Sábado, Maio 1

Atrás da cortina 


Está uma senhora jornalista que se chama Felícia Cabrita, que até veio do Expresso, que até acabou de aterrar na Grande Reportagem, que até deve conhecer o significado de ética, mas que tem atitudes que o Jorge Van Krieken do Repórter X relata na primeira pessoa!
Sugiro a leitura, bem como a audição da mensagem que a senhora lhe deixou no telemóvel.


AMAR! 



Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...


Florbela Espanca

SER POETA 



Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente!


Florbela Espanca

luminescente eterno 



" O dia que chegar chegou. Pode ser hoje ou daqui a 50 anos. A única coisa é que ela vai chegar"



tácticas de guerrilha 



Sexta-feira, Abril 30

Le Petit Prince - Antoine de Saint-Exupery  

CHAPITRE VI

Ah! petit prince, j'ai compris, peu à peu, ainsi, ta petite vie mélancolique. Tu n'avais eu longtemps pour ta distraction que la douceur des couchers du soleil. J'ai appris ce détail nouveau, le quatrième jour au matin, quand tu m'as dit:

-J'aime bien les couchers de soleil. Allons voir un coucher de soleil...

-Mais il faut attendre...

-Attendre quoi?

-Attendre que le soleil se couche.

Tu as eu l'air très surpris d'abord, et puis tu as ri de toi-même. Et tu m'as dit:

-Je me crois toujours chez moi!

En effet. Quand il est midi aux Etats-Unis, le soleil, tout le monde sait, se couche sur la France. Il suffirait de pouvoir aller en France en une minute pour assister au coucher de soleil. Malheureusement la France est bien trop éloignée. Mais, sur ta si petite planète, il te suffirait de tirer ta chaise de quelques pas. Et tu regardais le crépuscule chaque fois que tu le désirais...

-Un jour, j'ai vu le soleil se coucher quarrante-trois fois!

Et un peu plus tard tu ajoutais:

-Tu sais... quand on est tellement triste on aime les couchers de soleil...

-Le jour des quarante-trois fois tu étais donc tellement triste? Mais le petit prince ne répontit pas.


Domingo, dia 2 de Maio, é o dia da Mãe! 

É bonito, mas seria bom que neste dia pensássemos um bocadinho nos meninos que, um pouco por todo o mundo, por via das guerras, da fome, das doenças, perderam as suas mães.



Não lhes vão entregar desenhos bonitos, nem chocolates, nem flores!

A Uefa e o Comité Internacional da Cruz Vermelha, simbolicamente, têm uma campanha de sensibilização da opinião pública mundial, a propósito do Euro 2004.

Nós somos solidários!

Quinta-feira, Abril 29

a despropósito do Rock in Rio 



Se tivesse possibilidade, era capaz de tentar ver alguns destes espectáculos!

2 de Julho, Faithless

3 de Julho, Alicia Keys



4 de Julho, Cheap Trick / Deep Purple / Status Quo

5 de Julho, Korn

6 de Julho, BB King

7 de Julho, Phil Collins

8 de Julho, The Corrs

10 de Julho, Sean Paul

... e há mais!
Grandes férias!!!

conversa interior 

Pergunto-me porque quando abro alguns blogues começo a ouvir música.

Provavelmente pretende-se proporcionar uma navegação mais agradável!

Parto do princípio de que quem coloca música numa página, em primeiro lugar, gosta da música que coloca e a quer partilhar com os outros.

Aqui começa o problema.
É que normalmente a música é a mesma e os posts vão variando de conteúdo.
Mas pode ser somente uma forma de assinatura, e aí faz sentido.

Só pode!, pois a música, porque não é uma forma de linguagem associada ao pensamento do autor, não pode reflectir aquela pessoa.
Mas, mesmo sabendo que não conheço a pessoa, isso acontece.

Claro que posso retirar o som enquanto leio, mas aquilo que se trata é de um input.
Que eu posso rejeitar. Ok!



Por exemplo, se me apetecer ler uma revista ou o jornal enquanto ouço música, ou vice-versa, escolho a música de acordo com o estado de espírito do momento.
A verdade é que dificilmente acontece colocar um disco ao acaso!

Mas isso já é outra história!

porquê iluminado 

Recebi um mensagem por correio electrónico, à qual vou responder aqui:

Caro Iluminado
li um comentário seu e dei uma olhadela rápida no seu blog
fiquei curioso quanto ao nome que utiliza
porque Iluminado?
iluminado de iluminista?
iluminado como estando fora da caverna de Platão?
É apenas uma curiosidade mas se quiser dispender um pouco do seu tempo a satisfazê-la, eu agradeço.

Hugo Garcia



Caro Hugo,

Obrigado pela sua cortesia e curiosidade.

Iluminado, luminoso, luminescente, são termos que me são caros, por diversas ordens de razão.

Como facilmente constatará, o Luminescências está ainda num estado incipiente.

Parte de um conjunto de simplicidades que constituem as minhas sensações, que gradualmente vou partilhando, à medida que me vou familiarizando com esta comunidade, com pessoas e ideias com as quais me identifico - na poesia, na pintura, na música, na filosofia, nas matemáticas, no pensamento político.
E nas brincadeiras.

