vindo, embora o preço da desilusão seja às vezes uma facada.
Dentro ou fora do seu dólmen (mania que eu tenho de chamar aos buracos onde vive a maioria) estes homens não têm medo senão da pequenez. Medo de ficarem aquém do estalão por onde, desde que o mundo é mundo, se mede à hora da morte o tamanho de uma criatura.





Acossados pela necessidade e pelo amor da aventura, aos vinte anos (se não tiver sido antes), depois da militança, alguns emigram para as Arábias de além-mar. Brasis, Áfricas e Oceanias. Metem toda a quimera numa saca de retalhos, e lá vão eles. Mourejam como leões, fundam centros de solidariedade humana por toda a parte, deixam um rasto luminoso por onde passam, e voltam mais tarde, aos sessenta, de corrente ao peito, cachucho no dedo, e com a mesma quimera numa mala de couro.
Gastam cem contos numa pedreira a fazer uma horta, controem um casarão com duas águias no telhado, e respondem com um ar manhosos a quem lhes censura um amor tão desvairado às berças:
- Infeliz pássaro que nasce em ruim ninho...
E continuam a comer talhadas de presunto cru.
Os que ficam, cavam a vida inteira. E, quando se cansam, deitam-se no caixão com a serenidade de quem chega honradamente ao fim dum longo e trabalhoso dia. E ali ficam nuns cemitérios de lívida desilusão, à espera que a lei da terra os transforme em ciprestes e granito.





Alegrias gratuitas têm poucas. Embebedam-se nas festas e nas feiras, batem a cana-verde nos dias grandes, e gozam os robertos e as vistas que levam de povo em povo um sofisma de ventriloquia e a irrealidade serôdia das terras do Preste João.

- Ó Zé Roberto:
Queres casar comigo, que sou uma rapariga bem boa?
Bem boa! Bem boa! Bem boa!
- Olha o «Vatícano», olha o «Vatícano», com as suas 365 janelas e o Papa a olhar a uma delas... Quem quer ver?





Nas romarias, verdadeiramente, não se divertem. Pagam nelas o dízimo espiritual ao santo ou à santa com quem têm contratos pelo ano fora, e fazem a barrela das suas relações humanas.
A capela da devoção fica no alto do mais alto monte que rodeia a freguesia. E eles sobem então pela serra acima, quer à vara do pálio, quer a alombar o andor, quer de joelhos, a abrir uma chaga de sofrimento no corpo pecador - mas sem tirar os olhos do inimigo com quem hão-de medir forças no arraial. Ao descer, vêm numa manta, esfaqueados.
Dessas mortes ficam pelos caminhos memórias de pedra com alminhas do purgatório a pedir orações, que são a História íntima do reino resumida em padre-nossos. A outra, toda feita de lendas e fantasia, tem o seu tombo no coração dos que são poetas, e conta-se nas fiadas.
Na loja dos bois, ao calor aconchegado da bosta quente a fermentar a palha, envolto na luz pacífica de uma candeia de azeite, o rapsodo mais velho começa:

- No tempo da Princesa Clarimunda...





À meia-noite o fuso pára nas mãos adormecidas das fiandeiras. Erguem-se todos.
Mas no dia seguinte chega-se ao fim. De Celtas, Iberos, Romanos, Moiros, etc. e tal, e dos do tempo dos afonsinos, os velhos dão pouca relação. Em todo o caso mostram os dólmenes do Alvão, a Porca de Murça, a ara do deus Aerno, os castros defeitos, os altares de Panóias, a ponte romana de Chaves e a Domus Municipalis de Bragança.
O tempo mudou os símbolos da fé, deliu as inscrições sagradas, e relegou para a penumbra da arqueologia o que foi vivo e útil. Por isso, olham todas essas relíquias numa espécie de melancolia esquiva. Renúncia incorformada, que, num desesperado esforço, de encontrar os secretos tesoiros da unidade eterna, às vezes os leva a meter um cartucho de dinamite nas pedras veneráveis, a ver se elas resistem à inquitação do presente.





É certo que há escolas pelo país a cabo onde as leis inexoráveis do perecível e do imperecível são explicadas. De uma sei eu em que certa palmatória de cinco olhos faz decorar tudo quanto no mundo se descobriu até à raiz quadrada.
Mas mesmo nos reinos maravilhosos acontece a desgraça de o povo saber duma maneira e as escolas saberem doutra. Acabado o exame da quarta classe, cada qual trata de sepultar sob uma leiva, o mais depressa que pode, a ciência que aprendeu.
A não ser o Senhor Varatojo, que dá sota e ás ao mais pintado doutor. Na inquebrantável decisão de levar tudo ao fim, na teimosia que, uma vez segura da sua verdade, não cede a nenhum argumento, e no gosto inquieto de conhecer, podia ter sido um novo Fernão de Magalhães, a dar a volta aos mundos de agora.
Mas como a pátria não convida os filhos para tais empresas, empregou-se na câmara, come do bom e do melhor, à custa de quem lho vai meter no bico, toca bandolim, e lê quantos romances se escreveram. Depois conta-os na farmácia, e pinta o diabo se alguém o desmente.





