Sábado, Fevereiro 12

O Inimigo do Serviço Público 

A definição de Televisão de Serviço Público só tem nexo se integrada num contexto mais amplo da discussão em torno do melhor modelo, nas sociedades contemporâneas.
A noção clássica de Serviço Público é baseada numa concepção normativa de bem e numa visão suspeita das práticas comportamentais do cidadão comum, enquanto membro de uma organização política e social.
A questão reside em saber se tal visão é legítima numa sociedade Democrática Liberal, onde o indivíduo é sublimado e nenhuma noção de bem ou de correcto deve ser imposta à comunidade!



O satírico O Inimigo Público atingiu o ponto de maturidade que lhe permite sair do suplemento semanal das sextas-feira do jornal Público e estreou esta noite na SIC, demonstrando mais uma vez a capacidade criativa da irreverente equipa das Produções Fictícias.

Da primeira edição, destaco a peça sobre o novo avião A380 e a declaração de Bin Laden.

Notícia da pivô Ana Rita Clara:
- Quem também se mostrou satisfeito com mais esta mostra de vitalidade da indústria aeronáutica, foi o Director Geral da Al-Qaeda, o terrorista anteriormente conhecido por Osama Bin Laden, que, em declarações surgidas no site da Al Jazeera e no site do Bloco de Esquerda, os dois órgãos oficiais da Al-Qaeda, manifestou todo o seu contentamento:

Declaração de Bin Laden:

- Allah aprova esse condor dos ares que pode transportar mais de 800 infiéis.
Com 70 metros de comprimento, 64 metros de envergadura, 20 metros de altura, 560 toneladas de peso, o novo A 380 é um sonho para a organização, melhor do que 70 virgens da Look Elite, um sonho doce como uma tâmara e como a Marisa Cruz.
Com um mínimo de 850 mortos já assegurados, não temos mais necessidade de atacar arranha-céus, podendo focar a nossa atenção em alvos simbólicos e artísticos do Ocidente, como a Torre Eiffel, a Torre de Londres, o Guggenheim de Bilbao, o Parque Mayer, o espólio de vestidos do Augustus, a biblioteca do Pacheco Pereira na Marmeleira, a colecção de perucas do grupo Seiva Trupe e a pila do Cargaleiro que está no Parque Eduardo VII.
Já temos 10 mártires que se prontificaram para morrer por
Allah , dirigindo o novo A 380 ou lendo o último romance de Lídia Jorge.
No paraíso vão encontrar 70 jovens que tecnicamente são virgens, pois têm ainda o hímen intacto, somente tendo praticado sexo oral, anal e masturbado os seus inúmeros parceiros. Hoje em dia é o que se arranja!


A não perder!

Quinta-feira, Fevereiro 10

Porque há coisas que gostava de saber.. 



Bucólica

A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.


Miguel Torga

Quarta-feira, Fevereiro 9

O espaço não público 



[...]Trinta anos depois do estabelecimento da democracia, como funciona o espaço público em Portugal?
A constatação imediata é a de que não existe. Está por fazer a história do que, nesse plano, se abriu e quase se formou durante os anos «revolucionários» do pós-25 de Abril, para depois se fechar, desaparecer e ser substituído pelo espaço dos media que, em Portugal, não constitúi um espaço público.
Como definir esse espaço aberto de expressão e de trocas, essencial para que a liberdade e a criação circulem num campo social? Determinemos primeiro como se manifesta a sua ausência na sociedade portuguesa.
Não há debate político: nem sequer na televisão que cria um espaço artificial, com regras predeterminadas que limitam a espontaneidade das intervenções, o acaso, e a participação desse «fora» que faz toda a riqueza da expressão pública. Nos jornais e na rádio, os debates confinam-se a troca de opiniões e argumentos entre homens políticos, sempre de um partido, visto que no mundo da política não há lugar para independentes, ou entre comentadores, pretensos «opinion makers» que dialogam constantemente entre si, em círculo fechado. Muitos dos políticos são também comentadores, fazem o discurso e o metadiscurso, o que suscita um circuito abafador e redundante: sempre as mesmas vozes e a mesma escrita nos mesmos tons, com os mesmos argumentos, com o mesmo plano de sentido, como se as ideias políticas se reduzissem a um empirismo sociológico de estratégias partidárias.
Se a política é «chata» em Portugal, se os portugueses estão «fartos dos políticos», isso não se deve apenas à sua incompetência, mas também ao próprio universo do debate político em que nada de novo, de inovador, de diferente, de forte, de original e estimulante surge para abalar os espíritos. O discurso político tem por função legitimar políticas ou projectos políticos e o metadiscurso confirmar essas legitimações. Confirmar, confirmar: eis para que se acumulam toneladas de argumentos e de pseudo-ideias mais ou menos subtis.
Quanto a uma abertura para fora – quando o peso da Europa Comunitária nas decisões do governo português é maior do que nunca – pode perguntar-se qual é a presença da questão europeia nos «debates» políticos nacionais?
Não há espaço público porque este está nas mãos de umas quantas pessoas cujo discurso não faz mais do que alimentar a inércia e o fechamento sobre si próprios da estrutura das relações de força que elas representam. Os lugares, tempos, dispositivos mediáticos e pessoas formam um pequeno sistema estático que trabalha afanosamente para a sua manutenção.