Bebo dos pensadores do Século da Luzes, daí ter surgido o Luminescências.

Iluminado é uma forma despretensiosa de me se sentir próximo de Descartes, de Rousseau, Newton.
Não me importa a reflexão sobre a fronteira entre a ética e a moral.
Somos todos livres-pensadores.

Luminosidades pareceu-me um termo simpático de apelidar as pessoas - cujos textos ou impressões de algum modo possam constituir pontos de contacto ou mesmo servir de ponto de partida para a abordagem de outros ângulos, tendo por base um pouco da minha forma de estar e de pensar.

Isto não tem nada de subterrâneo, como decorre da segunda parte da sua pergunta.
Acredito à partida, que por detrás de cada página está alguém com luz interior que, por via de um texto ou um comentário, certamente vai iluminar o espaço aparentemente feito de sombras que é a blogosfera.

Saudações.

Quarta-feira, Abril 28

paixão 

Começou então a última tortura…
Num grande esforço, procurei ainda esquecer-me do que descobrira - esconder a cabeça debaixo dos lençóis como as crianças, com medo dos ladrões, nas noites de inverno.
Ao entrelaçá-la, hoje, debatia-me em êxtases tão profundos, mordia-a tão sofregamente, que ela uma vez se me queixou.
Com efeito, sabê-la possuída por outro amante - se me fazia sofrer na alma, só me excitava, só me contorcia nos desejos…
Sim! sim! - aquele corpo esplêndido, triunfal, dava-se a três homens - três machos que se estiraçavam sobre ele, a possuí-lo, a sugá-lo!… Três? Quem sabia se uma multidão?… E ao mesmo tempo que esta ideia me despedaçava, vinha-me um desejo perverso de que assim fosse…
Ao estrebuchá-la agora, em verdade, era como se, em beijos monstruosos, eu possuísse também todos os corpos masculinos que resvalavam pelo seu.
A minha ânsia convertera-se em achar na sua carne uma mordedura, uma escoriação de amor, qualquer rastro de outro amante…
E um dia de triunfo, finalmente, descobri-lhe no seio esquerdo uma grande nódoa negra… Num ímpeto, numa fúria, colei a minha boca a essa mancha - chupando-a, trincando-a, dilacerando-a…
Marta, porém, não gritou. Era muito natural que gritasse com a minha violência, pois a boca ficara-me até sabendo a sangue. Mas o certo é que não teve um queixume. Nem mesmo parecera notar essa carícia brutal…
De modo que, depois de ela sair, eu não pude recordar-me do meu beijo de fogo - foi-me impossível relembrá-lo numa estranha dúvida…



Ai, quanto eu não daria por conhecer o seu outro amante… os seus outros amantes…
Se ela me contasse os seus amores livremente, sinceramente, se eu não ignorasse as suas horas - todo o meu ciúme desapareceria, não teria razão de existir.
Com efeito, se ela não se ocultasse de mim, se apenas se ocultasse dos outros, eu seria o primeiro. Logo, só me poderia envaidecer; de forma alguma me poderia revoltar em orgulho. Porque a verdade era essa, atingira: todo o meu sofrimento provinha apenas do meu orgulho ferido.
Não, não me enganara outrora, ao pensar que nada me angustiaria por a minha amante se entregar a outros. Unicamente era necessário que ela me contasse os seus amores, os seus espasmos até.
O meu orgulho só não admitia segredos. E em Marta era tudo mistério. Daí a minha angústia - daí o meu ciúme.
Muita vez - julgo, diligenciei fazer-lhe compreender isto mesmo, evidenciar-lhe a minha forma de sentir, a ver se provocava uma confissão inteira da sua parte, cessando assim o meu martírio. Ela, porém, ou nunca me percebeu, ou era resumido o seu afeto para tamanha prova de amor.

In «A Confissão de Lúcio» de Mário de Sá carneiro

Terça-feira, Abril 27

o que dizer 



de um disco que tenho ouvido durante mais de metade da minha vida?

de um dos grandes compositores contemporâneos?

da voz de Jon Anderson em So Long Ago, So Clear?

e da voz da Vana Veroutis?

que mais posso dizer sobre Heaven and Hell de Vangelis?

que é luminoso!



A vida não está fácil... 



em Madrid...




e em Lisboa, também não!

telejornal da RTP 

O repórter de exterior, um senhor Gomes, diz que, segundo decisão do Tribunal Administrativo de Lisboa, a Câmara Municipal foi hoje obrigada a suspender a construção do Túnel do Marquês, caso não elabore um estudo de impacto ambiental no prazo de dez dias.

E o directo é feito a partir da Avenida Joaquim Augusto de Aguiar!

Como a obra é nas Amoreiras, não podia estar a fazer o directo na Avenida António Augusto Aguiar, mas sim na Rua Joaquim António de Aguiar!

Devia ser dos nervos!

Segunda-feira, Abril 26

Aguarela de Pratt (I) 



A actual República do Haiti, descoberta por Colombo, ocupa a parte ocidental da ilha.
Em 1884, a parte oriental tornou-se independente, passando a chamar-se República Dominicana.