- Tenho a certeza matemática! - Grita congestionado.
E tem, porque sabe de cor as vírgulas e as peripécias. Outro dia chegou mesmo a ir a Paris, só para ver num parque público o banco onde uma heroína qualquer deu um beijo ao namorado. Entra esbaforido na estação da Vila, pede um bilhete, e aí vai ele. Chegou lá, não quis saber de mais nada:
- Faça favor: onde é o Bosque de Bolonha?
Olhavam-no todos como quem olha um fenómeno, mas sempre lhe disseram. Parecia um tiro pelas ruas a cabo.
Ao fim duma hora de caminho, chegou ao sítio. Examinou, calculou, andou, virou, tornou, até que deixou sair do peito um arranco de triunfo:
- Foi neste!
- Neste, o quê?!
Então ele explicou. Assombrados e cépticos, os de lá puseram-se a rir.





Felizmente que o romance estava escrito em francês...
E como alguém duvidasse, já não do juízo do homem, mas de tudo se ter passado mesmo, mesmo naquele banco, o Senhor Varatojo mostrou a página do livro, tirou do bolso do colete o relógio, e provou:
- A cena passa-se no dia 24 de Agosto, às quatro horas. Ora bem: estamos a 24 de Agosto e são quatro horas em ponto. O banco onde os dois se sentaram tinha sombra. não há mais nenhum com sombra. Portanto...
Meteu-se outra vez no comboio, cabeçudo, e retomou as suas funções, sentado à secretária, sempre com as virtudes do povo na ponta da língua, a garantir que Camilo é o cronista do Reino, e a confessar que vai todas as noites ao jardim da Carreira ouvi-lo sobre política, religião e literatura. Ainda não encontrou fonte onde bebesse com tanto gosto...





Os contribuintes pagam a décima e riem-se. Que diz o Senhor Varatojo?! O Camilo! O Camilo levou mas foi uma grande coça na Senhora da Azinheira, outra na Senhora da Saúde, outra na Senhora dos Remédios... Fazia-se fino!...
Engole em seco e muda de conversa. Como é também da mesma laia, capaz de cobiçar a mulher do próximo e varrer uma feira a estadulho, não insiste. Sabe muito bem que vive entre irmãos que não mudam de camisa para esbofetear o mais pintado, seja ele o autor do Amor de Perdição, mas que também lhe tiram o chapéu, caso o mereça.
Fracos em letra redonda, sabem todos honrar a grandeza verdadeira. E a prova é que o lá têm, a esse trágico inventor de tragédias, entronizado no coração das fragas, a receber o carinho eterno da terra onde foi menino e génio. Bateram-lhe realmente nas romarias, mas deram-lhe o maior bem que se pode ter:
O nome de Transmontano, que quer dizer filho de Trás-os-Montes, pois assim se chama o Reino Maravilhoso de que vos falei.

Janeiro 29, 2006

Variações 

Sobre o clássico!

No final do jogo, enviei um sms a um grande sportinguista, o Paulo José:
- E o que chove, hein?!
Resposta:
- Nunca vi nada assim!

Hoje, inevitavelmente a conversa andará à volta da neve, que cai um pouco por todo o país...
Incluindo Lisboa.. o que não deixa de ser um acontecimento!!

Janeiro 28, 2006

e porque hoje é sábado ( actualizado)* 


A relevância do verde, é fundamental!


O Benfica-Sporting, no ano do Centenário, é um jogo especial para os sportinguistas.

Também por isso merecem destaque as claques do Sporting Clube de Portugal:
A Juventude Leonina, uma das mais antigas claques organizadas da Europa, comemora 30 anos de amor incondicional ao clube.
A Torcida Verde e o Directivo XXI, pela contagiante alegria que emprestam a cada jogo com as suas coreografias, seja no XXI ou em casa do adversário.

O inferno da Luz atinge a expressão máxima quando o Sporting entra em campo, mas
só as claques leoninas conseguem verdadeiramente fazer os cabeçudos espumar de raiva.
Chamem-lhes o que quiserem. Ninguém em Portugal transmite tantas vibes nas bancadas dos estádios de futebol como as claques do Sporting. Não há volta a dar.


Na primeira volta, O Sporting ganhou 2-1.
O treinador dos cabeçudos diz querer agora "vingar-se"...

Ó filho! Também eu queria tanta coisa!


























Torcida Verde na Luz em 2005

















Torcida Verde a caminho da Luz, em 2004



* às 23:00

No final do jogo, o resultado foi Benfica, 1 - Sporting, 3

Na flash interview, o repórter da SportTV:
- Foi uma má exibição do Benfica, esta noite.

Treinador do Benfica:
- Si, no hemos estado bien..
ni antex de uno xero..
e sobretodo despox de uno xero, yo creo que xporting hay sido mucho mejor sobre el campo...
hay creado mas oportunidades..
e al final yo creo que el rexultado ex merecido.


Lapidar.


Janeiro 27, 2006

porque amanhã é sábado 


É perfeitamente irrelevante, usar o verde ou vermelho..

