Sábado, Junho 12

Aguarela de Pratt (II) 



Corto Maltese cruzou-se com muitas mulheres durante as suas aventuras, embora nenhuma tenha influenciado de forma decisiva o seu temperamento de solitário.

Mas por são as mulheres tão importantes na história deste marinheiro?
Talvez porque é um incorrigível romântico e não consegue resistir a uns olhos bonitos .

"C'est parce que tu ne ressembles à personne que j'aurais voulu te rencontrer toujours, n'importe où"


O Coito e a Sauna 



Melhor é foder primeiro, e então banhar.
Esperas que, curva, sobre o balde se ajeite
O traseiro nu miras com deleite
E tocas-lhe entre as coxas a reinar.

Mantém-na em posição, mas logo após
Assento no piço lhe seja permitido
Se duche quiser na cona, invertido.
Depois, claro, seguindo nossos avós,
Serve ela no banho.
As pedras põe a apitar
Com bátega rápida (que a água ferva)
Com tenra bétula te açoita e corado
Em balsâmico vapor mais esquentado
A pouco e pouco te deixas refrescar
Suando agora a fodança em caterva.

Poema de Bertolt Brecht, gravura de Pablo Picasso

Quinta-feira, Junho 10

Invocação às Ninfas do Tejo e do Mondego 

Do Canto VII de "Os Lusíadas", estâncias 78 a 87

Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego,
Eu, que cometo, insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego,
Por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tão contrário
Que, se não me ajudais, hei grande medo
Que o meu fraco batel se alague cedo.

Olhai que há tanto tempo que, cantando
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A Fortuna me traz peregrinando,
Novos trabalhos vendo e novos danos:
Agora o mar, agora experimentando
Os perigos Mavórcios inumanos,
Qual Cánace, que à morte se condena,
Numa mão sempre a espada e noutra a pena;

Agora, com pobreza avorrecida,
Por hospícios alheios degradado;
Agora, da esperança já adquirida,
De novo mais que nunca derribado;
Agora às costas escapando a vida,
Que dum fio pendia tão delgado
Que não menos milagre foi salvar-se
Que pera o Rei Judaico acrecentar-se.

E ainda, Ninfas minhas, não bastava
Que tamanhas misérias me cercassem,
Senão que aqueles que eu cantando andava
Tal prémio de meus versos me tornassem:
A troco dos descansos que esperava,
Das capelas de louro que me honrassem,
Trabalhos nunca usados me inventaram,
Com que em tão duro estado me deitaram.

Vede, Ninfas, que engenhos de senhores
O vosso Tejo cria valerosos,
Que assi sabem prezar, com tais favores,
A quem os faz, cantando, gloriosos!
Que exemplos a futuros escritores,
Pera espertar engenhos curiosos,
Pera porem as cousas em memória
Que merecerem ter eterna glória!

Pois logo, em tantos males, é forçado
Que só vosso favor me não faleça,
Principalmente aqui, que sou chegado
Onde feitos diversos engrandeça:
Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado
Que não no empregue em quem o não mereça,
Nem por lisonja louve algum subido,
Sob pena de não ser agradecido.


Nem creiais, Ninfas, não, que fama desse
A quem ao bem comum e do seu Rei
Antepuser seu próprio interesse,
Imigo da divina e humana Lei.
Nenhum ambicioso que quisesse
Subir a grandes cargos, cantarei,
Só por poder com torpes exercícios
Usar mais largamente de seus vícios;

Nenhum que use de seu poder bastante
Pera servir a seu desejo feio,
E que, por comprazer ao vulgo errante,
Se muda em mais figuras que Proteio.
Nem, Camenas, também cuideis que cante
Quem, com hábito honesto e grave, veio,
Por contentar o Rei, no ofício novo,
A despir e roubar o pobre povo!

Nem quem acha que é justo e que é direito
Guardar-se a lei do Rei severamente,
E não acha que é justo e bom respeito
Que se pague o suor da servil gente;
Nem quem sempre, com pouco experto peito,
Razões aprende, e cuida que é prudente,
Pera taxar, com mão rapace e escassa,
Os trabalhos alheios que não passa.

Aqueles sós direi que aventuraram
Por seu Deus, por seu Rei, a amada vida,
Onde, perdendo-a, em fama a dilataram,
Tão bem de suas obras merecida.
Apolo e as Musas, que me acompanharam,
Me dobrarão a fúria concedida,
Enquanto eu tomo alento, descansado,
Por tornar ao trabalho, mais folgado.


Quarta-feira, Junho 9

"bom dia, tiozinho.." 



Bom dia! E isto são horas de a menina chegar a casa?

Os Amigos Desconhecidos 



Quando ouvi onde ouvi este rosto vulgar e fatigado
estes olhos brilhantes lá no fundo
e este ar abandonado e inconformado
que aproxima?
Quando ouvi esta voz
que se eleva em surdina em meu ouvido e diz
frases tão conhecidas?

Quando foi que senti
estes dedos amigos nos meus dedos
este aperto de mão
tão comovidamente prolongado?

Não somos nós dois homens estranhos que se cruzam
com o mesmo passado
e com a mesma féria?

Ah dois amigos velhos que se encontram
pela primeira vez


Mário Dionísio


Terça-feira, Junho 8

Trânsito de Estrasburgo! 



Ainda não me tinha ocorrido, a propósito das Eleições Europeias, que a última vez que votei Portugal ainda não era membro da então CEE. Já passou algum tempo..!