Para Hugo Pratt, a lha do Haiti chama-se Grande Antilha.

Colonizada pela Espanha, é cedida à França em 1697, através do tratado de Ryswick.
Torna-se então a colónia mais próspera e uma das mais ricas do mundo, bem como o maior mercado de tráfico de escravos.

Enquanto dura a Revolução Francesa, os escravos africanos, que tinham substituído a população indígena, dizimada pelos espanhóis, revoltam-se.
Toussaint L`Ouverture, escravo até aos quarenta e cinco anos, lidera o único caso de revolta de escravos com êxito em toda a História.

Em 1793 é abolida a escravatura.

Dessalines, em 1804, lidera a revolução haitiana e derrota o mais poderoso exército colonial da época, enviado por Napoleão.

O Haiti torna-se o primeiro Estado independente na América Latina.

Azenhas do mar 


Foto de Jorge Coimbra

o mar aroma
o casario das azenhas.
o próprio nome
na simbiose da gramática
numa percepção plena dos sentidos.

as casas
e a espuma a diluir
a tinta das paredes

longe
duas gaivotas soltas
na ponta de uma nuvem.


José Félix

Domingo, Abril 25

o meu dia 25 de Abril de 74 

Vivo na Avenida 24 de Julho, com vista para o Tejo e para o mercado da Ribeira.

Como habitualmente, por volta das 8.00 horas, atravesso a avenida para apanhar o eléctrico 25, em direcção aos Prazeres, e vejo alguns jipes do Exército a passar, quase em câmara lenta.
Estranho, pensei!
Tlim, tlim, é o eléctrico. Fico na rectaguarda, e pelo vidro traseiro, observo, ainda sem perceber o Movimento.
Vejo então que um jovem soldado, que deve ir entrar de serviço no Hospital Militar da Estrela, olha com a mesma curiosidade que eu para a rua.
Passa então um enorme tanque em direcção ao Cais do Sodré, e aí perguntei ao soldado "o que é que anda aqui a fazer um tanque no meio da avenida?". "Sei lá?", respondeu ele, com a mesma surpresa. Grande nabo, devo ter pensado na altura. Se é militar, devia saber.

Estou no 1º ano do Curso Industrial dos Salesianos.
Na habitual reflexão matinal antes do início das aulas, ritual que leva as turmas alinhadas para dentro da igreja, o discurso que já conhecemos de cor e que o director, o padre Maurício, pronuncia todas as manhãs, é substituído por: "Houve um golpe de estado, e há ainda alguma confusão, por isso hoje é melhor irem para casa!"
Grande festa, não há aulas!
Claro, não há regresso de eléctrico, mas sim a pé. Jardim da Estrela com eles!

Chego a casa já perto do meio-dia. A dona Cândida, mãe galinha, pergunta aflita "onde é que andaste?"
A seguir ao almoço, com a promessa de não me afastar de casa e não ir para além do jardim, tenho de alimentar a curiosidade.

Subo a Rua das Flores, pois a Rua do Alecrim está num alvoroço, e, chegado ao largo Camões, parece que vem tudo abaixo, com o tremendo barulho dos tanques que sobem a Rua da Misericórdia em direcção ao Carmo.

Por aqui não! Passo entre as igrejas do Chiado - a Brasileira ainda não sonha com Pessoa, subo a Serpa Pinto e.. Pum! Pum!, tiros de espingardas!
Espera aí, que isto não é para mim!
Desato a correr rua abaixo e só paro no Cais do Sodré. Meio desiludido por não ver o epicentro da coisa, ainda com vontade de voltar lá, mas algo mais forte me leva de volta a casa.

Da minha janela, vejo barcos da Marinha fundeados no meio do rio.
Acompanho a Revolução pela rádio e pela televisão.
Lembro-me do Spínola, por causa do monóculo, e do Américo Tomaz, conhecido pelo corta-fitas.

Pássaro das Ilhas 



Pássaros das ilhas: no vosso voo
há uma vontade,
há uma arte secreta e uma divina ciência,
graça de eternidade.

As vossas evoluções, academia expressiva,
sinais sobre o azul,
levam ao Oriente fantasia, ao Ocidente ânsia viva,
paz ao Norte e ao Sul.

Eis perante os vossos olhos
a glória das rosas e a inocência dos lírios,
eis perante as vossas asas líricas as brisas de Ulisses,
os ventos de Jasão:

Almas doces e herméticas que ante o eterno problema
sois, em número veloz,
o mesmo que a rocha, o furacão, a gema,
o arco-íris e a voz.

Pássaros das ilhas, oh, pássaros do mar!
vossos voos, sendo
bênção, dos meus olhos, são problemas divinos
da minha meditação.

E com as asas puras do meu desejo abertas
para a imensidade,
imito os vossos círculos em busca das portas
da Verdade única.



Rubén Dario
In, O Mar na Poesia da América Latina (Antologia)
Tradução de José Agostinho Baptista

This page is powered by Blogger. Isn't yours?