Janeiro 26, 2006

Descobertas à lupa! 


Um grupo de astrónomos afirma ter descoberto o planeta de características mais próximas às da Terra algum vez encontrado.

O OGLE-2005-BLG-390Lb está a uma distância de 28 mil anos-luz e situa-se na constelação de Sagitário, perto do centro da nossa galáxia, a Via Láctea.

Possui 5,5 vezes a massa da Terra e a temperatura na sua superfície deverá situar-se nos -220ºC.

A 390 milhões de km do centro - 3 vezes a distância da Terra ao Sol - a sua órbita demora cerca de dez anos.




A luminosidade da estrela, cujo desvio, provocado pela gravidade do planeta, funciona como uma lupa imaginária.

Resultado da observação a partir de cinco telescópios situados no hemisfério sul, esta importante descoberta foi obtida por via do fenómeno das lentes gravitacionais, pois poucas vezes se consegue identificar planetas em órbita com mais de 0,15 Unidades Astronómicas de distância do centro.
(1UA = distância da terra ao Sol).


O artigo completo, na Nature de hoje.


Janeiro 25, 2006

Cíclades 

A claridade frontal do lugar impõe-me a tua presença
O teu nome emerge como se aqui
O negativo que foste de ti se revelasse

Viveste no avesso
Viajante incessante do inverso
Isento de ti próprio
Viúvo de ti próprio
Em Lisboa cenário de vida
E eras o inquilino de um quarto alugado por cima de uma leitaria
O empregado competente de uma casa comercial
O frequentador irónico e cortês dos cafés da Baixa
O visionário discreto dos cafés virados para o Tejo

(Onde ainda no mármore das mesas
buscamos o rastro frio das tuas mãos
- O imperceptível dedilhar das tuas mãos)

Esquartejando pelas fúrias do não-vivido
À margem de ti dos outros e da vida
Mantiveste em dia os teus cadernos todos
Com meticulosa exactidão desenhaste os mapas
Das múltiplas navegações da tua ausência –

Aquilo que não foi nem foste ficou dito
Como ilha surgida a barlavento
Com primos sondas astrolábios bússolas
Procedeste ao levantamento do desterro

Nasceste depois
E alguém gastara em si toda a verdade
O caminho da Índia já fora descoberto
Dos deuses só restava
O incerto perpassar
No murmúrio e no cheiro das paisagens
E tinhas muitos rostos
Para que não sendo ninguém dissesses tudo
Viajavas no avesso no inverso no adverso

Porém obstinada eu invoco – ó dividido-
O instante que te unisse
E celebro a tua chegada às ilhas onde jamais vieste

Estes são os arquipélagos que derivam ao longo do teu rosto
Estes são os rápidos golfinhos da tua alegria
Que os deuses não te deram nem quiseste

Este é o país onde a carne das estátuas como choupos estremece
Atravessada pelo respirar leve da luz
Aqui brilha o azul – respiração das coisas
Nas praias onde há um espelho voltado para o mar

Aqui o enigma que me interroga desde sempre
É mais nu e veemente e por isso te invoco:
«Porque foram quebrados os teus gestos
Quem te cercou de muros e de abismos
Quem derramou no chão os teus segredos»

Invoco-te como se chegasses neste barco
E poisasses os teus pés nas ilhas
E a sua excessiva proximidade te invadisse
Como um rosto amado debruçado sobre ti

No estio deste lugar chamo por ti
Que hibernaste a própria vida como o animal na estação adversa
Que te quiseste distante como quem ante o quadro p’ra melhor ver recua
E quiseste a distância que sofreste

Chamo por ti – reúno os destroços as ruínas os pedaços –
Porque o mundo estalou como pedreira
E no chão rolam capitéis e braços
Colunas divididas estilhaços
E da ânfora resta o espalhamento de cacos
Perante os quais os deuses se tornam estrangeiros

Porém aqui as deusas cor de trigo
Erguem a longa harpa dos seus dedos
E encantam o céu azul onde te invoco
Onde invoco a palavra impessoal da tua ausência

Pudesse o instante da festa romper o teu luto
Ó viúvo de ti mesmo
E que ser e estar coincidissem
No um da boda

Como se o teu navio te esperasse em Thasos
Como se Penélope
Nos seus quartos altos
Entre seus cabelos te fiasse



Sophia de Mello Breyner Andresen,
evocando Fernando Pessoa

Janeiro 24, 2006

Agradecimento 



Janeiro 23, 2006

maispresidenciais2006.scp 


Em semana de Benfica-Sporting - o clássico dos clássicos - o capitão Sá-coração-de-leão-Pinto afirma que vamos à Luz para ganhar.
Obviamente que isto é um lugar comum. Sempre foi!
Será sempre assim contra os cabeçudos, respeitosamente...



Após sujeitar o seu projecto à apreciação do Conselho Leonino, que não deverá levantar problemas de maior, Filipe Soares Franco irá formalizar a sua candidatura na Assembleia Geral, a realizar em Março.
Uma das medidas que defende é precisamente a venda de património - em causa estão, nomeadamente, o Alvaláxia, a Clínica CUF e o Holmes Place - em conjunto com a diminuição do capital social da SAD, tendo em vista o aumento da capacidade desportiva do clube.