José Gil
Portugal, Hoje - O Medo de Existir
Relógio d'Água, 3ª edição, 2005

"The way of the future... the way of the future... the way of the future..." 


A partir de agora, sou Mr. Hughes!

The Aviator

Director - Martin Scorsese

Leonardo DiCaprio - Howard Hughes
Cate Blanchett - Katharine Hepburn
Kate Beckinsale - Ava Gardner
John C. Reilly - Noah Dietrich
Alec Baldwin - Juan Trippe
Alan Alda - Senador Ralph Owen Brewster
Ian Holm - Professor Fitz
Danny Huston - Jack Frye
Gwen Stefani - Jean Harlow
Jude Law - Errol Flynn
Adam Scott - Johnny Meyer
Matt Ross - Glenn Odekirk
Kelli Garner - Faith Domergue
Frances Conroy - Mrs. Hepburn
Brent Spiner - Robert Gross



O Aviador de Scorsese é um filme longo - 170 minutos, mas para quem gosta de cinema é um bom momento de entretenimento.
É mais um grande filme do realizador de Casino, O Cabo do Medo, Tudo Bons Rapazes, Histórias de Nova Iorque...

DiCaprio surpreende pela positiva. Já tinha gostado dele em Apanha-me se Puderes, mas demonstra, pelo profundo trabalho de investigação que fez para este papel, que podemos esperar deles grandes coisas.
A excentricidade de Howard Hughes, o multimilionário amante da vida e dos sonhos impossíveis, é muito bem trabalhada por DiCaprio, que, juntamente com Scorsese, merecem os holofotes na noite dos óscares.



A análise dos críticos pode ser encontrada aqui e aqui!

Terça-feira, Fevereiro 8

As tuas mãos 

Foto de Paul Grant Cutright

Quando as tuas mãos, amor,
procuram as minhas,
que me trazem em seu vôo?
Por que se detiveram
na minha boca, de súbito,
por que é que as reconheço
como se já antes
as tivesse tocado,
como se antes de existir
tivessem percorrido
a minha fronte, a cintura?

A sua suavidade
voava sobre o tempo,
sobre o mar, sobre o fumo,
sobre a primavera,
e quando puseste
as mãos no meu peito,
reconheci essas asas
de pomba dourada,
reconheci essa greda
e essa cor de trigo.

Passei os anos
da minha vida a procurá-las.
Subi as escadas,
atravessei os recifes,
levaram-me os comboios,
as águas me trouxeram,
e na pele das uvas
imaginei tocar-te.

De repente a madeira
trouxe-me o teu contacto,
as amêndoas anunciavam-me
tua secreta doçura,
até que as tuas mãos
em meu peito se fecharam
e ali como duas asas
terminaram a viagem.


in Os Versos do Capitão, de Pablo Neruda
Tradução de Albano Martins


Segunda-feira, Fevereiro 7

Que dor de cabeça! 


Posted by Hello Clique na imagem para ampliar a dor!


enviem-me para o exílio.. pode ser uma ilha no Pacífico! 



As eleições para os órgãos do poder político são, na sua substância, o processo de legitimação dos representantes a quem são delegados poderes pelo voto popular.

A não participação neste processo tende a ser desvalorizada, por via da consolidação de sistemas como o americano, em que a desafectação dos cidadãos ao sistema democrático, embora elevada, não o coloca em risco.

Ora, os desafios que se colocam hoje às sociedades vão muito para além da legitimidade que advém dos actos eleitorais. A participação política dos cidadãos não se esgota - e muito menos começa aqui!
O exercício da cidadania faz-se através da intervenção em grupos, associações, apresentando propostas, que, de forma aparentemente invisível, contribuem para algumas mudanças significativas na sociedade.
Isto é tão mais verdade quanto mais consolidadas são as democracias estáveis.
No caso português, é inegável o aumento da abstenção na última década.
Tem variado entre os 30 e os 40%, tendo ultrapassado os 50% nas eleições para o Parlamento Europeu!

A falta de qualidade dos políticos, de um modo geral, a volatibilidade do voto conjuntural - a diluição do posicionamento entre direita e esquerda, têm acentuado a tendência para o descrédito das instituições democráticas.

Medina Carreira disse esta semana que não vai votar em nenhum dos dois partidos da área do poder. Será um reflexo desta análise?

A abstenção não tem uma leitura única:
- Protesto individual consciente, face à leitura dos programas partidários.
- Origem estrutural, com base no nível de politização dos conflitos sociais e do papel do Estado na mediação desses conflitos, que tendem para uma menor necessidade/vontade de participação activa do indivíduo.
- O sitema utilizado - O Método de Hondt, que consiste na repartição dos mandatos pelos partidos, proporcionalmente à importância da respectiva votação, é cada vez mais questionado, por razões que vão desde a importação para um determinado círculo eleitoral de representantes oriundos doutros círculos à distorção que representa, no sentido em que o eleitor não se sente representado.

Faz lembrar as transferências de jogadores de futebol, que quando chegam ao Benfica ou ao Sporting, dizem que eram adeptos do clube desde pequeninos!

A última vez que votei foi em 1985! Passei ao lado de uma grande carreira...

Ah! Já me esquecia..

Se não devo abster-me de votar nas eleições, é eticamente aceitável que leis e até programas de governo sejam aprovados na Assembleia da República com a abstenção de alguns/muitos deputados?!


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