As Eleições Europeias, como de resto à maioria das pessoas, têm-me passado ao lado..
Cada um tem as suas razões - falta de informação, de convicção, o que seja!

Não discuto a questão do dever cívico, da cidadania!

Mesmo que quisesse, nesta altura já não poderia votar, por razões técnicas. Mas sinto que começa a ser mais necessário que antes..
São 25 países com assento no Parlamento Europeu.. é sem dúvida essencial que tenhamos lá os que melhor saibam e consigam defender os interesses de Portugal, sejam de que partido forem.

Não é importante votar para exportar para os chatos de que nos queremos livrar. Não é importante votar porque as liberdades estão em perigo! Não é importante votar porque está em causa - já não está, a Constituição Europeia!

É importante votar para que as pessoas se sintam representadas onde cada vez mais o futuro colectivo se decide, e é bom que essa consciência ganhe forma rapidamente!

ANDA TUDO ANESTESIADO!

Sun Tzu on the Art of War  

II. WAGING WAR

1. Sun Tzu said: In the operations of war,where there are in the field a thousand swift chariots, as many heavy chariots, and a hundred thousand mail-clad soldiers, with provisions enough to carry them a thousand li, the expenditure at home and at the front,
including entertainment of guests, small items such as glue and paint, and sums spent on chariots and armor, will reach the total of a thousand ounces of silver per day.
Such is the cost of raising an army of 100,000 men.

2. When you engage in actual fighting, if victory is long in coming, then men's weapons will grow dull and their ardor will be damped. If you lay siege to a town, you will exhaust your strength.

3. Again, if the campaign is protracted, the resources of the State will not be equal to the strain.

4. Now, when your weapons are dulled, your ardor damped, your strength exhausted and your treasure spent, other chieftains will spring up to take advantage of your extremity. Then no man, however wise, will be able to avert the consequences that must ensue.

5. Thus, though we have heard of stupid haste in war, cleverness has never been seen associated with long delays.

6. There is no instance of a country having benefited from prolonged warfare.

7. It is only one who is thoroughly acquainted with the evils of war that can thoroughly understand the profitable way of carrying it on.

8. The skillful soldier does not raise a second levy, neither are his supply-wagons loaded more than twice.

9. Bring war material with you from home, but forage on the enemy. Thus the army will have food enough for its needs.

10. Poverty of the State exchequer causes an army to be maintained by contributions from a distance. Contributing to maintain an army at a distance causes the people to be impoverished.

11. On the other hand, the proximity of an army causes prices to go up; and high prices cause the people's substance to be drained away.

12. When their substance is drained away, the peasantry will be afflicted by heavy exactions.

13,14. With this loss of substance and exhaustion of strength, the homes of the people will be stripped bare, and three-tenths of their income will be dissipated; while government expenses for broken chariots, worn-out horses, breast-plates and helmets, bows and arrows, spears and shields, protective mantles, draught-oxen and heavy wagons, will amount to four-tenths of its total revenue.

15. Hence a wise general makes a point of foraging on the enemy. One cartload of the enemy's provisions is equivalent to twenty of one's own, and likewise a single picul of his provender is equivalent to twenty from one's own store.

16. Now in order to kill the enemy, our men must be roused to anger; that there may be advantage from defeating the enemy, they must have their rewards.

17. Therefore in chariot fighting, when ten or more chariots have been taken, those should be rewarded who took the first. Our own flags should be substituted for those of the enemy, and the chariots mingled and used in conjunction with ours. The captured soldiers should be kindly treated and kept.

18. This is called, using the conquered foe to augment one's own strength.

19. In war, then, let your great object be victory, not lengthy campaigns.

20. Thus it may be known that the leader of armies is the arbiter of the people's fate, the man on whom it depends whether the nation shall be in peace or in peril.

Segunda-feira, Junho 7

As mãos 


Que tristeza tão inútil essas mãos
que nem sequer são flores
que se dêem:
abertas são apenas abandono,
fechadas são pálpebras imensas
carregadas de sono.

Eugénio de Andrade

Domingo, Junho 6

around jazzy 



Marc Moulin - Top Secret
1. Into the Dark
2. What?
3. Bottle
4. Théo
5. Organ
6. In My Room
7. Tenor
8. Day Fever
9. It's to Say
10. Feet

Marc Moulin é uma referência no Acid Jazz. Influenciado por Miles Davis, Herbie Hancock, este pianista belga começou por tocar piano nos anos 60.
Nos anos 70 formou uma banda de jazz de fusão, os Placebo, que ganhou um prémio no Montreux jazz Festival em 1972.
Este álbum, de 2002, muito funky, com alguns grooves na onda de St Germain, é mais um bom trabalho na área do dance jazz. Gosto muito.


"I want to combine my preference for jazz with my passion for electronic music. There have always been artists at Blue Note in particular who have latched on to the more modern forms of popular music and who have adapted it to jazz. So I feel close to artists ranging from Miles Davis, Herbie Hancock and Eddie Harris to today's US3, Erik Truffaz and St. Germain". (Marc MOULIN)


Fascinação 

Os sonhos mais lindos sonhei,
De quimeras mil um castelo ergui,
E no teu olhar, tonto de emoção,
Com sofreguidão mil venturas previ...

O teu corpo é luz, sedução,
Poema divino cheio de esplendor,
Teu sorriso prende, inebria, entontece,
És fascinação... Amor!

F.D.Marchetti/M.de Feraudy.
- Elis Regina


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