O Movimento Sporting Renovado (MSR), liderado pelo meu amigo Subtil de Sousa, vai patrocinar uma candidatura de ruptura que defenda o compromisso de o Sporting Clube de Portugal não alienar mais património.
Como parece que será Dias Ferreira o rosto da candidatura, certamente que as coisas vão começar a aquecer.. quer dizer, a subir de tom!

O próximo Presidente do Sporting deve ser, não de continuidade, com a carga negativa que alguns apontam, mas um factor de estabilidade continuada. É necessário reafirmar o projecto de sucesso iniciado com José Roquette; O sucesso relativo do ano passado, em que quase ganhámos tudo, não aconteceu por acaso, aconteceu por mérito.

A possibilidade de haver três candidatos às eleições de Maio, é útil para a discussão dos problemas e apontar soluções.
Sem prejuizo de outras eventuais candidaturas, Filipe Soares Franco será o meu Presidente.

Janeiro 22, 2006

Portugal venceu à tangente, por meio a zero 



À margem, três pequenas notas da noite eleitoral:

Desrespeitando a mais elementar regra da educação e bom senso, o secretário geral do PS falou ao mesmo tempo que Alegre-o-candidato-renegado, com o beneplácito das televisões.
Para agravar a coisa, revelou cobardia ao não assumir o acto.

Os candidatos que ficaram abaixo dos 10 pontos percentuais, explicaram nas suas patéticas declarações porque é que o futuro de Portugal não passa por aquilo que eles representam.

Por mim, prefiro ir ao CCB amanhã, como já aqui havia referido!

Janeiro 21, 2006

Postais de Lisboa 

clique para ampliar

Mapa de Portugal, desenhado com troncos de árvore e símbolo da UE no topo da escadaria frente à Assembleia da República, esta manhã.

a côr dos anjos: azul eléctrico 





A norueguesa - mais uma! - Anja Garbarek vai construindo o seu colar de sons.

Durante a juventude, acompanhou o saxofonista Jan Garbarek nas diversas digressões que o pai fez.

Inspirou-se em Brian Eno e Laurie Anderson para compor o emocionante Smiling and Waving.
A ouvir, os samples de The Diver, Spin The Context, You Know e And Then, aqui.

No seu mais recente trabalho Briefly Shaking, Anja acrescentou-lhe mais algumas pérolas: por exemplo, Still Guarding Space e My Fellow Riders.

Estes nórdicos dão-me a volta ao miolo!

Janeiro 20, 2006

Analema, ou paciência de santo 


O oito nesta fotografia é muito mais difícil de obter do que se possa imaginar.
O registo deste analema solar resulta da observação da posição do sol, à mesma hora do dia, durante um ano.
Da inclinação do eixo de rotação da Terra em relação ao plano da sua órbita elíptica em torno do Sol, resulta esta rara imagem, obtida pelo astrónomo amador Anthony Ayiomamitis, para o que utilizou a técnica da multi-exposição numa única película de filme.

Via Portal do Astrónomo.


Janeiro 19, 2006

Por exclusão das partes 

No artigo do Público de ontem e reproduzido pelo Eduardo Pitta no Da Literatura, Eduardo Lourenço entende que a campanha eleitoral tem sido pouco esclarecedora como perspectiva futurante.
Não concordo.

Cavaco e o renegado Alegre supra-partidários
A clareza nos discursos dos candidatos das esquerdas, demonstrada pela mais do que óbvia (in)dependência dos respectivos aparelhos partidários, evidencia a opacidade daquilo que são e representam.
Tendo em consideração que o que está em causa é a eleição do PR, a estratégia dos que só-são-candidatos-contra-Cavaco, retira-lhes qualquer possibilidade de merecer a minha atenção.

Não são os votos da esquerda e direita radicais que decidem eleições presidenciais

O mundo globalizou-se e o sonhador Soares, com um discurso deslocado no tempo, em sucessivas e frustradas tentativas de vestir a Cavaco o manto do fantasma da direita - como se ele representasse toda a esquerda em Portugal e Cavaco toda a direita - não conseguiu chegar ao milhão de eleitores que deu a maioria absoluta a Sócrates.

A Pátria não precisa de um pai, e muito menos de um padrinho.
Soares poderá não ter morrido politicamente. Mas já está enterrado.
Estamos esclarecidos nesta matéria.


Janeiro 17, 2006

Salomé 



Insónia roxa. A luz a virgular-se em medo,
Luz morta de luar, mais Alma do que lua...
Ela dança, ela range. A carne, álcool de nua,
Alastra-se para mim num espasmo de segredo...

Tudo é capricho ao seu redor, em sombras fátuas...
O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou...
Tenho frio... Alabastro! A minha´alma parou...
E o seu corpo resvala a projectar estátuas...

Ela chama-me em Íris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecoa-me em quebranto...
Timbres, elmos, punhais... A doida quer morrer-me:

Mordoura-se a chorar - há sexos no seu pranto...
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me
Na boca imperial que humanizou um Santo...



Mário de Sá-Carneiro


Janeiro 16, 2006

Um passarinho sussurrou-me ao ouvido: "RVG"!!! 

Ladies and gentleman, as you know we have something special down here at Birdland this evening... a recording for Blue Note records...


Interessante, ou melhor, simpático, era colocar em cd a selecção que se segue..
E oferecer aos amigos..
How about that?




Ornette Coleman - Live At The Golden Circle, Volumes 1 e 2
com David Izenzon e Charles Moffett
do volume 1, a ouvir os samples de 4.Dee Dee e 5.Dawn, aqui
do volume 2, a ouvir os samples de 2.Morning Song e 4. Antiques, aqui

Jimmy Smith - Cool Blues
com Lou Donaldson, Tina Brooks, Eddie McFadden, Art Blakey e Donald Bailey
a ouvir, o sample de 7.Small's Minor, aqui

Lou Donaldson - The Natural Soul
com Tommy Turrentine, Grant Green, John Patton e Ben Dixon
a ouvir, os samples de 3. Spaceman Twist e 4. Sow Belly Blues, aqui

Sonny Rollins - A Night At The Village Vanguard
com Donald Bailey, Wilbur Ware, Pete la Roca e Elvin Jones
do disco 1, a ouvir o sample de 4. Softly As In A Morning Sunrise (Alternate Take)

do disco 2, a ouvir os samples de 3.Sonnymoon For Two e 4.I Can't Get Started, aqui

Art Blakey - Moanin'
com Lee Morgan, Benny Golson, Bobby Timmons e Jymmie Merritt
a ouvir, o sample de 5. The Drum Thunder Suite,
aqui

John Coltrane - Blue Train
com Lee Morgan, Curtis Fuller, Kenny Drew, Paul Chambers e Philly Joe Jones
a ouvir, os samples de 1.Blue Train e 5.Lazy Bird, aqui

Sonny Rollins - Sonny Rollins, Volume 2
com J.J.Johnson, Horace Silver, Telonius Monk, Paul Chambers e Art Blakey
a ouvir, o sample de 3. Misterioso(Telonius Monk), aqui

McCoy Tyner - The Real McCoy
com Joe Henderson, Ron Carter e Elvin Jones
a ouvir, os samples 2.Contemplation e 4.Search For Peace, aqui

Clifford Brown - Memorial Album
com Lou Donaldson, Elmo Hope, Pearcy Heath e Art Blakey, entre outros
a ouvir, os samples 4.Brownie Speaks e 15.Minor Mood, aqui

Wayne Shorter - JUJU
com McCoy Tyner, Reggie Workman e Elvin Jones
a ouvir, os samples 2.Deluge, 3.House Of Jade e 6.Twelve More Bars To Go, aqui

Herbie Hancock - Empyrean Isles
com Freddie Hubbard, Ron carter e Tony Williams
a ouvir, os samples 2.Ololoqui Valley e 3.Cantaloupe Island, aqui

Thelonious Monk - Genius Of Modern Music, Volume 1 -
com Billy Smith e Art Blakey, entre outros
a ouvir, os samples 4.Thelonious, 8.Ruby My Dear, 9.Well You Needn't e 12.Introspection, aqui


Janeiro 15, 2006

Dois anos de Luminescências 


"Somos o que fazemos com aquilo que fizeram de nós."

Jean-Paul Sartre


Dois anos depois da descolagem, o prazer da viagem mantém-se.

Graças a esta ferramenta, tenho podido publicar sobre assuntos de interesse pessoal, algumas vezes para meu deleite, outras com o espírito de partilha.

É particularmente gratificante verificar que algumas pessoas têm nos seus blogs ligações para o Luminescências.

Porque o reconhecimento é um estímulo, tentarei continuar a merecer essa distinção.









clique na imagem para ampliar

Janeiro 14, 2006

Património Nacional - Amieira 


Situada entre Nisa e Portalegre, no Norte Alentejano, a povoação de Amieira pertence ao antigo Priorado do Crato.

Cercada por montes de relativamente baixa elevação, espraia-se em direcção ao Tejo por meio de charnecas e ribeiros.

Os nomes das ruas do Adro, do Açougue, do Arrabalde e a Travessa do Forno, que liga a Rua de Santa Maria à Rua da Barca, mantêm-se desde o século XVII, possivelmente o período de maior desenvolvimento da povoação.

Autêntico cartão de visita, o castelo avista-se de imediato na descida para esta bonita povoação, que merece maior vitalização pois, além da Sociedade Recreativa e da Casa do Pão (imagem abaixo) como fontes de entretenimento para os habitantes, não existe sequer um sítio onde o visitante possa almoçar.










Rua do Castelo
, que desemboca na praça fronteira ao castelo.






O Castelo de Amieira, mandado edificar em meados do séc. XIV pelo pai de D. Nuno Álvares Pereira, fazia parte da linha defensiva da margem sul do Tejo.
Durante o século XV chegou a ser utilizado como prisão.
Parcialmente destruido durante o terramoto de 1755, só durante o século passado foi alvo de significativas obras de recuperação, que ainda hoje continuam.






clique nas imagens para ampliar

Janeiro 10, 2006

a Arte do Trio 


Mehldau possui a luminosidade de Lennie Tristano, a emoção do mestre Keith Jarrett e a sensibilidade de Bill Evans.

Versatilidade, consistência e génio, são traços característicos deste apaixonante pianista de jazz.

No CCB a 10 de Fevereiro e a 12 no Porto.
A não perder.

A parceria:
Brad Mehldau, piano
Larry Grenadier, contrabaixo
Jeff Ballard, bateria

Na página oficial, podem ouvir-se itunes da discografia completa.




Excerto da informação na página do CCB:
Com formação clássica, mas desde cedo apaixonado pelo jazz, Brad Mehldau é considerado actualmente um dos mais geniais pianistas de jazz do mundo.
Influências tão variadas como Beethoven, Bill Evans, Schumann e Keith Jarrett fizeram com que Mehldau não criasse barreiras musicais.
Exemplos disso são as participações em várias bandas sonoras e a revisão pessoal de temas dos Radiohead, Beatles, Paul Simon e Nick Drake.
O trio formou-se em meados dos anos 90, editando o disco de estreia: «Introducing Brad Mehldau», em 1995.
É em formato trio que Mehldau explora a sua paixão pelo jazz, na vertente mais pura, do que são prova os álbuns intitulados «Art of the Trio», já com diversos volumes.

Participou nas bandas sonoras dos filmes «Meia-noite do Jardim do Bem e do Mal», de Clint Eastwood, «De Olhos Bem Fechados», de Stanley Kubrick e «Million Dollar Hotel – O Hotel» de Wim Wenders.
A sua admiração por áreas mais populares da música levou-o a reinterpretar temas dos britânicos Radiohead – “Paranoid Android” e “Exit Music (For a Film)” – e Beatles – “Blackbird”.


Janeiro 9, 2006

Presidenciais - leitura recomendada 


No número do primeiro trimestre deste ano, em plena campanha eleitoral para as Presidenciais, a revista Nova Cidadania aborda os Programas Eleitorais de Mário Soares, Manuel Alegre e Cavaco Silva.

Tópicos:

Cavaco Silva
As Minhas Ambições para Portugal:
É em nome deste conjunto de ambições para Portugal que, nos tempos difíceis que o País atravessa, considero necessária a minha candidatura a Presidente da República. Não nos podemos resignar: Sei que os portugueses são capazes, sei que Portugal pode vencer.
- Reforço da qualidade da nossa democracia
- Aproximação aos níveis de desenvolvimento da União Europeia e de Espanha
- Aumento da qualificação dos recursos humanos
- Melhoria da organização do território, da qualidade ambiental, do desenvolvimento cultural
- Construção de uma sociedade mais justa e solidária
- Portugal protagonista activo e credível na cena internacional
- Uma magistratura activa no respeito pelos poderes previstos na Constituição

Manuel Alegre
Contrato Presidencial - Razões da Candidatura:
Candidato-me por um Portugal que se diga no plural, uma Pátria que sois vós, uma Pátria que somos nós, um Portugal de todos. Este não é um projecto de descrença. É um projecto de reinvenção e de esperança.
- Uma sociedade de confiança
- Pátria e cidadania
- Contrato presidencial
- Cumprir e fazer cumprir a Constituição
- Qualificação e cultura de inovação
- Modernização da educação
- Uma diplomacia de paz
- Uma visão política da Europa
- Uma aliança de civilizações
- O novo papel da Forças Armadas
- Constituição e cidadania
- Magistério de proximidade e de exigência
- Com todos os portugueses e por todos os portugueses

Mário Soares
Estabilidade e Mudança:
Candidato-me com os olhos postos no futuro de Portugal. Confio no bom senso e no patriotismo dos Portugueses. Quero contribuir para acabar com as crispações e confrontações inúteis, cultivando o diálogo e os consensos possíveis e necessários para ultrapassar a crise.
- Uma visão política global
- Portugal tem de apostar no futuro
- O combate à crise
- Em defesa do sistema semipresidencial
- Portugal na Europa e no Mundo
- O futuro dos Portugueses
- Persuasão democrática
- Equilíbrio e estabilidade


Janeiro 8, 2006

A época de saldos começa hoje 

Até 22 de Janeiro.

Janeiro 7, 2006

Entre Deus e o Homem há uma diferença dos diabos 

E a maior de todas, é que Ele não dorme!


O homem sim, precisa descansar...
E isso faz toda a diferença!

Janeiro 6, 2006

Em dia de reis 

A Epifania que transformou as nossas vidas faz 14 anos.

Janeiro 5, 2006

Plagiar* não é copiar a direito** 




Façam o que eu digo, não façam o que eu faço.

* Plagiarism
** Copyright


Janeiro 4, 2006

prenda minha 

Recebi uma prenda inesperada este Natal:
O livro Duarte Mendonça: 30 anos de Jazz em Portugal.

Por ter sido editado recentemente, não conhecia;
A maior e agradável surpresa, no entanto, é verificar que não fazia ideia que tantos jazzmen tivessem passado por Portugal nas últimas três décadas.

O livro, da autoria de João Moreira dos Santos, constitui uma justa homenagem ao produtor Duarte Mendonça.

Recheado de muitas fotografias inéditas, este álbum de memórias é uma belíssima viagem pela história dos festivais de jazz em Portugal.

Obrigado ao JMS , pela paixão que lhe dedicou.
Um abraço à Maria João e ao Paulo Alexandre, que mo ofereceram.


Janeiro 2, 2006

Os meus filmes, em 2005 



Ocean's Twelve, de Steven Soderbergh

Saraband, de Ingmar Bergman

Closer - Perto Demais, de Mike Nichols

The Aviator - O Aviador, de Martin Scorsese

Vera Drake, de Mike Leigh





The Merchant of Venice - O Mercador de Veneza, de Michael Radford

Million Dollar Baby - Sonhos Vencidos, de Clint Eastwood

Mar Adentro, de Alejandro Amenábar

Sideways
, de Alexander Payne

House of Flying Daggers - O Segredo dos Punhais Voadores
, de Zhang Yimou





The Ring Two - O Aviso 2, de Hideo Nakata

The Assassination of Richard Nixon - O Assassínio de Richard Nixon, de Niels Mueller

Birth - O Mistério, de Jonathan Glazer

The Interpreter - A Intérprete, de Sydney Pollack

Downfall - A Queda: Hitler e o Fim do Terceiro Reich, de Oliver Hirschbiegel





Star Wars: Episode III, Revenge of the Sith - A Vingança dos Sith, de George Lucas

Sophie Scholl: The Final Days - Os Últimos Dias de Sophie Scholl, de Marc Rothemund

Sin City - A Cidade do Pecado, de Frank Miller/Robert Rodriguez/Quentin Tarantino

Batman Begins - Batman: O Início, de Christopher Nolan

Crash - Colisão, de Paul Haggis





War of the Worlds - Guerra dos Mundos, de Steven Spielberg

Charlie and the Chocolate Factory - Charlie e a Fábrica de Chocolate
, de Tim Burton

Cinderella Man - Cinderella Man, de Ron Howard

She Hate Me - Ela Odeia-me
, de Spike Lee

Doom - Doom: Sobrevivência
, de Andrzej Bartkowiak





Elizabethtown - Elizabethtown, de Cameron Crowe

Oliver Twist - Oliver Twist, de Roman Polanski

King Kong - King Kong, de Peter Jackson


Janeiro 1, 2006

Le Petit Prince - Antoine de Saint-Exupery 

Chapitre XXI

C'est alors qu'apparut le renard.
- Bonjour, dit le renard.
- Bonjour, répondit poliment le petit prince, qui se tourna mais ne vit rien.
- Je suis là, dit la voix, sous le pommier.
- Qui es-tu? dit le petit prince. Tu es bien joli...
- Je suis un renard, dit le renard.
- Viens jouer avec moi, lui proposa le petit prince. Je suis tellement triste...
- Je ne puis pas jouer avec toi, dit le renard. Je ne suis pas apprivoisé...
- Ah! Pardon, fit le petit prince.

Mais après réflexion, il ajouta :
- Qu'est-ce que "apprivoiser"?
- Tu n'es pas d'ici, dit le renard, que cherches-tu?
- Je cherche les hommes, dit le petit prince. Qu'est-ce que signifie "apprivoiser"?
- Les hommes, dit le renard, ils ont des fusils et ils chassent. C'est bien gênant! Il élèvent aussi despoules. C'est leur seul intérêt. Tu cherches des poules?
- Non, dit le petit prince. Je cherche des amis. Qu'est-ce que signifie "apprivoiser"?
- C'est une chose trop oubliée, dit le renard. Ca signifie "Créer des liens..."
- Créer des liens?
- Bien sûr,dit le renard. Tu n'es encore pour moi qu'un petit garçon tout semblable à cent mille petits garçons. Et je n'ai pas besoin de toi. Et tu n'a pas besoin de moi non plus. Je ne suis pour toi qu'un renard semblable à cent mille renards. Mais, si tu m'apprivoises, nous aurons besoin l'un de l'autre. Tu seras pour moi unique au monde. Je serai pour toi unique au monde...
- Je commence à comprendre, dit le petit prince. Il y a une fleur... je crois qu'elle m'aapprivoisé...



- C'est possible, dit le renard. On voit sur la Terre toutes sortes de choses...
- Oh! ce n'est pas sur la Terre, dit le petit prince. Le renard parut très intrigué :
- Sur une autre planète ?
- Oui.
- Il y a des chasseurs sur cette planète-là ?
- Non.
- Ca, c'est intéressant! Et des poules ?
- Non.
- Rien n'est parfait, soupira le renard.

Mais le renard revint à son idée :
- Ma vie est monotone. Je chasse les poules, les hommes me chassent. Toutes les poules se ressemblent, et tous les hommes se ressemblent. Je m'ennuie donc un peu. Mais si tu m'apprivoises, ma vie sera comme ensoleillée. Je connaîtrai un bruit de pas qui sera différent de tous les autres. Les autres pas me font rentrer sous terre. Le tien m'appelera hors du terrier, comme une musique. Et puis regarde! Tu vois, là-bas, les champs de blé? Je ne mange pas de pain. Le blé pour moi est inutile. Les champs de blé ne me rappellent rien. Et ça, c'est triste! Mais tu a des cheveux couleur d'or. Alors ce sera merveilleux quand tu m'aura apprivoisé! Le blé, qui est doré, me fera souvenir de toi. Et j'aimerai le bruit du vent dans le blé...

Le renard se tut et regarda longtemps le petit prince :
- S'il te plaît... apprivoise-moi! dit-il.
- Je veux bien, répondit le petit prince, mais je n'ai pas beaucoup de temps. J'ai des amis à découvrir et beaucoup de choses à connaître.
- On ne connaît que les choses que l'on apprivoise, dit le renard. Les hommes n'ont plus le temps de rien connaître. Il achètent des choses toutes faites chez les marchands. Mais comme il n'existe point de marchands d'amis, les hommes n'ont plus d'amis. Si tu veux un ami, apprivoise-moi!
- Que faut-il faire? dit le petit prince.
- Il faut être très patient, répondit le renard. Tu t'assoiras d'abord un peu loin de moi, comme ça, dans l'herbe. Je te regarderai du coin de l'oeil et tu ne diras rien. Le langage est source de malentendus. Mais, chaque jour, tu pourras t'asseoir un peu plus près...



Le lendemain revint le petit prince.
- Il eût mieux valu revenir à la même heure, dit le renard. Si tu viens, par exemple, à quatre heures de l'après-midi, dès trois heures je commencerai d'être heureux. Plus l'heure avancera, plus je me sentirai heureux. À quatre heures, déjà, je m'agiterai et m'inquiéterai; je découvrira le prix du bonheur! Mais si tu viens n'importe quand, je ne saurai jamais à quelle heure m'habiller le coeur... il faut des rites.
- Qu'est-ce qu'un rite? dit le petit prince.
- C'est quelque chose trop oublié, dit le renard. C'est ce qui fait qu'un jour est différent des autres jours, une heure, des autres heures. Il y a un rite, par exemple, chez mes chasseurs. Ils dansent le jeudi avec les filles du village. Alors le jeudi est jour merveilleux! Je vais me promener jusqu'à la vigne. Si les chasseurs dansaient n'importe quand, les jours se ressembleraient tous, etje n'aurait point de vacances.

Ainsi le petit prince apprivoisa le renard. Et quand l'heure du départ fut proche :
- Ah! dit le renard... je preurerai.
- C'est ta faute, dit le petit prince, je ne te souhaitais point de mal, mais tu as voulu que jet'apprivoise...
- Bien sûr, dit le renard.
- Mais tu vas pleurer! Dit le petit prince.
- Bien sûr, dit le renard.
- Alors tu n'y gagnes rien!
- J'y gagne, dit le renard, à cause de la couleur du blé.

Puis il ajouta :
- Va revoir les roses. Tu comprendras que la tienne est unique au monde. Tu reviendras me direadieu, et je te ferai cadeau d'un secret.

Le petit prince s'en fut revoir les roses.
- Vous n'êtes pas du tout semblables à ma rose, vous n'êtes rien encore, leur dit-il. Personne ne vous a apprivoisé et vous n'avez apprivoisé personne. Vous êtes comme était mon renard. Ce n'était qu'un renard semblable à cent mille autres. Mais j'en ai fait mon ami, et il est maintenant unique au monde.

Et les roses étaient gênées.
- Vous êtes belles mais vous êtes vides, leur dit-il encore. On ne peut pas mourir pour vous. Biensûr, ma rose à moi, un passant ordinaire croirait qu'elle vous ressemble. Mais à elle seule elle est plus importante que vous toutes, puisque c'est elle que j'ai arrosée. Puisque c'est elle que j'ai abritée par le paravent. Puisque c'est elle dont j'ai tué les chenilles (sauf les deux ou trois pour les papillons). Puisque c'est elle que j'ai écoutée se plaindre, ou se vanter, ou même quelque fois setaire. Puisque c'est ma rose.

Et il revint vers le renard :
- Adieu, dit-il...
- Adieu, dit le renard. Voici mon secret. Il est très simple : on ne voit bien qu'avec le coeur. L'essentiel est invisible pour les yeux.
- L'essentiel est invisible pour les yeux, répéta le petit prince, afin de se souvenir.
- C'est le temps que tu a perdu pour ta rose qui fait ta rose si importante.
- C'est le temps que j'ai perdu pour ma rose... fit le petit prince, afin de se souvenir.
- Les hommes on oublié cette vérité, dit le renard. Mais tu ne dois pas l'oublier. Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé. Tu es responsable de ta rose...
- Je suis responsable de ma rose... répéta le petit prince, afin de se souvenir.


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